sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Post 8: Sobre Esmalte, Maconha e Lance de Dados.



Durante um ensaio, o Gael (García Bernal) andava vendado por um corredor cheio de lixo cenográfico quando pisou num tubinho circular. Abaixou-se, pegou o volume sob seus pés e sem saber do que se tratava, desrosqueou a tampinha e cheirou. Era esmalte. Teve um impulso de passar na unha, mas se conteve. Esta pequena experiência casual modificou a linha de seu personagem e, com isso, o filme todo.

Convidei o Gael para fazer o papel do Rei da Camarata 3 porque imaginei que ser ia mais surpreendente um vilão boa pinta, com cara de garotão inofensivo. Já haviam me dito que ele é um ator que costuma interferir bastante na criação de seus personagens e essa foi mais uma razão para chama-lo. Gosto de ouvir idéias alheias e as uso sempre. Quando a gente coloca fichas no inesperado, ele acontece. Paguei para ver.

O Gael chegou no Canadá só em nossa terceira semana de filmagens, e foi no seu primeiro dia de ensaio que ele pisou no tal vidrinho. Ao cheirar o esmalte, pensou que o mesmo poderia acontecer com seu personagem e, portanto, o Rei da Camarata 3 poderia perfeitamente estar com as unhas pintadas na cena onde promove uma orgia com as mulheres das outras camaratas. Achei a idéia meio esquisita, mas dei corda. Não queria cortar a onda dele no nosso primeiro dia de trabalho. Quando a Micheline, maquiadora, soube disso veio me perguntar se eu queria mesmo pintar as unhas dele de vermelho. Minimizei:
“A cena é escura, nem vai dar para ver direito. Allons y*”
(* “Vamos nessa”, em francês. Ela é de Quebec)

Para que o personagem não fosse confundido como uma drag-queen em potencial, ou para que o espectador não achasse que estivesse assistindo a “Má Educação-II” ao ver o mexicano com as unhas pintadas, antes de rodar a primeira cena do Rei pedi que ele encontrasse o esmalte por acaso, enquanto falava seu texto. A idéia era fazer o uso do esmalte parecer mais acidental e menos intencional. Só que ele foi muito mais longe e fez metade da cena mais concentrado no esmalte do que em seu texto. Achou o frasco, pegou, abriu, cheirou, passou o esmalte em cada unha, assoprou, esbarrou no vidrinho que caiu no chão, saiu procurando. Ia falando com os outros personagens completamente distraído, interessado apenas no esmalte. A cada tomada, ele acrescentava mais algum detalhe desta historinha paralela. O resultado ficou muito engraçado. O vilão cruel ficou parecendo um trapalhão que havia fumado três baseados, alheio ao sofrimento que estava provocando ao seu redor. Um cara mais irresponsável do que perverso e talvez por isso mesmo até mais assustador. Gostamos do resultado.

Uma vez encontrado este tom, resolvemos fazer as outras cenas do Rei na mesma direção. Com isso esse vilão meio xéu-bléu-bléu acabou virando o personagem mais cômico do filme. O espectador deverá detestá-lo por suas atitudes mas, ao mesmo tempo, poderá ter alguma simpatia pelo seu tom de moleque descompromissado. Humor é sempre um golpe baixo. Difícil resistir.

E foi assim que aquele pequeno incidente no corredor funcionou como um gatilho para que o Gael inventasse seu personagem. O tom encontrado trouxe oxigênio para a história e abriu um viés que não estava nem no roteiro e nem na minha cabeça no início das filmagens.

Lição do dia:
Criação é assim. Como um lance de dados, jamais abolirá o acaso.

92 comentários:

Pips disse...

Se ele fizer metade do que o Jack Nicholson fez em "Os Infiltrados" vai ser maravilhoso. Um vilão cômico, mas cruel. Sádico por assim dizer.

anyone but me disse...

Dois posts numa mesma semana? Oba!

Tanaka disse...

É muito interessante ler sobre o processo de criação do filme Blindness. Processos de criação me interessam bastante, a origem das ídeias é algo fascinante. Em particular aprecio processos orgânicos de criação e me pareceu por este post que vc também os aprecia. Parabéns, o acaso é de fato a mãe da genialidade (o pai é todo o suor necessário para transferir da cabeça para o mundo, mas esta é outra história...)

Daniell disse...

Nossa, estou cada vez mais fascinado com esse blog, esse processo de construção dos personagens que você narra vai enriquecer muito quando eu estiver assistindo a obra pronta. Gosto muito de ver diretores que dão importância aos processos criativos dos atores e suas improvisações, para béns Fernando!
www.monolito.org

Unknown disse...

Estou surpreso!
Um diretor de cinema, parecido com um diretor de teatro ( e olha que tem muito diretor de teatro inquisidor por aí!).
Em outro post, vc disse que era profissão de maluco...mas vc gosta desses loucos, não é mesmo? Rsrsrsrs...
Fantástico.
Abçs

Ela reflete lilás disse...

Fantástico!!!
Quais os dias das gravações em São Paulo?

André Renato disse...

Olá! Achei bem legal a preocupação com os múltiplos vieses da história a serem contemplados no filme. No meu blog de cinema e literatura, coloquei um trecho do "Ensaio Sobre a Cegueira" que é muito cinematográfico e fiz alguns comentários.

www.sombras-eletricas.blogspot.com

Abraços!

SB disse...

Ronaldo Entler, um jovem fotógrafo e meu professor dedicou-se a estudar o acaso nas mídias digitais. Há um tempo atrás ele lançou um site em busca desta poética.
E meu trabalho nessa direção foi um ensaio fotográfico onde tudo de muito perto eu fotografava contornos fetais. Está aí inclusive o granulo primordial de Labirinto.
Quando você fez a produção executiva de Não por Acaso, do Barcinski, me propus imediatamente a este conflito.
E aí? E aí que tem esmalte e tem Alice – qual Alice? Braga ou Andrade? E rosa ou azul.
Acaso seria a pouca memória? Ou os momentos em que somos menos mecânicos? Por que logo em seguida temos a intenção de darmos sentido ao acaso. Quando somente ao acaso, no CIMO ficamos a mercê...natural, então propomos um sentido ao acaso: vermelho.
Criação: e quando vemos a criança?

Sonia Bacha - SB

Gleydson disse...

ÊÊÊÊBAAA!!! 2 posts em uma semana!!!

Que filões você tem à mão, hein? Julianne Moore e Gael Bernal! Com tudo isso dá vontade mesmo de só ficar olhando os caras descarregando toda a veia criativa... Lembro daquele outro post que você falou da cena da Moore que 'tava "exagerada". Rerererererere...

Claro que você deve ter um limite para "fugas de roteiro", mas se tem fita no rolo, porque não tentar mais, né?

Parabéns de novo Fernando! Blog 10!

Markely Leal disse...

Fotos do site: http://markruffalobrasil.sites.uol.com.br/Mark_no_Brasil_Blindness.html

Montagem especial c/ efeito:

http://www.slide.com/r/HMvSTT8BxT8FtYs6tzprmKTqW0QQ-1oG?view=original

Unknown disse...

Parece-me que já acabaram as filmagens. Mais tempo, mais posts.
Recordar é viver, ainda mais quando nossas lembranças interessam a outras pessoas.

Bom descanso!

GOM disse...

este blog é melhor que dvd pirata. a cada post tenho mais vontade de ver o resultado nas telas...

M disse...

Muito bom poder "participar" de todo este processo de criação, tentar ver o filme com os teus olhos e não mais com os nossos, quando lemos o livro.
Simplesmente maravilhoso!!

Unknown disse...

não sei se pode sair falando, mas ouvi uma noticia que filmarão denovo dia 17 de outubro....mas não é nada oficial...

e ta bom o blog Fernando, mas o rei da camarata 3 cômico?? só vendo mesmo....é legal isso porque o filme não será apenas uma copia do livro, o filme terá sua personalidade, mas isso eu não tinha imaginado....vilão comico, dependendo de quando lançarem o filme vão compara-lo ao Coringa do Batman haha...

