quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Post 13: Sobre Montagem, Juntões e Frame-Fucking



Apagamos a luz para fingir que estávamos numa sala de cinema e tiramos o telefone do gancho, um saiu para beber água outro para ir ao banheiro. Assistir ao filme montado pela primeira vez é uma experiência tensa. Mesmo conhecendo cada linha do texto, o tom em que cada frase foi falada, os enquadramentos, mesmo depois de já ter decorado como estão montadas cada seqüência ou saber em que instante a música de referência vai entrar. Mesmo assim, eu estava ansioso. Aparentemente tudo parecia estar correto, mas o problema é que neste trabalho 5 + 5 pode ser igual a três e essa era a hora de conferir a soma. Mas o que tem que ser feito, tem que ser feito. “Dá logo play nessa bagaça”, pedi. Quando o filme acabou eu não estava deprimido, sentia apenas um leve mal-estar. “Talvez seja bom sinal”, pensei. “Acho que vai dar para salvar”.

O Daniel Rezende começou essa montagem em julho, em Toronto, mas isso a que assistimos ainda não era nem um primeiro corte, era apenas um “juntão”, como ele chama. Um “juntão” são todas as cenas “armadas” e enfileiradas na ordem do roteiro. Mesmo quando não gostamos de alguma coisa que foi filmada, ela vai para o bolo. (Só mesmo as cenas que ficaram vergonhosamente ruins é que são cortadas de cara. Certas coisas devem ser esquecidas). Claro que sempre há espaço para se tentar algumas transições interessantes ou fazer algumas experimentações mais arriscadas e gosto de ser surpreendido, mas, a princípio, a idéia do juntão está mais para lição de casa.

Deu duas horas e quarenta minutos. Muito longo. Como não pretendo ficar gastando o precioso tempo do espectador, minha idéia é deixar este filme com umas duas horas no máximo, então a próxima missão era jogar 40 minutos no lixo e tentar achar uma história com bom ritmo no que sobrar. Este é um momento do processo que gosto, é concentrado, há espaço para criação, não há prazos malucos e nem pressão externa. É quando os problemas de roteiro ou interpretação são percebidos e contornados, onde um personagem pode ser modificado ou um canastrão pode virar um ator razoável. (Aliás se você pensa em seguir a carreira de ator eis o melhor conselho que posso dar: Suborne sempre o montador. Leve chocolate, flores se for uma montadora, até um vinho mais caro se seu trabalho estiver realmente fraco). Há um milhão de maneiras de melhorar uma atuação na montagem. Nos momentos mais vergonhosos pode-se cortar para a cara do outro ator evitando o vexame, uma fala mal falada pode ser regravada e usada com a imagem do ator de costas e daí para frente. É muito fácil tapear o espectador (sinto muito) e confesso que tenho um certo prazer quando consigo fazer isso sem deixar marcas da trapaça. Mas neste caso, conforme o previsto, não precisaremos usar estes truques sujos, nosso elenco é muito consistente. O trabalho maior desta montagem será achar o tom certo para cada personagem. Coloca-se um olhar a mais, uma pausa a menos, põe-se aqui, corrige-se ali, é como temperar um ensopado. Neste processo tentamos deixar o médico mais arrogante no início, sua mulher mais bobinha, a Garota de Óculos Escuros mais fria, e assim por diante e então, durante o filme, todos vão se transformando, criando o chamado “arco do personagem”. No final das contas, 98% dos filmes são sobre isso, sobre transformação de personagens.

Secar o juntão é mole, rapidamente tudo que está sobrando vai caindo. Menos gordura e mais músculos. Quem não gosta? Em cinco dias, chegamos ao primeiro corte que baixou para duas horas e vinte e cinco minutos. Tirar 15 minutos de cara foi um bom começo, mas ainda faltava tirar mais uns 15. É neste ponto que a coisa vai ficando mais complicada. Tem um momento em que as cenas já chegaram no tamanho certo, mas o filme ainda está longo. Se cortar mais as cenas, o filme fica frenético, sem clima, mas se não diminuir a duração total, o filme fica arrastado. Filme lento é bom mas filme arrastado é imperdoável e não há nada pior do que ouvir na saída do cinema o camarada dizer: “O filme é bom mas poderia ter 15 minutos a menos”. “Vá lá tentar cortar então, sabichão!”, dá vontade de responder. Mas como este não é um problema do espectador, a solução foi pegar estas duas horas e vinte e cinco que tínhamos no primeiro corte e partir para a terceira rodada da montagem em direção ao segundo corte.

Nesta nova passada, como tudo que estava visivelmente sobrando já havia caído, os cortes são praticamente invisíveis. Vão embora as pausas nas falas dos atores. (Alguns atores tendem a alongar as suas pausas ou para ganhar mais tempo de tela ou, às vezes, por terem esquecido suas falas. Cortando de uma câmera para a outra esse, tempo morto some.) Uma caminhada pelo corredor é abreviada, uma chave que gira na porta é substituída apenas pelo som, cortam-se dois passos do ator em direção ao carro, falas de início de cena são sobrepostas na cena anterior, textos que não sejam realmente importantes são eliminados e, usando um grande repertório de truques como estes, o filme vai ganhando ritmo. Nesta terceira passada, chegamos a duas horas e dezessete minutos, melhor, mas pelo menos mais uns 10 minutos devem sair só que já não há mais de onde tirar gordura então esta é a hora de pensar quais cenas podem ser despachadas direto para o DVD, em geral cenas que são boas mas que manteriam a história em pé se fossem cortadas. É neste ponto que estou hoje. Cortando cenas boas.

Fora o ritmo, muitas vezes algumas cenas simplesmente não chegaram onde deveriam ter chegado, ou pela direção óbvia (que muita gente chama de clássica), ou pela atuação, ou porque alguma fala que deveria estar lá não foi escrita. Nesta hora entra a operação salvação de cena. Com o Daniel, aprendi que quando um problema parece insolúvel mas a cena não pode ser cortada do filme, ao invés de ficar adicionando planos ou gravando novas falas para tentar deixa-la mais clara ou mais eficiente a melhor solução é seca-la ao máximo, passar o mais rápido possível por ela na esperança de que o espectador não perceba o problema. Aprendi também que ficar pondo e tirando fotogramas aqui e ali, (frame-fucking, como chamam os americanos) nunca vai resolver o problema de uma cena mal resolvida anteriormente. Há também uma infinidade de truques de montagem para deixar ao menos digno o que foi mal feito na filmagem, mas às vezes uma cena parece mesmo condenada ao fracasso e pode comprometer o filme todo, essa é sempre uma constatação dolorosa quando acontece. E sempre acontece. Por sorte, neste filme estamos livres deste mal, aqui podemos sempre contar com um último recurso que funciona como uma espécie de colete-salva-vidas. Infalível:

Tudo na cena está ruim? Corta para um close da Julianne Moore. Aí é xeque-mate.