Nathalie disse...

Não gosto da idéia de dar ar cômico para o personagem que no livro é tão maquiavélico e sórdido.
Inclusive na hora que ele é assassinado, o leitor sente satisfaz com a atitude da mulher do médico. Mas é tarde demais para sugestões. Vamos ver o que será o Rei!
Estou anciosa para a ver qualquer parte que seja do filme!

Jacqueline Monteiro disse...

Fernando! A cada post seu fico mais ansiosa pra ver o resultado disso no filme!!! Sua maneira de narra cada detalhe, cada cena me fascina!! Parabéns mil vezes!!!

Maria Clara disse...

Eu também fiquei meio receosa com isso de dar um toque cômico ao vilão, mas se o Diretor gostou do resultado deve ter ficado bom, porque o Fernando acerta geralmente em tudo que faz.
Com certeza isso vai humanizar o personagem, que no livro é ruim como o cão, e não um jovem simplesmente irresponsável tentando tirar (maquiavelicamente) proveito de uma situação.
Achei genial a escolha do Gael, que é bem bonito. É algo que nem passou pela minha cabeça quando eu li o livro, que aquele vilão pudesse ter uma boa aparência.
Tô muito ansiosa por esse filme!!!!
Parabéns pelo blog, é de muita generosidade com o seu público, Fernando!

Vinicius Maciel disse...

um pouco estranho pensar na cena desse jeito (talvez eu precise de uns três baseados também para captar), mas isso só aumenta a curiosidade. Essa do esmalte e da tendência cômica não consegui "exergar" de forma palpável como aconteceu incrivelmente com as outras cenas que vc descreveu no blog. Mas, oops... o filme é sobre não exergar, né... deixa quieto...

não vejo a hora da estréia!
POR FAVOR, não deixem vazar pra internet antes de estrear!

Josy Mariano de Sá disse...

Tem papel de figurante na camarata do Gael?

Josy Mariano de Sá disse...

FERNANDO .. ESTOU FAZENDO UM DOCUMENTÁRIO PARA O MEU TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO EM COMUNICAÇÃO E ABORDO TRABALHOS MULTIMÍDIA COMO OS QUE VC TEM DESENVOLVIDO COMO EM CIDADE DE DEUS, OU O CROSS MEDIA DE ANTONIA, E ADAPTAÇÕES DE LIVROS PARA O CINEMA. PRECISO MUITO DE UMA ENTREVISTA SUA JÁ QUE SEUS TRABALHOS ESTÃO EM MAIS DE 1 CAPITULO DO MEU TRABALHO!...

André Gonçalves disse...

acho que você e gael (mais o charlone) formam uma dupla (uai, é trio!) espetacular.

um abraço.

Saulgarber disse...

Putz...!
Que bom que está esse blog!
Acho que nem vou precisar ver o filme... rsrs

Jess Fernandes disse...

Dois posts em uma semana é muito excelente! Só temos q agradecer a sua atenção para conosco e nosso desespero de fã.

Eu acho q esse filme será uma explosão q apenas o consagrará mais ainda. E mesmo que for metade do Constant Gardener ou Cidade de deus, ainda será sublime.

VALEU!!

(outra viciada no blog do Meirelles...que de acordo com meus amigos da FAAP q o encontraram fim de semana passado, é uma das pessoas mais fofas - e cheirosas! - do mundo!)

Ana Paula disse...

Eu tô a cada dia que passa mais dependente desse blog, tão encantada com o processo de criação do filme que decidi reler o livro... já tem uns 3 anos que eu li Ensaio Sobre A Cegueira (seguido por Ensaio Sobre A Lucidez) e esse livro foi uma espécie de soco na boca do estômago, transformou muito das minhas concepções... ver essa história fascinante sob um ponto de vista tão genial assim, tão lúdico... virou uma obrigação diária! Não deixo de conferir o blog por nada nesse mundo e tô mesmo MUITO ansiosa pelo filme... como já estive poucas vezes pra adaptações de obras literárias.
Beijos com muita luz e sucesso !!!!

Isadora Marinho disse...

É verdade, o Gael tá no elenco!!
Perdoadíssimo Fernando. Aliás, retiro aquele comentário "tiquinho triste por não ter feito o filme 100% verde e amarelo". Gael é SEMPRE ótimo. Um escândalo.Ele e a Julianne Moore compram qualquer patriotismo meu hehehe ;)

Eu sou atriz e simplesmente AMO quando vc fala sobre o processo criativo dos atores (como agora, com o lance do esmalte, e quando você contou da Julianne fazendo a cena do desespero).

Aliás, quem fez o seu casting mandou bem hein? Até a maravilhosa Sandra Oh faz uma pontinha, nossa, é muito luxo!!! :)

Bom demais ler o seu blog!

Unknown disse...

Que coceirinha no fundo do estômago de vontade de assistir.

André disse...

Ual. O Gael tem mesmo um potêncial como ator gigantesco, e esse potêncial multiplica-se quando a equipe é de qualidade e um diretor oferece liberdade como você o fez.
Parabéns pelo filme.

Danilo disse...

Caramba, Fernando, hoje vi o Mark Rufallo no filme Zodiaco e nas poucas cenas q consegui não pensar no desenrolar do filme, eu só pensava nele em Blindness. Acho que vou locar Boogie Nights pra ver a Julianne agora. Teus textos acima de qualquer outra coisa estão instigando muitíssimo a ver o filme. Espero q chegue logo nos cinemas pois tenho certeza esse filme será tudo, menos óbvio! E capricha no making of e nos extras pra gente ver quando chegar o DVD em 2009! Confio em ti!

Igor Visconti disse...

nunca abandone o acaso!

Markely Leal disse...

Vou dar uma de advogado do diabo, mas, é com a melhor intenção. Creio que, como Diretor, você deve ter cuidado com o "acaso" e também com o "deixar rolar". 1º) O esmalte mudou toda uma ótica em cima de um personagem que (acredito eu) jamais se importaria com esmalte e muito menos o usaria. 2º) Quanto à cena com a Juliane e Ruffalo que vc. comentou, creio que a quantidade de takes teria sido menor, se vc. tivesse feito um ajuste na interpretação de ambos. (isso envolve tempo e tempo é dinheiro. O que pensariam os produtores à respeito?)

Conclusão: Às vezes, os atores precisam do Diretor à frente, pois, passar do limite pode ser desastroso para a segurança do Ator e ele pode se perder no processo, comprometendo todo o Personagem e, às vezes, até a Obra toda, tornando-a uma colcha de retalhos.

Apesar do que falei, confio no seu julgamento e sei que saberá dosar bem esses "acasos". Afinal, quem assistiu Jardineiro Fiel, principalmente, sabe do que você é capaz. Mas, esse comentário serve para outros Diretores que leiam seu Blog.

Um abraço,

Markely

ROBNEY BRUNO disse...

EU NUNCA LI PAULO COELHO
Lendo os comentários deste blog, a primeira coisa que me vêm a mente,é que eu nunca li, e nunca vou ler Paulo Coelho. Quem, em sua perfeita sanidade mental, por mais fã que possa ser, ou de literatura ou de cinema, pode se colocar num nível tão inferior e deprimente (como vejo os comentários neste post), que ultrapassa a sua condição de fã, para endeusar um simples ser humano que não está fazendo nada além daquilo que deus lhe deu (pode ler com "d" minúsculo mesmo). Pausa para uma pergunta: fernando meirelles é ateu? - Ou seja, o cara só tá utilizando o seu talento, para produzir algo que melhore um pouco a humanidade. Sabendo disso, as vezes fico pensando o que seria de nós, se na hora H, Thomas Edson, tivesse desistido de inventar a eletricidade, ou se Bill Gates, não tivesse a dor de barriga que lhe fez cagar o windows. O que vale disso tudo, é que o fernando não se deixa influenciar por estes "elogios interesseiros", que aliás ele nunca vai ler, e toca os seus projetos com a humildade de sempre. Quanto ao Paulo Coelho? Que se fodam estes PCs da vida.
Robney Bruno
www.traktanafilmes.com

TuRmA dos QuebradO disse...

Faz um tempo q acompanho esse blog mas só agora resolvi comentar...
Muita massa Gael estar presente nesse filme ele é um ator e tanto n quanto o nosso Selton Melon, mas ele é bom.
Tenho certeza q dará td certo no filme...parabéns

R. Mota

Unknown disse...

engraçado... eu imaginava um vilão com cara e jeito de cafajeste total, asqueroso e feio... justamente por isso, queria as mulheres que não poderia ter em condições normais, por elas nem mesmo olharem para ele... assim o imaginei. Ao ler o livro, foi a minha primeira impressão desse personagem. Vi-me na situação das mulheres submetidas a ele e me arrepiei de repugnância. Bem, mas talvez você e o Gael tenham encontrado uma saída mais honrosa para a "de qualquer forma" imbecilidade humana.
Beijo e boa sorte mais uma vez

Ana Lanzoni

nana disse...

é este jogo de dar e receber que me faz ter tanto amor ao trabalho em cinema/teatro/por vezes televisão.

gosto muito dos seus relatos, fernando - obrigada pela partilha.

:o)

Felipe disse...

Interessantíssimo como sempre, eu estou com esse livro aqui em casa para ler faz alguns anos, mas acho que vou ver o filme antes de ler o livro. Quero ser surpreendido.

baratas disse...

Fernando, da maneira como narras as filmagens, passa-me a idéia de que no set ocorre muito da improvisação em cima de um texto-base. Baseado nisto, chegaste a pensar sobre quantas variantes um mesmo texto pode ter?
Coisas de rolivudi.
Saúde e paz, irmão.

www.baratas.tk

Doug disse...

Quero muito ver a Sandra Oh fazendo uma "ponta" no filme.
Nunca tinha ouvido falar muito sobre o livro, mas vou lê-lo só depois que ver o filme....

Meirelles escreve muito bem, qualquer livro que escrever será muito fácil e gostoso de ler...

Adoraria estar trabalhando com ele, mesmo que fosse para embrulhar lixo... espero encontrar a esquipe em SP ainda...

Jan disse...

Fernando,

Improvisos dão personalidade e autenticidade às obras, mas podem custar um distanciamento da mensagem original que, ao meu ver, é o que mais importa num filme como este. Enfim, espero que estes cacos do Gael só tragam mais humanidade a seu personagem, sem criar uma caricaturização o que seria lastimável por este ser um dos personagens mais interessantes da obra.

Um abraço e Bom trabalho

Jan

Unknown disse...

Fernando me dá um emprego !!! rssrsr
muito boa essa ideia de retratar o "dia-a-dia" das gravações.

Patty Diphusa disse...

Talvez com 3 baseados ele ainda tivesse pintado as unhas do pé e balbuciado algumas palavras sem sentido sobre a escuridão...
fiquei fora uma semana e já perdi dois posts? amei.

Antonio Carlos disse...

Ei fernando, ta muito legal o blog.
Vi as filmagens hoje e tirei uma foto contigo, era aquele cara que disse que resolveu fazer cinema depois de ter visto Cidade de Deus..

abraços
valeu por ter tirado a foto

Unknown disse...

vou precisar de uma clinica de reabilitação para curar desse vício no blog!
parabéns pelo excelente trabalho, mal posso esperar para ver o filme!

ju k disse...

Incrível! E eu que li o livro com a sensação de que o Rei era um tosco, um bruto não muito inteligente. Legal! Assim o personagem não fica flat. Só espero não gostar muito dele. Na real as passagens do livro que mais me fascinam são: (1) a garganta cortada (de "pequena morte" á morte mesmo!!!); (2) o encontro com cão das lágrimas. Mal posso esperar para vê-las no filme. Ps:Dava um dedo pra ser extra neste filme...Cheers.

Mata Hari disse...

Fernando, se me perdoa a supressão do nomen familiae- certa feita eu cheguei para almoçar num restaurante italiano no Alto de Pinheiros e lá estava você, talvez com amigos ou parceiros de trabalho- decerto familiares, era um domingo. Você me viu primeiro, deu-me aquele olhar que até os cegos [!] têm, meio tátil e tático, identificando quem passa, e pasmei. Sentei. Pasmada, ainda.

Instaurou-se um dilema meio desesperador em mim, porque - não sei se sente o mesmo em relação a alguém, é difícil demais separar criador e criatura. Cidade de Deus, na minha cabeça, é o Ano Domini do cinema brasileiro; agora temos a.C.D. e d.C.D..

Não é exagero, não, muita coisa que eu admirava muito, ou melhor, as poucas coisas que eu admirava com reservas, como o Nelson Pereira dos Santos, em Vidas Secas, por exemplo, e o legatário dele, o Walter Salles, em Central do Brasil, tornaram-se vetustas, insuficientes, superadas - Abril Despedaçado é hors concours, tudo bem.

Disse a mim mesma, já que eu estava acompanhada do meu namorado que só lê e assiste produções relacionadas direta ou indiretamente a veículos motorizados de quatro rodas - peço, inclusive que aborde o assunto em algum filme e quem sabe ele te conhecerá- what should I do???

Minha timidez e educação judaico-cristã me serviriam de freio- ABS, diria o namorado, supereficiente, o bom senso também- pô, importunar o cara in the middle of his meal, é meio nada a ver. Por outro lado, seria uma grande oportunidade de desenvolver um senso de oportunidade que não tenho nadica, still...

Sabia que não tinha, e continuo não tendo, ainda mais palms sweat and in person o poder de síntese e a feliz escolha das palavras necessários a dizer o que deveria ser dito, sem parecer uma babaca intrometida, puxa-saco, uma ordinary fan, ou sei-lá-o-quê....

Iria ficar reticente, ‘d definitely embarass myself, te encher, provavelmente, e nunca conseguiria dizer o que disse aqui e como disse, graças à maravilhosa tecnologia digital, the SHY girls best friend- em lugar dos diamantes.

Você é bom pra c..., Fernando, em tudo o que interessa para se fazer um filme de cinema. Numa anônima, se pode confiar.

Longa vida- e obra!


F., 26, concluinte de Direito, residente na Bahia.

Rogério Saliba disse...

Cada relato mais fantástico que o outro!

Mas eu não ficar sabendo que no domingo retrasado vocês já estariam filmando aqui em sampa, e no centro da cidade!!! foi algo a se lamentar eternamente...

Tão longe, tão perto!

Abs.

cahiers d'ailleurs disse...

ainda bem que você é um diretor sensível o suficiente a ponto de reconhecer detalhes aparentemente incertos mas bastante significativos. isso se reflete na maneira como você recria o livro. eu gosto do teu trabalho justamente por isso, essa liberdade criativa que transcende a obra original mas que não deixa de reproduzi-la.
teu blog tem sido muito importante pra mim; espero que um dia eu possa retribuir.
(vi outra nana por aí, portuguesa; eu sou a brasileira)

Unknown disse...

GRANDE Fernando!!!
Não estou aguentando de curiosidade para assistir Blindness... mas, tenho certeza que será ótimo. Por favor continue sendo caridoso e postando pelo menos 2 vezes por semana hehe...

Marcella Castro disse...

Ótima escolha. Gael é o máximo. Bjos

Daianna disse...

estou amando acompanhar todo o processo do filme, a reação dos atores em seus personagens...
Parabéns, tenho certeza que o filme será facinante!!!

Alexandre Masato disse...