PS: Fui assistir a “A Casa de Alice”. Filmaço. Direção muito sensível. Um ator melhor do que o outro. (Aviso: não sou amigo do diretor e nem dos atores, é só um toque porque o filme é bom mesmo.)

152 comentários:

Jan disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jan disse...

Fernando,

Acho incrível este momento na construção de um filme: quando você tem que condensar horas de gravações em alguns minutos de história (essencial para manter a fluidez da obra, além de torná-la economicamente viável!). Penso como deve ser doloroso cortar cenas boas, mas a certeza de que elas estarão, ao menos, no DVD deve ser um alento (para vocês e para nós!).

Um abraço e boa sorte,

PS- Julianne Moore realmente deve ter te fascinado muito. E não é por menos, uma atriz fantástica ultra carismática! Dirigi-la deve ter sido catártico!

Jan Lopes

Suzana Elvas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Suzana Elvas disse...

Oi, Fernando;

Acompanho seu blog e tenho uma pergunta (que vai fazer com que eu pareça chata, mas aí vai ela):
Por que você chama o filme de "Blindess" se o livro é de autor português, escrito originalmente em português? Aqui ninguém chamou seu filme de "The constant gardener" apesar de o autor ser inglês, o livro também e a produção ser internacional. Por mim, que trabalho em mercado editorial, chamar o filme somente de "Blindess" (Cegueira) é desvirtuar o cerne do livro do Saramago, que é realmente um "Ensaio sobre a cegueira" e não apenas uma história sobre cegos (tema, inclusive, de "Escuridão", noveleta clássica escrita em 1963 por André Carneiro em que toda forma de luz desaparece do mundo e somente os cegos sobrevivem à nova realidade).
Abs

Suzana

Marco Antonio disse...

mto bom esse post, como todos os anteriores, e não sei se vc le os comentários mas sem querer ser chato mas já sendo novamente, o correto é xeque-mate, como bom enxadrista não poderia deixar passar essa novamente!

Renato Gaiarsa disse...

“Acho que vai dar para salvar”.

Adoro dizer isso pras pessoas quando termino uma primeira junção de imagens (adorei o termo). Mas o que mais digo é: "olha, tenha calma que isso aqui é só um primeiro corte, a gente vai avançar muito ainda". Foi curioso ler esse post porque trabalho como editor - por enquanto só de vídeoclipes, programas de entrevistas, poucas narrativas de fato. E perceber como pelo menos numa olhada bem geral o pensamento da mecânica do processo é o mesmo. Seja pra um VT de 30seg de um estudante de publicidade, seja pra um longa metragem. Falo com relação a procupações de duração, "falsificações" e tudo mais. Trechos desses seus posts deviam entrar naquele livro "Grandes Diretores do Cinema", que traz opiniões e visões de autores cinematográficos famosos. Tudo bem que a maioria tem mais de 10 filmes no currículo, mas isso não quer dizer muita coisa.

Ah, só falando do lance do "Blindness". Acho que títulos, principalmente com filmes, se tornam uma coisa tão mercadológica que nem me dou ao desgaste de discutir. Sejam as traduções péssimas mas que funcionam pro espectador, sejam casos como esse. "Research" num título não parece cair muito bem.

Enfim, espero em breve estar editando um curta. Ou então ser contratado pelo Daniel, nem que seja só pra fazer captura de imagem... hmmm... apesar de que nem mais em vídeo isso existirá daqui a um tempo. Enfim... eu sou bom organizando pastas, logs, comentários, essas coisas.. qualquer coisa liga aí. hehehe

Mauricio disse...

às vezes fico relutante em ler os posts, pensando se a leitura não vai prejudicar minha experiência final na hora em que se apagarem as luzes na sala de cinema. Mas é irresistível assistir à essa vivissecção que você faz, não só dos processos mas da dinâmica de pensamentos e ações da produção.
Eu sei que vou me pegar procurando certos pedaços descritos aqui ao invés de apenas "viver" o filme como deveria, mas enfim, tudo tem seu preço!

Bom trabalho pra vocês na reta final!

Paola disse...

Mais uma vez (pareço disco quebrado), que emoção é essa que esse blog desperta em mim? Toda vez me emociono.
Ver o que está a mais e tirar depois!
Ainda bem que vivemos na era do DVD, sempre há a esperança do extras!!!!!!!!!!! E dos Making Offs!
Afinal nem reportagem sobre as filmagens eu consigo assistir!

Tanaka disse...

No trabalho de desenvolvimento para a internet tudo funciona mais ou menos assim...não há as expressões marrentas do cinema, mas a lógica do reduzir para melhorar é aplicada constantemente. Acho que tudo que é criação tem que ser "trimmado" antes de virar produto final...senão corre-se o risco do resultado ficar incompreensível. Fernando, mais uma aula de gestão de equipes criativas- obrigado!

Tanaka

Vivien Morgato : disse...

Deve ser terrível ter que editar.

Pacha Urbano disse...

Antes achava que filmar era algo meio straight ahead, e só quando fui me aprofundar em roteiros que vi que um filme mais parece um quebra-cabeça que qualquer outra coisa. Acho o trabalho do montador, do editor, do diretor, impressionante. É conseguir ver o "paradigma" fora do "paradigma".

vera maria disse...

Oh aula ótima, nem faço cinema, nem estudo edição, mas passarei e ver filmes de outro modo, porque você está criando oficinas magistrais nesse blog.
Ah, sim: acho o nome Blindness lindíssimo, mas entendo a preocupação de sua leitora, e acredito que o filme deva se chamar aqui Ensaio sobre a cegueira, mas pensando bem o livro é o livro, e pode ser Ensaio, mas o filme não pega bem ser ensaio, não é? Enfim, vamos ver o que você vai decidir.
Um abraço, e merci,
clara lopez

Carlos Ranna disse...

Continue nos enganando.

Sérgio Inácio disse...

Oi Fernando, leio sempre teus "posts" mas apenas hoje fiquei com vontade de deixar este comentário. ótimos os teus textos.O teu profissionalismo, o teu tesão pela tua arte e a maneira despojada como trabalhas com teu grupo é uma lição para os jovens. Parabéns.

hecidos disse...

Oi sr. Fernando.

Venho através desse Blog - que nos aproxima e aniquila todas as formas de distância - cometer um atrevimentozinho... Eu estudo Comunicação Visual e há meses e meses estou à procura de um trabalho ou estágio, até aqui tentativas frustradas. Não sei se isso é o problema, moro no Jaguaré, zona oeste, que fica verdadeiramente "um pulo" da O2, 15 minutos no máximo com trânsito. Já telefonei tanto que vi a hora a moça dizer "ô menina, não liga mais pra cá pelo amor de Deus"; perguntei sobre o senhor e a resposta foi contida. Já tentei contato com pessoas de dentro e nada, fui pessoalmente 3 vezes e nada envio mensagens e nada de um retorno. Não quero mendigar, sei que é ocupadíssimo, só gostaria de saber se o senhor poderia de alguma maneira me dar uma mão. Alguma ajuda, uma indicação. Deixa eu entrar na O2? Qualquer função serve. Trabalhar na O2 pra mim seria, desculpe a expressão: "uma mão-na-roda". Aguardo um sinal 'sim ou não' ansiosa e aflita! Por favor.
Grata,
Iolanda Lima, 20 anos (ioio@terra.com)

Maína Junqueira disse...

Puxa, toda vez que assistir filme com a Julianne Moore, a cada corte que leve para ela, vou achar que alí deviar ter algum problema... :-)
Que bom que não desistiu do blog!

Cristiana disse...

Fernando, um agradecimento desta quase-atriz que vos fala por três coisas: 1)por me ensinar a subornar o montador. Tenho certeza que vou precisar muuuuito disso; 2)por recomendar um filme cuja atriz principal começou a carreira aos 35anos, o que me lembra que eu ainda tenho chance; 3)por me lembrar mais uma vez, como em todos os posts, que grandes artistas são generosos.

Paola disse...

Não é uma coisa incrível?
Voltar aqui menos de 24 horas depois, na esperança de mais um post?

Sávio disse...

Caro Fernando,

Conheça esse filme tb(é, eu sou amigo do diretor hehehehe) mas é muito bom...www.tetrio.com.br Ainda só tem o trailer mas vale a conferida e a entrada na lista de filmes para se ver.

abraço e parabéns pelo blog.

Sávio Marques - BrasíliaDF

Sávio disse...

Caro Fernando,

Conheça esse filme tb(é, eu sou amigo do diretor hehehehe) mas é muito bom...www.tetrio.com.br Ainda só tem o trailer mas vale a conferida e a entrada na lista de filmes para se ver.

abraço e parabéns pelo blog.

Sávio Marques - BrasíliaDF

Unknown disse...

Acho muito legal essa coisa de colocar cenas extras no dvd, isso dá uma animada na hora q o filme chega as locadoras ou as pontos de venda, é claro q nada supera o cinema em si, mas cinema vc está lá pra ver o filme na sua montagem final e no conforto da sua casa nada melhor q conseguir ver outros momentos q ficariam cansativos no cinema. Quanto "a casa de alice" realmente é um ótimo filme, parabéns pela indicação.

ROBNEY BRUNO disse...

SOBRE SARAMAGO, SHOPPINGS E JOGO DA SELEÇÃO

Não resisti. Comprei o Saramago. Não queria ler antes do filme para não ser influenciado, mas não consegui. Quando acordei nesta manhã (21/11), sabia que iria comprar o bendito. Toda vez quando acordo sem nada pra fazer, sempre me meto em encrencas. Quem me conhece sabe disso. A primeira coisa que fiz foi dar uma olhada na montagem final do meu último curta que a Juliana Corso me entregou em dvd. [ Um Morto Na Sala ]. Depois de ler o post do Fernando sobre corte, queria ver se podia fazer mais. Já tinha cortado antes de 13 para 10 minutos, sem os créditos. Pra quem viu este curta no pré-lançamento no encerramento do Festcine sabe do que estou falando. Muito gente pensou que tinha sido feito no Rio de Janeiro ou São Paulo, que não era goiano. Hipócritas, sorri zombeteiramente. Assisti tudo novamente, duas, três vezes. Confesso que quando o Ivan (personagem do filme) desliga a tv com o Faustão e põe o dvd do Nemo é a parte que mais gosto. É minha vingança contra esses programas imbecis que passam na tarde de domingo. Ninguém mais agüenta. Não sei por que ainda não tiraram esses caras do ar. É Faustão, é Gugu. Agora até a Xuxa vai ter um programa na tarde de domingo. Não acredito. A Juliana, editora me pediu para que lhe passasse tudo anotado. Fiz 32 observações num curta de 10 minutos. Acho que ela não vai gostar. No menssenger vejo uma mensagem da Marcela Borela, diretora de arte do filme, me pedindo que lhe desejasse boa sorte. A sua entrevista do mestrado na UFG seria naquela tarde. Nem era preciso, lhe disse. Sabia de sua capacidade, mesmo assim lhe desejei boa sorte e marquei para que a gente comemorasse com umas cervas quando saísse o resultado. Ela sorriu com um emoticons.
Já dentro do carro, rodando pela cidade pensei num lugar mais perto para comprar o maldito. Já era mais de dez horas, e então pensei num shopping. O Bouganville fica a poucos quarteirões do meu prédio, e tinha sido reinaugurado recentemente. Como já sou vacinado, fui logo perguntando na entrada se no shopping tinha uma livraria. A moça disse que não, que o lugar mais perto seria no Goiânia Shopping, que fica a umas dez quadras de distância. Não queria acreditar, reinauguraram um shopping sem uma livraria. Essas coisas sempre acontece comigo. Pra que serve um shopping sem uma livraria? Mas não ia desisti. Peguei o possante e me dirigi ao maledito. Entrei logo pelo estacionamento. Cancela eletrônica e uma voz metálica. “Retire o ticket, o Goiânia shopping agradece pela sua visita”. Olhei para o lado. 2,50 pelo estacionamento. Não acreditei. Teria que pagar para deixar o meu carro ali por uns 15 minutos. E se na livraria não tivesse o livro, pensei. Iria pagar a toa. Dei a volta, e estacionei do lado de fora do shopping. Na livraria fui logo perguntando pela cegueira. O vendedor fez a consulta na tela. O estoque tava zerado. Não falei, ia pagar a toa. Ele me disse que teria que fazer pedido e que demoraria uma semana. Fui. Olhei no relógio. 11 horas. Sabia que teria que estar em casa meio dia para levar a minha filha no colégio. Iria arriscar. Em menos de uma hora atravessaria a cidade e iria até o Flamboyant, onde sabia que ali teria o livro. No caminho o celular toca. Era o Marcelo, meu captador de projetos, dizendo que a carta de captação do LOUVA-A-DEUS (meu próximo curta), estava vencida, e que dos 35 mil só temos 25 mil captados até agora. Gelei. Já tinha dito pra equipe que fazer este curta com os 35 seria difícil, imagina com 10 mil a menos. Perguntei se não tinha jeito. Ele disse que ia ver. Que tinha uns contatos na Secretaria de Cultura da Prefeitura e que iria ver. Desejei sorte a ele e a mim, e toquei o barco. Pra quem conhece Goiânia, sabe que o Flamboyant é o maior shopping da cidade. Tudo ali é muito caro. Do estacionamento ao sorvete do MacDonalds. Sempre falo pra minha esposa que ir neste Shopping me dá depressão. Ver tantas pessoas consumindo vorazmente, a maioria dondocas e filhinhos de papai, e com tanta gente passando fome no mundo. Na livraria ceguei. Tinham o livro. O preço 42,50. Tirei sem ver uma nota de 50 e pus no balcão. O cara me perguntou se eu não tinha 0,50 centavos. Olhei na carteira e disse que só tinha 0,25. Serve, disse ele. Mas como, respondi. Não vai adiantar. Ele insistiu. Pegou a nota de 50 e os 0,25, e me deu um desconto me voltando uma nota de 10. Fiquei feliz na hora. Cara esperto. Já em casa, depois do almoço, da mais velha na escola, da pequena no berço, e da esposa no trabalho, pude saborear o livro. O livro é bom pra caramba. Meio aportuguesado, mas é bom mesmo. Difícil de ser adaptado pro cinema. Já tinha feito adaptações e sabia disso. Apesar das reclamações do Fernando, ele não é bobo. Sabe que tem uma jóia na mão, que se bem realizada, certamente vai lhe valer a estatueta, que nós brasileiros tanto desejamos. Ainda não acabei de ler o livro, mas pretendo fazer isso logo. Só que um pouco diferente. Como costumo fazer no cinema, gosto de digerir cada etapa de um filme. Torná-lo orgânico. Pra não ter uma digestão depois. Se é que me entende. A noite tinha jogo da seleção, Brasil e Uruguai, mais sofrimento.