Não há propaganda melhor que o diretor fazer um blog. E se o diretor escrer bem... Não entendam mal, mas o blog está funcionando melhor que trailer. Já estou com o dinheiro contado pro meu ingresso!
Outro dia sonhei que Gael estava aqui em casa, éramos amigos de infância.

Alexandre disse...

Poxa... moro super perto da ultima locação... mas fiquei sabendo muito tarde que o pessoal estava proximo ao metrô Sta Cecília... nao pude ir...
Uma pena, adoraria ver a Julianne Moore

Maurício disse...

Para um cinéfilo como eu, ler sobre o processo de criação de um filme é fascinante. Ainda mais fascinante é como o diretor, alguém obrigado a ter a visão do fime o tempo todo, descrever o processo de criação dos atores e atrizes que fazem parte do trabalho. Gael Bernal é um grande ator, assim como Julianne Moore e muitos outros do elenco e ter apenas uma pequena olhada em como criam suas personagens é muito interessante. Muito obrigado pelo Blog, Fernando.

L.A.O disse...

a primeira vez q eu vi o gael foi no crime do padre amaro e como moro em uma cidadezinha do interior e nao tinha dvd na epoca tive q ver dublado, e foi exatamente isto q mais me chamou a atençao a interpretaçao dele estava perfeita ate mesmo sob uma voz q nao era dele...

Cybelle disse...

Segunda-feira, 8/11 18h00, horas vindo da USP,caminho pela Paulista onde está ocorrendo o corredor literário e deparo com a exposição, na Fiesp, sobre o "Brasil Holandês".

Resolvo entrar (apesar do cansaço)e entre armas brancas, armaduras, mapas vejo vários quadros de Frans Post.

Como são bonitos os céus de Frans Post!

A -inédita - repetição de quadros - permite perceber uma certa esquematização, com pequenas variações. E, ao mesmo, tempo, uma busca de exatidão, de retratar uma flora e uma fauna que deveria, ao olhar europeu, parecer tão diferente!

O que olhava Frans Post? O que via Frans Post?

Se grande parte das pinturas foi feita depois da volta dele à Europa,ele pintou de memória? O quê o olhar da memória registra?

Saindo da Fiesp, vejo um grande aglomerado de pessoas na esquina da Av. Paulista com a Rua Pamplona,esquina tão banal,pela qual passo/passamos tantos de nós, diáriamente: há "marronzinhos", guindastes,luzes,cabos e as indefectíveis pessoas vestidas-de-preto-e-com-comunicadores.

Toda a sinalização está escrita em inglês, e até mesmo um taxi-amarelo está estacionando diante da "drugstore".

Do Recife holandês para a Av. Paulista em inglês??!

Era a filmagem de uma cena de Blindness...

Unknown disse...

A cada post, sinto mais vontade de ver este trabalho concluído. Um eterno admirador da arte que é o cinema, e do seu trabalho Fernando, não vejo a hora de assistir este excepcional filme. Acompanho toda as notícias, e de tão curioso estou lendo o livro. Fantástico o modo como o mestre Saramago utiliza a narração desta incrível história.
Acredito que nenhum cineasta estaria apto a adaptar esta incrível história ao cinema, a não ser você.
Uma tarefa difícil, mas que com certeza você está fazendo mais uma vez dignamente.
Continue postando, e nos informando sobre esta, que promete ser uma das maiores obras do cinema.
Abraços
Felipe

Navasques disse...

Fernando!! Talvez não se lembre, mas fui eu quem te deu "aquele" DVD no Domingo, espero que relativize.. Foi minha emoção em estar no set.. O DVD era para o Danny Glover hehehehe
A agenda foi OK.. tudo certo!!!
Li sua entrevista no Jornal Daqui, da Granja Viana, e coloquei uma pequena colaboração sobre as filmagens de domingo no Minhocão em um site de notícias aqui de Cotia também. www.cotiatododia.com.br
Todo o pessoal da comunidade Blindness do orkut ficou muito feliz em poder falar contigo no final das filmagens. VocÊ foi muit gente boa, tirando fotos, ainda dando conselhos, cara, você tem muita paciência mesmo!!!
Acho que foi muito generoso de sua parte usar as locações em São Paulo
Foi um presente prá sua cidade.
E para quem pode assistir...
Para mim parecia estar desvendando um truque de mágica. Juro mesmo. Parecia a cena do Edward Northon ensinando o truque da laranjeira em O Ilusionista...
Muito obrigada Fernando.. pela generosidade..
Um abraço
Olympia

Felipe Salomão disse...

Estive ontem coincidentemente na paulista e vi parte da gravação. Consegui tirar foto com a Alice Braga e com o Fernando (sem os olhos e a testa).
Experiência inesquecível!

Felipe Salomão disse...

Estava ontem na Paulista e vi parte das gravações. Tirei foto com a Alice Braga (muito simpática) e com o Fernando (acabei cortando a testa e os olhos).
Experiência Inesquecível!

Sol disse...

Quando estréia o filme???

Alisson Dutra disse...

Fernando durante entrevista Mike Newell (Diretor do filme: O amor no Tempo do cólera, inspirado na obra de GGM) disse: "Walter Salles foi de grande ajuda para mim no projeto. Ele conversou comigo ao telefone me dando dicas para que não viesse a estragar uma história que carrega o imaginário colombiano..." Acompanhou seu blog torcendo pelo sucesso de mais uma produção vinculada ao cinema brasileiro, mas percebo que algumas mudanças estão sendo realizadas na história original durante as filmagens. Compreendo que se trata de uma adaptação e não da representação literal da obra de Saramago, mas me pergunto: Tantas interferências manterão o caráter da obra literária em questão? Acredito que a sua direção, sempre segura e original, não estragará esta obra que carrega o imaginário português. A citação do trecho da entrevista de Mike Newell é apenas para lembrá-lo que quando adaptamos um clássico da literatura, temos que manter certa fidelidade, para não corremos o risco de desapontar seus leitores.

Unknown disse...

Fernando,

provavelmente vc não vai ter tempo de ler isso, mas te achei um cineasta interessante em "Domésticas" e brilhante em "Cidade de Deus", não só pelo filme, mas por sua atitude em buscar o Viva Rio pra promover cabines que corresponderam 1100% a todas as melhores expectativas.

Em o "Jardineiro Fiel" (título execrável), vc conseguiu ser fiel ao livro e a sua liguaguem, o que dá toda uma outra defiñição ao termo fidelidade.

No meu gostinho pessoal, "Ensaio Sobre a Cegueira" forma ângulos de 30 graus com "Dom Casmuro" e "Madame Bovary". A tríade da minha ficção dos sonhos e da minha inveja narrativa.

Vi muitas fotos de locação de "Blidness" em SP. Confesso que gostei de Julianne Moore, apesar de ter imaginado a mulher do médico mais velha - algo como Catherine Deneuve ou Meryl Streep. Mas nunca achei que nenhuma das minhas dreamed actress teria topado a cena do banho de chuva na varanda.

Essa é a cena-chave da história, a Julianne Moore/vc vão mantê-la? Diga-me que sim. Por favor, Fernando, essa é a cena em que a visão torna-se o menos valoroso dos sentidos e abre a possibilidade para o voltar a enxergar. Não a jogue fora.

Confio em vc, não deixe na mão uma grande fã de Saramago e sua.

Unknown disse...

Fernando,

provavelmente vc não vai ter tempo de ler isso, mas te achei um cineasta interessante em "Domésticas" e brilhante em "Cidade de Deus", não só pelo filme, mas por sua atitude em buscar o Viva Rio pra promover cabines que corresponderam 1100% a todas as melhores expectativas.

Em o "Jardineiro Fiel" (título execrável), vc conseguiu ser fiel ao livro e a sua liguaguem, o que dá toda uma outra defiñição ao termo fidelidade.