Stefano disse...

Estou muito ansioso.
Quando fica pronto ?
Comecei a ler esse blog no trabalho e não parei mais, muito bom! Estão putos comigo aqui.

Priscilla disse...

Cada post ensina mais que muito curso inteiro de cinema que já participei.
Origada de novo!

Maurício disse...

Quando assistimos um filme no cinema, não temos idéia do trabalho feito por um grupo enorme de pessoas... Bom, sabemos que foram várias por causa do grande número de nomes nos letreiros finais. O processo que é o Cinema é algo que fascina e surpreende àqueles que não transitam no meio. Eu sou cinéfilo nato e minha fascinação por cinema ampliou-se. Não quero mais saber do resultado final, mas também do processo de criação. E devo isso ao Fernando Meirelles, tanto no blog do Jardineiro Fiel quanto neste mais recente.

Obrigado, Fernando.

Rafael Selmi disse...

Fernando, eu sei que você não pode fazer isso, mas se puder, por favor não corte esses preciosos 40 minutos do filme.

Se o filme é bom, pode ter até 3 horas que o espectador assiste com o maior prazer.

Filmes bons que acabam em 2 horas sempre deixam o gostinho de quero mais, ahahaha.

Abraços e parabéns mais uma vez pela aula de cinema que você nos proporciona a cada texto publicado.

Rafael Selmi
Campinas - SP
rselmi@gmail.com

Navasques disse...

Imagino que com o Mark Ruffalo no papel do médico, deve ter sido difícil deixá-lo arrogante....
Penso nisso depois de ter lido o post anterior, onde você falou muito da "culpa" que ele carrega, que ele sempre acha que a atuação "não foi lá essas coisas".
Deve ser síndrome de mamma italiana...elas deixam a gente com uma culpa ancestral...
A própósito, como você está na Granja, vai ter um Fórum sobre a Raposo Tavares e os seus, os meus, os nossos problemas (trânsito caótico, por exemplo).
Será no Colégio Mário Schemberg dia 01/12.
Mais detalhes
www.cotiatododia.com.br
Um abraço

Olympia Navasques

Unknown disse...

Caro Fernando, acompanho sempre esse blog mas somente agora resolvi deixar um comentário:
essa preocupação em ter de cortar cenas “boas” para o filme ficar numa meta de 120 minutos soa como mutilação visual... muitos grandes filmes longos (tirando os épicos por natureza longos, e não é o caso em Blindness), mesmo vistos no cinema onde o espectador não pode dar pausa para ir ao banheiro, dão a sensação de serem mais curtos e extrapolam o conceito de tempo absoluto para se tornar relatividade pura (é o caso de “A Doce Vida” com 175 minutos, “Dança com Lobos” com 180 minutos, “A Lista de Schindler” com 195, ou “O Pianista” com seus 150). Por isso, não te preocupes demais com a forma. Com certeza seu talento não deixaria Blindness parecendo um filme mamute e além disso, vc está dirigindo um Ensaio de um prolixo português...

Marcelo Garcia disse...

Ola Fernando,

Fernando também gostaria de ver esse filme sem muitos cortes, mas sei que além do compromisso com a sétima arte existe também um compromisso com a grande massa e infelizmente a grande maioria das pessoas gosta de cinema, mas não o suficiente para se deleitar com detalhes sutis que são mais comuns em filmes longos. Portanto imagino a tortura de um diretor, que tem que controlar seu lado artístico para poder atrair o maior número de pessoas possível, ou vocês acham que o dinheiro gasto em uma produção como essa caí do céu ??
Mas feliz do diretor que tem essa capacidade tão rara de aliar sétima arte (vulgo filme cult) com a capacidade de atrair grandes públicos ao cinema, inclusive quem não costuma ir a um, e isso minha gente, talvez seja uma das coisas mais belas do cinema: Quando um filme da a uma pessoa sem perspectiva, a possibilidade de faze-la sonhar com algo bom, ou a faz perceber o quanto sua vida não é tão ruim assim.

Fernando, parabéns denovo e obrigado por me mostrar tão claramente, com o que quero trabalhar pelo resto da minha vida, eu amo cinema.
alfamgm@hotmail.com

OqueMeDeixaPUT0 disse...

Fernando,
Muito obrigado por nos brindar com esse blog. num de seus posts você se pergunta porque sempre junta tanta gente pra ver uma cena gravada, já que é um trabalho chato e demorado (acho que você disse algo assim). Bem, 99% das pessoas querem ver os atores e atrizes famosos. Pronto, falei. Agora tem 1% que adoraria ver não só as filmagens, mas também a montagem, edição, etc. Espero um dia poder ter essa oportunidade.
A propósito, convido você a visitar meu portal de resenhas, www.cinecriticas.com.br
Gostaria de saber sua opinião. É simples, mas bem feitinho.
Grande abraço!

SB disse...

Fernando, vamos fazer vídeo sem festinha de set? Você já esta rico...não precisa mais fazer nada destas chatisses = cinema e + publicidade.
Apesar que você ainda pelo o que diz sobre as festinhas no set ainda sucumbi aos/as entreiteirimentos.
Quanto a montagem: tenho pensado em desmontar, quem sabe tenha mais valor comercial.

beijos e beijos,

Sonia

Sol disse...

Lendo esse post me deu um alivio de saber que vou ao cinema SÓ pra ver o filme e nada mais!
Esses dias vi um "closão" da Julianne Moore na Tv. A-ham, truque da Julianne.
Boa sorte, partes boas no DVD, então.

Bauducco disse...

Acredito que o filme se chama "Blidness" porque a grana para bancá-lo vem de cofres gringos.

No mais, acabei de ler o livro - que é espetacular - e mal posso esperar para ver o filme.