No meu gostinho pessoal, "Ensaio Sobre a Cegueira" forma ângulos de 30 graus com "Dom Casmuro" e "Madame Bovary". A tríade da minha ficção dos sonhos e da minha inveja narrativa.

Vi muitas fotos de locação de "Blidness" em SP. Confesso que gostei de Julianne Moore, apesar de ter imaginado a mulher do médico mais velha - algo como Catherine Deneuve ou Meryl Streep. Mas nunca achei que nenhuma das minhas dreamed actress teria topado a cena do banho de chuva na varanda.

Essa é a cena-chave da história, a Julianne Moore/vc vão mantê-la? Diga-me que sim. Por favor, Fernando, essa é a cena em que a visão torna-se o menos valoroso dos sentidos e abre a possibilidade para o voltar a enxergar. Não a jogue fora.

Confio em vc, não deixe na mão uma grande fã de Saramago e sua.

Marcelo Garcia disse...

Muito bom... dois posts em uma semana!!! To feliz. Não sei não, mas to com um pressentimento muito bom com relação ao Blidness: coisas que teriam tudo para atrapalhar as cenas e acabam melhorando-as, pessoas talentosas, criações inesperadas e boas a todo vapor, em fim, se analisarmos em quais filmes ao longa da historia esses fatos ocorreram, chegaremos a filmes maravilhosos e que entraram para historia. Engraçado sempre adorei filmes, mas com o Blidness é como se tivesse torcendo pelo Palmeiras em final de campeonato...rsrsrsr Oleeeee ole ole ole Blidneeeeeess Blidneeeeess !!!! Manda ver Fernando, nos estamos torcendo muito por você.

Paulo Vasconcellos disse...

"Criação é assim. Como um lance de dados, jamais abolirá o acaso."

É sua? Ou melhor, era? Podemos surrupiá-la e citá-la? Lógico, sempre registrando a fonte...

Parabéns. E muito obrigado pelo blog. Uma de minhas maiores fontes de inspiração dos últimos tempos. E olha que meu trampo não tem nada a ver com cinema e afins...

Abraços

Ana disse...

Gostei de saber que o Gael é o tipo de ator que ajuda na criação da personagem. E que bom, não sabia que ele iria interpretar o vilão. Acredito que o vilão cômico do Gael terá um bom resultado.
Adorei o blog! Parabéns Fernando!

Zoiudinha disse...

Olá Fernando,como hobbie escrevo textos cênicos ( monologos) baseados em estudos de psicanalise, programação neurolinguistica,análise comportamental,estados psicossomaticos...etc, ou seja, procuro dispir o "ser" em seu total,seria uma mistura de Nelson Rodrigues com Augusto dos anjos ( rsrsr!), e recentemente encenei alguns destes textos e gravei em um cd ( tudo muuuito caseiro), gostaria de saber se posso te enviar, pois quem sabe poderiam te ajudar a ter idéias sobre futuros personagens e estórias.Ficaria honrada, se vc pudesse assisti-lós,se desejar basta me dar algum endereço que te envio!
Desejo muita luz em teus caminhos e tua mente!

IDÉIAS SEM TETO disse...

Meireles, só por curiosidade: Agora filmando Blindness, bateu algum arrependimento de não ter ido àquele restaurante de cegos em Berlim para ter mais uma experiência que pudesse ser usada neste filme? Obs.: Acabei de comprar o livro, assim, com a história na mão, consigo imaginar melhor cada momento de sua produção. Abraços.
rogeriosouzafreitas@gmail.com

Unknown disse...

O processo de criação é importante tanto para o ator como para o filme em geral.É muito bom saber que o ator tem um espaço para sugestão além do roteiro programado e um diretor que apóia este processo ,talvez as grandes descobertas comecem numa improvisação durante um ensaio!O cinema tem que apoiar o imáginário do ator criador improvisador>PARABÉNS!
Priscila Dias - atriz SP

Unknown disse...

Oi Fernando,
delícia acompanhar este diário.
Acompanhei também do "Jardineiro fiel" pelo site "cinema em cena", e assistir ao filme depois, deu mais prazer.
Bom trabalho, afinal se me lembro bem, a parte da montagem e edição é a mais trabalhosa (não sei nada sobre o assunto,mas acho que foi o li no outro diário).
abraços

Mari disse...

Fernando,
Precisamos de um post essa semana!
Você nos vicia e depois larga de mão? ...rs

O livro é um máximo. Você é um máximo.. e trabalhar com Mark Ruffalo, my god.. :)

Sucesso. :)
Mari.

Iza disse...

Fiquei louca para ver!

Dênis Pagani disse...

o fernando meirelles é a nova gisele bundchen! :D

Unknown disse...

Meirelles, vou dizer algo diferente do que você lê neste blog.

Esse Gael é um atores mais exageradamente valorizados no Brasil ultimamente. Transformaram-no em "mimadinho" por aqui. Os jornalistas das editorias de cultura, infeccionados pela esquerdopatia que ultimamente é epidemia na área, deram pra fazer apologia artificial de tudo aquilo que é latino ou fale espanhol. Virou moda paparicar este ator mexicano, que até hoje não fez na-da que justifique tamanha badalação. É apenas um ator médio como tantos outros -- aliás, já está passando a "moda" de paparicá-lo. "Cansou".

Mas, claro, ele faz pose de moderninho, tem aquele ar blasé... E como crítico brasileiro se impressiona mais com pose do que o trabalho real, viu como é...

Até tu, Fernando?!

Tanto ator brasileiro interessante e você prefere escalar um ator latino e inúmeros anglófonos, com apenas uma única atriz brasileira em papel relevante, a Alice Braga? Nem mesmo um ator português (há vários excelentes)ou outro lusófono teve chance, apesar do autor ser de Portugal.

Sim, claro, claro, você pode escolher quem quiser, é óbvio. Poderia usar um elenco só de esquimós. Mas não deixa de denotar uma falta de prestígio do que é seu. Os americanos também podem usar quem eles querem, mas sempre preferem valorizar o que é deles. E mesmo aqueles atores estrangeiros em Hollywood acabam se adaptando à cor cultural local.

Aliás, o filme parece já pré-formatado ideologicamente. O autor é um conhecido e pré-histórico comunista que recentemente, e depois das glórias da fama do Nobel e o consequentemente enriquecimento, deu pra ensaiar declarações de arrependimento do apoio a facínoras como Fidel Castro. Talvez meio tarde mas... antes tarde do que nunca, não é o que se diz? O Danny Glover é um ator amigo de ditadores (Hugo Chávez e do Castro). Garcia Gael é outro idólatra do Che Guevara, aquele psicopata que assassinou inúmeros seres humanos apenas porque não compartilhavam do seu fanatismo ideológico. Entre outros detalhes.

Que tipo filme resultará? Veremos. Mas, como disse, parece já pré-formatado.

Torço pra que não seja cínico com o Diários de Motocicleta do Walter Salles que "optou" por mostra apenas o lado mais ameno da personagem Che Guevara. Aquele lado mais importante, o assassino e sádico, ele ignorou. Hehe... É como se um diretor "escolhesse" fazer um filme apenas sobre o Hitler pré-II Guerra. Óóó... Certamente resultaria num filme de herói, afinal só se soube o monstro que Hitler era na verdade depois que ele teve todo o poder nas mãos. Hitler só chegou ao poder porque encantou os alemães com a sua retórica lírica e apaixonada. Do mesmo jeitinho que Che Guevara e a mitologia em torno dele enganam.

O cinema brasileiro atualmente sofre de uma doutrinação. Diretores brasileiros, que começam interessantes, se deixam aliciar por aquela turminha que tenta fazer aqui um totalitarismo cultural travestido de cubano. Só quererem deixar florescer aquela produção e aqueles que lhes "interessam" e convergem ideologicamente. Não por acaso se fez tantas obras sobre um mesmo tema, a ditadura militar da década de 60/70, nessa lamentável gestão Lula. Revisionismo puro e acrítico quanto a um lado -- claro o lado dos guerrilheiros comunistóides, aqueles que não queriam democracia no Brasil e sim uma ditadura cópia de Cuba.

No Brasil carreiras brilhantes estão sendo amofinadas porque os cineastas, entre outros artistas, deixam de fazer o que realmente gostam ou querem e passam a produzir o que lhes é convencido como o "desjado", o "necessário", "social", "politicamente correto" entre outros tatibitates. Se pautam pela aprovação da crítica e não pelo aprovação popular. Se tornam reféns da aprovação e do bem-querer de uma turminha que se auto-designou como a definidora de "qualidade" da produção cultural brasileira.

É o que nós estamos vendo em relação ao ótimo Tropa de Elite, do José Padilha, por exemplo. Como o filme critica os universitários maconheiros e as ONGs amigas do tráfico, ele está sendo perseguido pela crítica esquerdóide, sendo tachado de direitista e fascista, embora na verdade o filme não poupe ningúem, nem a tortura praticada pelo Bope, nem a super-corrupta PM carioca, nem os inocentes-inúteis universitários.

Espero estar errado, Meirelles.

Atenciosamente,

Eduardo Silva
ecos14@gmail.com

Jan disse...

Meu Deus...

Como ainda tem gente que segue a leitura de Veja (e seu historicismo ANTI-CIENTÍFICO e MENTIROSO) com tal convicção que reproduz um discurso tão inorganicamente cadenciado quanto cliché... Uma lástima...

Ainda me vem com pensamentos entupidos de idéias xenófobas... tsc, tsc... O meu conforto é saber que esta é a minoria...

ROBERTO SCHULTZ disse...

Não concordo com quem "contraria as idéias contrárias" ao que é dito aqui. Gosto do Meirelles e sou eu um dos a enaltecer - no meu modesto blog de escritor desconhecido ou em conversas com amigos - o seu trabalho (e sobretudo a sua humildade, que transparece mesmo para quem não o conhece pessoalmente feito eu), assim como o Walter Salles, outro que parece ser um grande cara também na "vida real". No entanto, acho que esse negócio de só dizer "coisas bonitinhas" e elogiar fica muito Domingão do Faustão, em que todos os convidados são "o melhor e mais completo ator (ou Diretor)dos últimos tempos.." e por aí afora. Deixem as pessoas darem, também, a sua opinião contrária. Aliás, se não deixassem, o próprio Fernando teria excluído o comentário do (fake) "Eduardo Silva" aí. Em muita coisa ele tem razão, em outras nem tanto. Sobre o Gael, particularmente gosto dele. Estou lendo "O PASSADO", Romance do (argentino) Alan Pauls desde julho (por falta de tempo) e para minha absoluta surpresa já existe um filme (pronto!) e será lançado em breve no Brasil. E mais: é do "brasileiro" Hector Babenco, outro dos nossos grandes. No elenco, Gael fazendo o protagonista. Não acho que seja um "mimadinho". É apenas um "perfil latino" muito utilizado, mas é um bom ator.Torço para que Rodrigo Santoro (que não é só bonitão, mas também bom ator) e, sobretudo, para que Wagner Moura e o grande Lázaro Ramos (imbatíveis esses dois) cheguem ao "posto" de "perfil latino" assim como o Gael. Deixem as críticas chegar, elas ajudarão ao Meirelles. Nada mais irritante do que tapinhas nas costas o tempo todo. Eu participava de um fórum de discussão de Literatura no (extinto) site NO MÍNIMO e todo o mundo elogiava o "blogueiro" Sérgio Rodrigues. Se ele soltava um "pum virtual" todos diziam "ai, que maravilha, Sérgio!". Como eu e minha "boca grande" resolvi dizer "não gostei", caíram de pau em cima e o próprio Sérgio, acostumado a ser elogiado, passou a me desferir impropérios. Qual o barato de se ler elogios o tempo todo? Eu endosso os elogios ao Fernando Meirelles. Mas deixem que os outros critiquem também, se for de uma forma respeitosa.

ROBERTO SCHULTZ - http://segredoefim.blogspot.com

Henrique disse...

Acabei o livro hoje é espectacular! Mas cá em pt é o 'chefe dos malvados' em vez de rei da camarata 3... Acho que a escolha de actores muito boa, mas o Mark Ruffalo parece ser um pouco novo para o papel de médico... e não consigo imaginar o 1º cego e a sua mulher asiaticos :S

O INFLAMÁVEL disse...

queremos ver sempre o melhor de todos vocês, ops... ver?

Dênis Pagani disse...

legal a análise psicológica do diretor a partir do elenco

Unknown disse...

Fernando, sou mais um desses que se dizem viciados pelo blog d Blindness, e tb mais um dos que dizem q o livro "Ensaio sobre a cegueira" é o preferido!!! Estou muito ansioso para ver uma obra prima de um gênio da literatura ser contada nas telonas por um diretor q há muito tornou-se um de meus preferidos!!!
obrigado pela atenção com o público do cinema e, mais especificamente, com o seu público e o público d Blindness que, pelo visto, só aumenta! Parece-me que esse filme já conquistou muitas pessoas e certamente será um sucesso!
Ah, maravilhosas todas as narrações do que acontece no set d filmagnes, isso só faz aumentar a vontade de assisitri logo Blindness!!!
Parabéns e sucesso!!!

Babalu de Cebola disse...

Acabei de fazer um trabalho de semestre sobre este livro e a idéia de ver o filme me empolga. De certa forma, aquilo que ficou só na mente vai ganhar uma forma física. Será interessante. O Gael é brilhante. Interessante ter ele como Rei "do mal".

ROBNEY BRUNO disse...

EU NUNCA LI PAULO COELHO II
Gente, é sério! Vamos parar com essa papariquice sobre o fernando neste blog. Como já disse antes, ele nunca leu e nem nunca lerá uma linha destes comentários. Ou vocês acham que ele não tem mais o que fazer da vida. Pra mim, ou estamos perdendo tempo aqui na esperança que ele responda alguém, ou ao contrário estamos perdendo a oportunidade de tecer uma rede de diálogos entre nós, sobre a adaptação de uma das mais importantes obras da literatura mundial.
Robney Bruno

Unknown disse...

Fernando! larga de ser mau e "posta" mais novidades...hahaaa... Vc nos viciou, agora aguenta...rsrs

Andrea Drewanz disse...

Nossa, quanto comentário agressivo e desnecessário!
Não sei por que tanta gente recalcada resolve se mostrar num espaço como esse.
Deve ser para chamar atenção de si mesmo, já que não consegue ter talento e aparecer.
Sábio Meirelles, que está acima disso tudo e até agora não deletou a opinião maléfica de vocês.

*********************

E mais :
Ainda bem que temos brasileiros competentes como Fernando Meirelles para mostrar ao mundo que nossa arte não precisa ser sempre verde-amarelo, carnaval e futebol.

Unknown disse...

Era só o que faltava, um leitor (Roberto Schultz) me "decretar" como "fake". Quem será que escreveu post tão grande? Um fantasma? Um recurso automático do Google? Aparece cada bisonho... O patrulheiro dos fakes ficou tão inconformado pelo escrevi que "tentou" cassar a minha presença física. Acho que ele não quer que os outros me leiam... E olhe que a mensagem está assinada com nome e sobrenome e até email. Rapaz, não ter foto não quer dizer que seja "fake" ("falso" para aqueles não tão colonizados) senão a grande maioria das mensagens no blogspot seriam o quê? "Fakes"!

E essa história de perfil "latino" é atraso, obscurantismo. Os atores brasileiros não tem agora que se travestir de "latinos" para poderem para poderem ter alguma chance no cinema internacional. Tem muita graça: uma ator brasileiro estaria impedido de ter um "perfil" brasileiro lá fora. Ele "tem" que se subjugar e adotar um outra identidade cultural. Teria de se fantasiar de "latino" porque senão... Senão o quê? Senão nada...