Espero que o Mark Ruffalo nao estrague o Médico. E Julianne Moore de Mulher do Médico vai ficar fooooooda!!

Viviane Costa Pinto do Ó disse...

olha, eu adoro esse blog,
mas QUANDO SAI O FILME????

no próximo post diz uma previsão... tô doida pra ver o resultado desse filmaço!! =)

marko damiani disse...

Mr. Meirelles thank you very much.

Gleydson disse...

RARARARARARA!!!

Obrigado por nos "enganar" de montão! E o melhor é que a gente ainda gosta.

Muito especial mesmo esse seu post. Provavelmente a edição deve ser mais delicada que a filmagem em si.

Falando em toque de filme, assistiu a "American Gangster"? Espero que um dia você possa trabalhar com o Denzel Washington. O cara é um baita "Juliane Moore"!

Abraços!

Dudubraga disse...

Que legal essa foto do Mitchell! Nunca imaginei que ele pudesse ser tão expressivo! Pela primeira vez parei pra pensar nele, no papel do garoto estrábico, e só aí eu vi o quanto do filme eu ainda nem tenho na minha cabeça! Vai ser incrível e surpreendente assistir, mesmo já sabendo tanto sobre o filme!

Unknown disse...

Ai ai... Como é bom passar por aqui e ter post novo... O filme será lançado ainda em 2007 né??!! Diga que sim Fernando PLEASE,PLEASE,PLEASE,PLEASE,PLEASE!!!

Marcelo Bedê Barros disse...

Tentarei ser curto: sou fã dos seus filmes, assisti CDD e JF 3vezes ou mais cada, e Ensaio Sobre a Cegueira é o filme que mais aguardo atualmente.

Além disso, você me fez - pelo seu blog - comprar o livro, que estou terminando de ler. Nem mesmo tinha lido Saramago, e ia começar por Evangelho Segundo Jesus Cristo, não fosse por você.

Enfim, sustente esta idéia de manter seus blogs e contatos conosco. Não nos deixe na cegueira branca. Fosse eu um cineasta no seu lugar, já poderia me dar por satisfeito. Antes mesmo de lançar o filme você influenciou pessoas, apoiou a leitura, ensinou sobre cinema e sobre vida, elogiou bons artistas e boas pessoas.

Antes mesmo de terminá-lo, seu trabalho atingiu seus objetivos. E que o filme supere ainda mais esse sucesso.

Abraços.

memórias solúveis disse...

Quando achei este blog, parecia uma garotinha em busca do chocolate, li cada post, confesso que imprimi alguns, e estou ansiosa para o resultado... Pois saber como foram construídas algumas cenas vai me proporcionar uma emoção diferente.

Estou a ler “Ensaio sobre a Cegueira” (este é o grande lance da decepção) sei que o filme nunca terá tempo suficiente pra ser fiel ao livro, é compreensível e desde que eu não saia do cinema sabendo quantos furos tem no teto, e Blindness me preenda os olhos na tela vou ficar encantada.





Ps: E se a cena estiver ruim, corta pro Gael. Aí é xeque-mate mesmo. ;)

memórias solúveis disse...

E o senhor é muito engraçado nas escritas, sempre caio no riso de ler estes post's. :D



Beijão !

Marcella Castro disse...

Obrigada pela dica de cinema! Muito gentil da sua parte. Assistirei certamente.
Bjos,
Marcella

Andre disse...

Fernando,provavelmente esse não é o local mais adequado para pedir, mas enfim, é a única forma que eu sei que vai chegar até você e não custa tentar. Eu escrevo contos, e minha maior inflência é o cinema. Sendo assim, costumo ler muitos roteiros (dos seus fimes, inclusive), e, você já deve ter adivinhado: tem como você me passar uma cópia do roteiro de Blindness?

Sou um otimista. Aí vai meu e-mail: timm_andre@yahoo.com.br

Abraço e bom trabalho. Estou ansioso para ver isso nas telas.

André

Andre disse...

Fernando,provavelmente esse não é o local mais adequado para pedir, mas enfim, é a única forma que eu sei que vai chegar até você e não custa tentar. Eu escrevo contos, e minha maior inflência é o cinema. Sendo assim, costumo ler muitos roteiros (dos seus fimes, inclusive), e, você já deve ter adivinhado: tem como você me passar uma cópia do roteiro de Blindness?

Sou um otimista. Aí vai meu e-mail: timm_andre@yahoo.com.br

Abraço e bom trabalho. Estou ansioso para ver isso nas telas.

André

Andre disse...

Fernando,provavelmente esse não é o local mais adequado para pedir, mas enfim, é a única forma que eu sei que vai chegar até você e não custa tentar. Eu escrevo contos, e minha maior inflência é o cinema. Sendo assim, costumo ler muitos roteiros (dos seus fimes, inclusive), e, você já deve ter adivinhado: tem como você me passar uma cópia do roteiro de Blindness?

Sou um otimista. Aí vai meu e-mail: timm_andre@yahoo.com.br

Abraço e bom trabalho. Estou ansioso para ver isso nas telas.

André

Andre disse...

Fernando,provavelmente esse não é o local mais adequado para pedir, mas enfim, é a única forma que eu sei que vai chegar até você e não custa tentar. Eu escrevo contos, e minha maior inflência é o cinema. Sendo assim, costumo ler muitos roteiros (dos seus fimes, inclusive), e, você já deve ter adivinhado: tem como você me passar uma cópia do roteiro de Blindness?

Sou um otimista. Aí vai meu e-mail: timm_andre@yahoo.com.br

Abraço e bom trabalho. Estou ansioso para ver isso nas telas.

André

Andre disse...

Fernando,provavelmente esse não é o local mais adequado para pedir, mas enfim, é a única forma que eu sei que vai chegar até você e não custa tentar. Eu escrevo contos, e minha maior inflência é o cinema. Sendo assim, costumo ler muitos roteiros (dos seus fimes, inclusive), e, você já deve ter adivinhado: tem como você me passar uma cópia do roteiro de Blindness?

Sou um otimista. Aí vai meu e-mail: timm_andre@yahoo.com.br

Abraço e bom trabalho. Estou ansioso para ver isso nas telas.

André

Eric Arantes Corrêa disse...

Fernando, adorei o post como sempre. Entretanto, acho que nem sempre filmes longos se tornam enfadonhos, arrastados e cansativos ao expectador. Muito pelo contrário, diferentemente de clichês hollywoodianos, os longas que realmente possuem conteúdo, vigor e abordam questões profundas ou envolventes, não são de maneira nenhuma enfadonhos... Que saiam aos 10 minutos de filme os que pensarem isso sobre Blindness! Não me causaria nenhum espanto se este filme durasse umas 3 horas. O "Zodíaco", com o Mark Ruffallo, por exemplo, não têm bem mais de 2 horas? Se falar em uma pá de clássicos.
Quem sou para perceber com a sensibilidade aguda e apurada de um diretor (sou músico, nada sei de edições de vídeo, somente de áudio)tão conceituado como você. Mas pense bem, um leitor ou expectador politizado que lê "Ensaio sobre a cegueira", certamente não ficaria nem um pouco entendiado com, por exemplo, "A lista de Schindler", um filme bastante longo. O que é importante, na minha humilde perspectiva, é a presença, a sensibilidade, a pulsação (não a ação) com que o filme é conduzido e apresentado ao expectador.
Por isso, por favor, Fernando, se o tempo é mais ou menos livremente determinado pelo diretor, não abuse dos cortes, temendo que o filme se torna débil e sonolento.
Parabéns pelo trabalho! Confio e admiro sua sensibilidade e competência.
Abraços!