Isso é o cúmulo da mente colonizada. Tão colonizada que já passa a se ver e ao seu país com os olhos do colonizador. Se os EUA não conseguem distinguir os brasileiros dos hispânicos porque acham que todos são do seu curralzinho e falam espanhol, então tem brasileiro que já se renega. É mais comum do que se pensa: o povo brasileiro em 500 anos nunca foi nem se sentiu "latino", porque ao contrário dos países hispânicos o Brasil olha para o lado e não vê ninguém falando a mesma língua, ou com cultura similar. Aqui nunca ninguém já tratou o outro como "latino", sempre como brasileiro. Mas os deslumbrados e aliciados de plantão -- e como tem deslumbrado e escravo voluntário por aqui -- quando saem do Brasil jogam a sua identidade cultural/nacional na primeira lata de lixo que aparece, ou deixam no quarto do hotel junto com as malas. Ele automcaticamente deixa de ser brasileiro e vira "ai, soy latino". Que patético. Comigo não, violão. Sou brasileiro dentro e fora do país. Não me "adapto" às expectativas e aos estereótipos reducionistas que ainda se tem dos brasileiros lá fora.

Já vi absurdos exaperantes. Esse é comum: o estrangeiro percebe que o turista é brasileiro e, confundindo as coisas, começa a tentar uma conversa em espanhol (pq, claro ele tem "certeza" que os brasileiros sempre falaram espanhol). O "ex"-cidadão brasileiro, que não está entendendo porcaria nenhuma do que diz o gringo, ao invés de demonstrar que não, que brasileiros não falam espanhol mas português, ora veja só, finge que entende espanhol e até arrisca balbuciar alguns palavras que conhece. Resultado, o gringo sai da "conversa" com ainda mais certeza que os brasileiros falam espanhol desde criancinha. E o ex-cidadão brazuca fica feliz na sua covardia de ter sido mais uma vez "simpático" (não é isso que se espera do brasileiro que seja simpático e alegrinho?), porque foi incapaz de informar um dado básico do seu próprio país. Mais um pouco e ele troca o seu nome João para "Juan" só pra agradar.. óóó... o estrangeiro mais "desenvolvido".

Brasileiros não são "latinos" nem nunca foram. Isso só na mente de quem não conhece realmente o Brasil e acha que somos uma mistura de México, Cuba e Argentina. No mundo inteiro "latino" é sinônimo de quem fala espanhol, dança salsa e tem aquela cara estereotipada de mexicano c/ bigodinho.

É patético demais que um país-continente como o Brasil, de quase 200 milhões de pessoas, com cultura tão rica, forte e original (para o bem ou mal) ainda seja confundido no mundo com o que ele não é. Isso é um atestado de incompetência atroz. Países muito menores do que o nosso têm a sua identidade cultural mais reconhecíveis lá fora. Culpa do estereótipo americano, do aliciamento esquerdopata da "matriz" cubana/hispana (que quer anular a brasilidade por uma "latinidade" para assim ser mais fácil dominar o povo brasileiro e formar a sua sonhada URSS do Sul)/ Sim. Mas é o brasileiro o maior responsável por essa insignificância externa. Porque ele não se impõe, está sempre pronto a servir e se adaptar ao que os outros pensam dele (mesmo que estejam equivocados), está permanentemente pronto pra "agradar". Nunca respeitarão os brasileiros assim.

Dizem que o brasilerio tem vocação para sabujo. Talvez tenham razão, infelizmente. Afinal em que outro país se cunhou expressão como o "complexo-de-vira-lata"?

========================

Coitado do Rodrigo Santoro, se ele não acordar a tempo, e ficar nessa de fantasiar de "latino" para encontrar um nicho em Hollywood. Vai acabar antes de começar. Terá o mesmo "perfil" de carreira da Sonia Braga, que caiu no nicho dos papéis de "latina sexualmente disponível" e, de forma consternadora, teve uma trajetória medícore nos EUA. Teria sido melhor ficar no Brasil, provavelmente. Rodrigo, já está "caminho". Ator "esforçado", se limita a poucas frases... Se ele descambar nessa de imitar latino vai se dar muito mal. Pois ator latino de verdade, aquele que é hispânico, tem aos milhares nos EUA, principalmente em Los Angeles.

Falta de inteligência: ele deveria se ressaltar exatamente por ser brasileiro e não latino. Pois é uma etnia rara no mercado de cinema.

Eduardo Silva
ecos14@gmail.com

Thiago Azevedo disse...

Cara. Genial sua idéia de fazer esse blog. Parabéns mesmo. Trouxe o processo de criação do cinema para perto da platéia (alem de fazer eu querer ver o pessoal gravando sobre o minhocão). Passei a acompanhar muitas das suas atividades e, se já estava admirado pelo seqüestro da escultura da praça 14 bis, hoje fiquei ainda mais alegre ao ler este blog. Gênios pró-ativos estão cada vez mais raros. Valeu.

Kleber Kilhian disse...

Boas cabeças trazem boas idéias!

Unknown disse...

Fernando,
quando vc vai postar falando sobre as filmagens no Brasil?
Estou ansiosa =)

DiegoFerrite disse...

Sensacional a idéia do esmalte e de um "perverso" ditraído, atrapalhado e cômico. Espero que espalhem isso pras outras cenas, não apenas com o esmalte, mas com diversos elementos.

Abs

Vida Gestáltica disse...

É, Meirelles, como já profetizava Mr. Bono Vox, "love is blindness".

A cegueira é um escândalo mundial.
As formigas enxergam mais que nós.

Um abraço e estou aguardando.

Anônimo disse...