Paola disse...

O tempo vivido e o tempo percebido
Quando a experiência é boa o tempo passa mais rápido.

Unknown disse...

Fernando, fantástico blog.
Gostaria muito de entrar em contato com você.

É possível?

Aquele abs

Andre Arruda

Nathally Carvalho disse...

Oi Fernando,

Descobri o seu blog no último dia 22, quando recebi no meu e-mail uma mensagem falando sobre este seu último post, e não poderia deixar de vir aqui, primeiro porque sou fã do seu trabalho desde que vi "O Jardineiro Fiel" (que é um dos meus filmes preferidos) e segundo porque também sou fã da Julianne Moore.

Acabei de ler todos os seus postes feitos até agora, e falo que não tinha a noção de quanto trabalho dá fazer um filme. Mas ao mesmo tempo, digo que fiquei fascinada e encantada com os seus relatos. Não vejo a hora de ver o filme...

Sobre os cortes, acho que é verdade que um filme muito longo pode ser massacrante, mas se a história, a direção e o elenco são bons, o filme pode ter até três horas que o público vê e gosta. E no caso de Blindess, todos os requisitos são preenchidos.

Só queria dizer que estou muito feliz por você ter aceitado a proposta de dirigir o filme, pois você é um grande diretor, que consegue conduzir o roteiro de forma magnífica. Estou louca para ver o resultado e colocar "Blindess" na minha lista de melhores filmes, junto com "O Jardineiro Fiel".

Abraços e espero mais notícias!!

Nathally Carvalho.

Anônimo disse...

Oi Fernando,

Eu sou editor, ou "montador", como vocês chaman no cinema. Nada de muito glamuroso: Casamentos, vídeos institucionais, estas coisas. Mas o que me impressionou mesmo foi a descrição do "poder" do editor(sem querer puxar a sardinha para o nosso lado, mas já puxando). Vejo que a única diferênça é o glamour hollywoodiano que, no ramo de casamentos e afins, não existe mesmo! Se não se importar, eu copiei o texto e enviei aos meus clientes, para ver se eles valorizam mais o cara da "sala de corte". Aliás, deixa eu te perguntar: Vocês tb costuman usar aquela frase universal que os ediores amam (Ah... o editor dá um jeito)? Pelo jeito, é assim mesmo não? Nós sempre temos que "dar um jeito"...rsrs

Abçs!

Emerson

Leone disse...

olá fernando, td bem?
então, descobri esse blog acho q na postangem 'sobre coco', não resisti e tive q compar e ler o livro na mesma semana.. rsrs

realmente é um conto mto completo, com várias visões e interpretações possíveis, oq deve ter sido (e pelo visto ainda está sendo) mto difícil sintetizá-lo nessas 2hrs...
mas fico tranquilo em relação a isso, pois pelo q transpareceu, vc o conduziu com mta sensibilidade, dedicação e competência (e sempre dando oportunidade a todos q participaram da produção em acrescentar algo)

fico feliz por esse 'contato direto' que temos com vc através do blog, compartilhando dúvidas, anseios e onde ficamos sabendo das técnicas que vcs usam para enganar a nós, leigos (porém cinéfilos).. heheh. Acho q o mais interessante é q isso nos da uma sensação de q tb fazemos parte do projeto...

enfim, parabéns e bom trabalho na conclusão...(agora preciso voltar para meu mundo e ir estudar.. prova segunda.. kkk)

abçs
Leone

K disse...

Prezado Fernando,
parabéns pelo blog. Acabei de ler de uma ponta a outra. Para quem estuda cinema ou mesmo para quem somente curte, é ouro puro.

Tb li Ensaio de uma vez só. O livro me deu pesadelos por vários dias, talvez por ser mesmo tão bom.

Acho que um dos desafios do filme, é alcançar o que o livro bem conseguiu: a plausibilidade dos acontecimentos, caso existissse semelhante tipo de cegueira contagiosa no mundo real.

Boa sorte e continue postando. Agradeço a oportunidade de ler!

Um abraço,
Kiko

ROBNEY BRUNO disse...

SOBRE CENTOPÉIA, GROCINE E DES.BITOLA

No mensenger, a Marcela Borela, me passa uma mensagem. Você não vai na reunião não! Olhei no relógio. 10:20. Caramba, tinha me esquecido da reunião no Centopéia as 10:30 sobre o Des.bitola. Estava envolvido fazendo alguns orçamentos de obra desde as oito, que nem vi o tempo passar. Dá pra você me dar uma carona, a Marcela de novo. Claro, passo aí em 10 minutos. Pode ser em 20. Tudo bem. Mulher é bicho complicado mesmo, pensei. Ao virar a esquina da rua onde a Marcela mora, já vejo sua figura exótica me esperando na calçada. Óculos escuros a la Lennon, vestido solto tipo indiano, vários colares no pescoço, bolsa hippie, e chinelos de dedo. Ao entrar no carro, lhe entrego um embrulho. O que é isso. Seu presente atrasado. Que presente. Do seu aniversário. Foi mês passado, mas não precisava. Imagina, agora você é uma Diretora premiada. Deixa eu ver. Ao vê-la desembrulhando o pacote, me lembrei da sua ousadia quando ela fez um discurso contundente na abertura do Festcine., e como se diz, metera a boca no trombone. Depois disso ela ficou conhecida como “a encreiqueirazinha do festcine”. O festival passou, e o documentário que ela tinha dirigido com a Lígia Benevides, chamado BOCA NO LIXO, havia levado o principal prêmio goiano do festival. 10 pilas. Nossa que lindo, um porta-retrato, e de cinema. É pra você colocar as suas fotos recebendo todos seus prêmios. Deixa de ser bobo, você têm muitos mais prêmios do que qualquer um de nós. Sabe onde é o Centopéia. Sei, respondi. Era onde deveria ser a sede do Grocine, na rua 94-A, próximo a Praça Cívica, pensei. Desde que o Grocine se desfizera há alguns meses, nunca mais tinha passado por ali. Quando fiquei sabendo que alguns remanescentes do grupo tinham se juntado e formado o CENTOPÉIA, e alugado o mesmo prédio, confesso que toda vez que pensava que um dia teria que ir até lá, me dava uma sensação de total desconforto. Na inauguração tinham feito um barulho tremendo, e até o Cláudio Assis (Baixio das Bestas), que estava dando um curso de direção em Goiânia, tinha passado por lá. Ainda bem que isso ocorreu numa semana que estava a trabalho em Brasília, e usei este fato como desculpa por não ter ido. Mas o dia tinha chegado, e dali há alguns minutos, eu estaria frente a frente, ao “monstro cheio de pernas” que um dia sonhara criar. Como foi a entrevista do mestrado. Arrasei, disse ela. Quando sai o resultado. Amanhã. Será que vai dar. Pra classificar sim, mas pra pegar a bolsa, não sei, são trinta vagas, mas somente doze bolsas, e a minha colocação na prova escrita foi em décimo quarto. Chiiii, pensei. E de quanto é a bolsa. Mil reais por mês, não é muito mas já é uma ajuda. Vi na lista do grocine um email da Aline – sim pelo menos na lista da internet o grocine ainda existe –, dizendo que tinha ficado contente por vocês terem ganho o prêmio, pois assim você poderia usar o dinheiro pro mestrado. Não, o dinheiro do prêmio eu e a Lígia vamos usar para terminar AS DAMAS DA VILA, “nostra película”, a bolsa vai ter que sair de qualquer jeito. Caramba, essa menina ama o cinema mesmo, pensei, tomara que dê tudo certo.
No Centopéia minha sensação foi como imaginei. De total desconforto. Encontramos a Aline Fratari e a Simone Caetano sentadas na escada que dava acesso ao segundo piso. Depois de ouvir a Aline sobre a dureza, no duplo sentido, que era ser realizador de audiovisual goiano, subimos sorrindo a escada. A Simone disse que tinha um compromisso e se despediu. A parte de cima do sobrado, tinha ficado para a sala de reunião, o banheiro comum, a copa, e uma sala de relax onde ficava a tv com alguns puffs, dividido por uma estante cheia de livros e revistas. Tudo de muito bom gosto. Melhor do que eu imaginaria. Onde estão o Erasmo e a Joelma, alguém perguntou. No piso de baixo, mas já estão subindo. Um dos entraves da reunião foi a arte do cartaz e do flyer que a Lígia deixou pronta antes de viajar para receber o prêmio de melhor roteiro, que o seu curta CADÊ A VÉIA, tinha ganhado no Festival de Curitiba. Ao mandar o arquivo por email, ela não converteu o texto em curvas, e tava tudo desconfigurado. A arte tinha que ser toda refeita. Beleza, disse a Marcela, vamos aproveitar e colocar as logos do UEG e do 14BIS, que também entraram como apoio ao projeto. Até que horas temos pra entregar a arte no Sebrae. Até as 18. Vai dar tempo, disse a Joelma que se tinha prontificado em refazer a arte. Depois disso, discutimos tudo, de como seria o cerimonial de apresentação até as regras do debate. O projeto do Des.bitola, ao contrário de que alguns pensam, não foi idéia minha. É idéia da maluca da Lígia. Ele surgiu numa viagem de carro entre Goiânia e Brasília, quando dei carona pra ela nas vésperas da filmagem do MORTO. Alguns dias depois, no curso de cinema do Icumam, que todos estavam fazendo, ela ventilou a idéia, e logo numa confluências de pensamentos, a Aline também disse que pensava num projeto assim, o Erasmo também, e bem aqui estamos todos tentando colocar o bicho em pé. Lembro que na volta, quando já nos convencíamos da importância do projeto, passamos a viagem inteira tentando descolar um bom nome. Depois de uma longa discussão, ela me mandou desbitolar. Na hora veio o click. Taí, o nome: Desbitola. Tem tudo a ver. A Liga tinha pensado em BITOLA CURTA, que era um projeto que já existia em Brasília, mas que não ficava legal copiar. A princípio ela relutou, até que eu a convenci, dizendo que ela tinha tido uma iluminação divina. Separaríamos o nome com um hífen, (a idéia do ponto só veio mas tarde pelo Erasmo) dando ênfase a palavra BITOLA, que tem tudo a ver com cinema. E o DES? O des, mandava todo mundo rever os seus conceitos, no sentido de não ficarmos bitolados em regras e conceitos pré-definidos, muito comum na área artística, principalmente no cinema. Alguém sabe quando a Lígia volta. Ela aproveitou a viagem e tá passando alguns dias no Rio, volta só na segunda dia 26. Ninguém tá com fome, são mais de uma da tarde. Tem um restaurante aqui do lado, a gente podia almoçar todo mundo e depois a gente continua. Eu não posso, prometi almoçar com a minha mãe hoje, era a Aline já pegando a bolsa e saindo.
Depois do almoço, na parte de baixo do sobrado vendo a Jô garrada na arte, fiquei analisando o piso inferior do prédio. Caramba, eles tinham feito melhor do que imaginei. Uma grande bancada ao redor do ambiente onde cada um tinha o seu computador conectado na internet. Aos poucos, a sensação de desconforto foi dando lugar a de alívio. Que se dane esses sentimentos de inveja que nos fazem pequenos: se não tínhamos conseguido com o Grocine, que bom que serviu para que fosse criado o Centopéia. Uma coisa que ainda não entendia era o motivo de cada um continuarem usando as sua logos pessoais. É Frita filmes. Fractal Filmes. Balacobaco. Peperoni, etc. Tá certo que há muito tempo eu já sabia que essa área de cinema era meio umbiguista. Ou eu sou doido mesmo como falam, ou cada um deles precisava ter a sua individualidade dentro do coletivo, mesmo que estivessem todos caminhando na mesma direção. Vai se saber. Mas o mais legal de se trabalhar num coletivo, é o ambiente. Sempre insisti nisso, desde quando o Grocine foi criado.. Compartilhar um com a experiência do outro, as conversas afins, as ajudas mútuas nos projetos, etc. Este ambiente saudável era o que mais me motivava com a criação do Grocine, e vi isso ali no Centopéia, todos trabalhando em harmonia. Perguntei pro Erasmo e pra Marcela se eles não queriam ver o MORTO. Subimos pro piso superior, e depois de cada um se acomodar num puff, o dvd rodou só a abertura e deu pau. Descemos pra ver no Notebok do Erasmo, mas ele também não rodou. Alguma coisa queria que o filme não fosse visto. Fazer o quê. Dei o dvd pra Marcela ver em casa, e depois me falar sobre as mudanças que poderia sugerir. O Erasmo então nos mostrou novamente o SUBJETIVO, seu curta autoral de seis minutos que também ganhou um dos prêmios do Festcine. Já tinha visto no Goiânia Mostra Curtas em outubro, e tinha ficado bastante impressionado. Disse pro Erasmo que ele ia rodar em muitos festivais, principalmente os alternativos. O celular da Marcela toca. Era alguém da UEG marcando uma reunião com a pró-reitoria sobre o apoio ao des.bitola. Gente, tenho que está lá em meia hora, disse ela desligando o celular. Ih, meu deus, preciso passar em casa e pôr uma sandália, afinal não posso ir numa reunião de chinelos. Não queira negar o que você é Marcela, disse, já vi muita gente do cinema que só usa chinelos, eles vão entender, o problema é que fiquei de levar a arte lá no Sebrae. Olhei pra Joelma como se perguntasse quanto tempo ela ainda ia gastar na arte. 40 minutos. Beleza, dá tempo de levar a Marcela na UEG, voltar pegar o cd com a arte, levar no Sebrae, voltar na UEG e pegar a Marcela novamente. Depois dessa maratona, já no caminho de volta pra deixar a Marcela em casa, ela me pergunta se eu tinha achado o dvd do morto que tinha esquecido no Centopéia. O Erasmo procurou em todos lugares e não achou. Será que perdi. Vê na bolsa. Já vi, num tá. Então deixa, depois peço pra Juliana fazer outra cópia. O celular toca. Era o Marcelo Carneiro, captador do LOUVA-DEUS. Robney, estou aqui na prefeitura tentando achar uma brecha na lei, pra ver se a gente ainda pode captar os dez mil que está faltando no mês que vêm. Vê isso com jeito, Marcelo, essa grana vai fazer muita falta. Pode deixar, se tiver jeito a gente consegue. Beleza, desliguei o celular, contando pra Marcela. Quando a gente começa a produzir. Não sei, só depois que tivermos resolvido toda a captação. Hoje o nosso Vila joga, disse. Ah é, a gente podia ir no estádio. Você vai ao estádio? Vou. Tem quando tempo que você foi. Acho que no semestre passado no jogo do Vila com o Goiás. Além de gostar de cinema, torce pro Vila e ainda vai ao estádio, pensei. A minha esposa odeia. Nem tudo é perfeito. A noite em casa, abro a minha agenda. O dvd do MORTO estava o tempo todo ali dentro. Surpreso, enfio no computador pra vê se tava com problema. Rodou que era uma beleza.