O “Ensaio sobre a Cegueira”
e o que a crítica não quis ver
– Enio Squeff –

Deve ser por uma espécie de obliteração visual – ou intelectual - quem sabe, que a crítica brasileira não se rendeu ao filme “Ensaio sobre a Cegueira”, do brasileiro Fernando Meirelles, baseado no romance homônimo do português José Saramago. O maestro Wilhelm Furtawaengler , na década de 30 do século XX, afirmava que a crítica nunca ia além do público, por ser em grande parte apenas e tão somente parte dele, ou mais que tudo, o seu espelho. Com efeito, Franz Kafka, com seus “O Processo” e “Metamorfose” só foi reconhecido quando alguns intelectuais se deram conta de que havia tudo de surreal, de “kafkiano” digamos, na vida cotidiana das cidades com suas regras irracionais, o esmagamento da individualidade e a falta de sentido no que a sociedade contemporânea elevou como dogma. Para dizer o óbvio em se tratando também de Kafka: as baratas tontas não se sabem à disposição do pé que pode triturá-las. São poucos, enfim, os que prevêem em qualquer ensaio sobre a cegueira um dos grandes diagnósticos, ou antes, a metáfora que, afinal, tornaria transparente a nossa relação com o mundo aparentemente luminoso da informação, e que seria o melhor do nosso século. Não espanta que a cegueira intelectual tenha muitos adeptos, mesmo entre banqueiros, como se está vendo. E que qualquer reflexão a respeito cause um pânico que normalmente convida à rejeição da sua existência como uma ameaça constante a nossas convicções.
Cegueira ou escapismo? Em determinados momentos as coisas parecem se confundir.
Na pintura “A parábola dos Cegos”, de Pieter Brueghel, o Velho (1520/30-1569), a cegueira é um preâmbulo da queda, de qualquer queda. Concebida por um artista que sempre se valeu das alegrorias, o cego que conduz os outros(como a confirmar o Evangelho), é o primeiro da fila a se estatelar: uma viola caída entre as suas pernas, é o único testemunho, algo patético, da sua atividade de músico. Fica a certeza de que a acuidade que lhe resta é a auditiva– um indício de que, afinal, nem tudo está perdido. Não por acaso, é essa também uma das características do filme de Meirelles – a cegueira branca que acomete as pessoas ( “toda a cegueira é branca” dizia o cego Jorge Luiz Borges), passa a ser compensada, em parte, pelos sons: o ouvido como compensação à visão. Ao contrário, porém, da tradição que canta os poetas cegos – o primeiro deles, Homero, teria como apanágio da sua introspecção, justamente a cegueira – no filme de Meirelles uma das poucas alternativas à sobrevivência do cego, não é só falar – é escutar. A questão, contudo, pode se definir numa outra consideração -e que consta do livro de Saramago: cabe ao não cego, ao vidente no sentido inclusive do visionário, do utópico, do que prediz o futuro, conduzir ao ordenamento do mundo. E não por acaso, certamente, o “rei” da terra dos cegos – aquele que, no fim das contas, tem olhos para ver (ainda que possa ser “caolho”, como no ditado popular, o que não é o caso) - só persiste como tal, não apenas por ter olhos, por estar na pele de uma mulher. Claro que se trata da solução de um cineasta que se cingiu aos contornos do romance, a uma reflexão que foi fiel a Saramago. Tanto no filme, quanto no romance, a mulher aparece como única solução viável ao mundo do caos. Talvez seja essa a contrariedade que o filme suscita: supõe-se que à falta de um macho, o protótipo do xerife, do super-herói americano a dar “porradas” e, na outra ponta, a lavar as sujeiras fisiológicas dos homens – tarefa a que as mulheres se dedicam já no trato com os nenéns – muitos críticos, ao que parece, fizeram eco aos norte-americanos. Não gostaram e pronto. É compreensível.
Num país, ideologicamente convencido, como nos Estados Unidos, de que, no cinema para as massas, as mulheres devem se travestir, têm de assumir os punhos poderosos, os ponta-pés especializados nas lutas orientais e em lutas em que as espadas mortíferas são brandidas como as dos samurais – que são sempre as armas dos homens, dos mais fortes fisicamente – vale muito pouco que o mundo feminino seja, no fundo, o vencedor. Afirmar, por aí, que a crítica brasileira imitou os norte-americanos pura e simplesmente, talvez seja apenas uma ilação apressada. Os especialistas têm sempre as boas razões que escapam aos leigos. A cegueira, porém, como sugerem o filme e o livro, é uma doença que se dá numa grande cidade – justamente em São Paulo. E isso parece não ter sido igualmente relevado.
Talvez seja esse o outro lado da questão. As filmagens externas se passam todas numa paulicéia facilmente reconhecível, até mesmo por quem não mora na cidade. As próprias cenas em que os cegos são submetidos à quarentena – uma espécie de hospício - não sugerem menos do que o inferno do Carandiru. E como vivemos no contraste do Brasil, há também os grandes apartamentos, as casas confortáveis que dão para aquela paisagem exuberante, mais que prazerosa dos arvoredos da região dos Jardins, vistos do alto. E há, finalmente, muito também do seu oposto, daquilo que somos na periferia, o que sugere o “panorama visto da ponte”, para recorrer ao título da famosa peça de Arthur Miller. Entre a pujança do horizonte aprazível de São Paulo, ou a degradação do Tietê, com suas águas estagnadas e as margens infectas e que confluem com as ferrovias da periferia, há o lugar para algumas cenas dantescas, coisas de cenaristas. Como constatava Mozart com sua incrível invenção que, inclusive, lhe provocava lágrimas quando escutava suas próprias composições, para um paulistano, a metamorfose a que o filme submete a cidade de São Paulo, deve arrepiar no sentido contrário ao prazer do compositor com a sua música: resta a interrogação angustiante, isto é, se não podemos chegar às ruínas que o filme mostra. Neste ponto, talvez não seja arriscada levantar a hipótese de que foi esse o outro problema para a crítica: é preferível, naturalmente, considerar a Gotan City do filme Batman, julgada pela mesma crítica muito melhor do que o filme brasileiro ( pelo menos é o que dizem as estrelinhas das cotações dos jornais), à alternativa requerível à cidade “dos cegos”(São Paulo) idealizada pelo cineasta. E que nos assusta, exatamente por a reconhecermos, não na sua ruína construída, deformada, que só o cinema pode engendrar – mas na sua degradação possível, previsível que só o pessimismo leva em conta.
Ao término da leitura de um de seus romances, Dostoievsky teve de acariciar as mãos de sua companheira, a guiza de consolo; ao lê-lo, ela mergulhou numa tal tristeza que foi difícil demovê-la de que o mundo, quem sabe, pudesse talvez ser menos trágico do que as invenções de um escritor. Quando escreveu algumas de suas sonatas, Beethoven não previu que certas pessoas iriam se desmanchar no choro: disse que compunha não para que as pessoas se derramassem em lágrimas, mas para que refletissem. Estima-se que nunca foi a intenção de José Saramago, ou de Fernando Meirelles sugerirem menos do que uma parábola. Nenhum dos dois deve ter se demorado na perspectiva que preside a idéia primitiva de que a cegueira pode ser, por exemplo, o tal atributo dos poetas. Homero cego, certamente justificava os seus poemas como conseqüência dos que se vêem mergulhados em sua própria interioridade. Inimaginável esse tipo de consideração nem em Saramago, muito menos em Brueghel, ou no cineasta brasileiro. Vem daí, porém, que a cegueira, como perda da capacidade de surpreender a evidência - que, por sua vez, tem a respaldá-la justamente o “ver”, o de conter em si a transparência, e que nasce do latim “videre” - passa a ser exatamente o contrário do que se imagina a grande contribuição da crítica.
O paradoxo, em suma, afigura-se todo esse: o filme “Ensaio sobre a Cegueira” deixa em aberto que, de fato, quase simploriamente, o maior cego é aquele que se recusa a ver. A pergunta que fica no ar, porém, é aquela que não fazemos: talvez não estejamos vendo pelas razões que a própria cegueira nos dá – de não termos como evidente de que estamos cegos. Fica, mesmo assim, a convicção de que São Paulo pode estimular esse tipo de raciocínio - que é a forma de não raciocinar, ou de se recusar a fazê-lo.
Na fita, a grande cidade se mostra pela ótica do que, contrariamente, talvez seja o que podemos denominar de “poética do horror”: nada de Batmans a cruzar os céus artificiais de uma cidade brumosa que assusta de mentirinha, por ser o ambiente de um “homem morcego”; ou de Super-Homens a salvar, no último momento, o próprio mundo. Quando as cidades mergulham no sem sentido de bolsas de valores, a se esfarinharem na predação do consumismo, ou a se diluírem sob bombas – não há mesmo esperança possível. Não há super-heróis que lhes valham. A não ser naquele que vê através do mundo escondido no branco, que tapa a vista à evidência. Explica-se, porém, desta forma, que o filme Batman seja considerado a grande realização cinematográfica para os grandes jornais: eles nos conformam, sabe-se lá, à cegueira circundante. Haveria, talvez, que falar sobre esse ir e vir do que é o filme de Meirelles: ele se propõe a discutir a cegueira, um tema que a cegueira espiritual teima em não fazê-lo.
Mas é apenas uma das especulações possíveis.
Em tempo: José Saramago viu o filme e confessou-se emocionado com a adaptação de Fernando Meirelles. Difícil dizer se a crítica cinematográfica de São Paulo ou do Brasil leu o livro de José Saramago. Quem o fez – embora essa não seja em momento algum uma exigência - muito dificilmente desqualifica o filme. No mais, noticia-se que uma associação de cegos americanas achou o filme “preconceituoso”. Talvez se possa falar de uma possível, mas até aqui inédita cegueira dupla.

Enio Squeff
enio@squeff.com
www.squeff.com
Outubro 2008

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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