vanessa disse...

É mágico esse contato com o virtual, como aproxima mundos. Sonho com o dia em que trabalharei em pós-produção, ouvir como funciona os truques de edição de um filme, tenho certeza, magestojo amplia ainda mais a minha gana de um dia conseguir realizar esse meu sonho... Agradeço a oportunidade de poder vislumbrar sua realidade, a janela aberta pelo seu texto muito bem construído é muito emocionante. Acompanhei o seu blog desde o início em agosto, sem nunca me atrever a comentar, afinal, sempre me senti meio voyer deste universo que amo tanto mas ao mesmo tão distante da minha realidade... Me dei conta que não é um bicho assim de sete cabeças, que agora é só procurar as oportunidades que tenho certeza aparecerão como em um jogo de cartas é só questão de saber jogar e receber as cartas certas, ou saber utilizar as que estão nas suas mãos...
boa sorte e mais uma vez muito obrigada!

Patty Diphusa disse...

Vc voltou, que bom. Sobre esse trabalho de montagem, juntões, não sei o que eu sinto. O filme está nu. E admiro sua coragem de expô-lo dessa forma.
Eu já trabalhei com textos que precisavam de muitos cortes e promovi o massacre da serra elétrica apesar da dor no coração (nem sempre, é verdade). A única preocupação era a de que o sentido permanecesse. Eu sei que o seu desafio com linguagens e visual é muito maior. Mas será que eu devia ter pensado em publicar uma foto da Julianne Moore, se não visse saída?
Bjs

Marcos Bessa disse...

Estou super ansioso por ver o filme! Tenho seguido atentamente este seu diário... Parabéns! ;)

Abraços de Portugal!

P.S. Estou à espera de ter um tempinho livre para ver "A Cidade de Deus".... Tenho ouvido falar mt bem do filme, mas o tempo é sempre pouco... :/

Henrique Galli disse...

“É muito fácil tapear o espectador”. Não precisa sentir muito. A maioria está aqui porque quer fazer também, portanto é importante aprender esses “macetes”. No meu caso, onde o interesse é o roteiro, você deu grandes e boas dicas sobre o assunto.

Vini Correia disse...

Salve Meirelles,
Gostaria de ler aqui no seu blog um post sobre o processo de criaçào e construçào da trilha-sonora deste filme.
abraço!!

Unknown disse...

Fernando...

Last week of shoot for me...and then...It's a wrap!!!

Não acabe o blog por favor!

Boa sorte na montagem...eu tenho certeza que teremos um filme maravilhoso!

Abraços

Miguel Marcarian disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Miguel Marcarian disse...

é verdade o que falaram... nunca mais verei um corte para a Julianne como antes...
tô achando interessante como você desmistifica seu trabalho... que no entanto, qualquer um que tenha tentado contar uma história de modo interessante sabe, continua sendo a grande mágica que é fazer a outra pessoa acreditar no que contamos. seja com truques digitais, avenidas de metrópoles cheias de figurantes ou dando um segundo de silêncio antes de cada palavra... todo o truque vale a pena se a história não é pequena, rs...
e vou parando que não quero escrever mais que você...
.
ah, e esse blog já entrega sua capacidade de contar histórias...

Maurício Fonseca disse...

Esse blog tem-me um carater didático. Vou lembrar de algumas coisas na hora de gravar e montar meu curta...

Mateus disse...

Fernando,

Como pode?

Você me faz ficar com lágrimas nos olhos a cada post seu.

Eu, arfante, digo: obrigado.

Ass.: Leonardo Moura

Unknown disse...

Fernando,

que generosidade a sua partilhar o universo da criação de um filme conosco, cinéfilos ávidos e sequiosos por qualquer coisa que nos fale de nossa paixão. De agora em diante, você não terá mais sossego, pois vamos sempre cobrar um blog de cada filme que estiver rodando. Quem manda, ainda por cima, escrever bem?
Como é difícil fazer um filme!...
Estou muito ansiosa e gostaria de ser convidada (muita folga, não?) para a estréia... será?...
Um grande beijo

Ana Lanzoni

Doug disse...

Quanta gente chata aqui querendo aparecer :P Fernando não vai responder vocês, por melhor profissionais que sejam, não puxem o saco...

Fernando fala comigo!!!
dougdmelo@bol.com.br


:]

memórias solúveis disse...

haha :D


Este comentario do dougrasu foi o mais engraçado! Vou tentar também, pois conversar com pessoas diferentes pode render bons resultados !

e-mail:talitha.favaro@terra.com.br
msn: lainnn@hotmail.com
orkut kutkut: http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=12808413029086062565









Na esperança...

Iza disse...

vc escreve bem tbbbbbbbbbbb eh???
esse vloh é o the best

queria ver o juntão
sucesso

Cilla Carvalho disse...

Eu odeio deixar comentários que não acrescentem nada no blog dos outros - mas esse eu precisava deixar: adorei o seu post! E por uma simples visão da realidade que ele me deu: esse "dolorido" de transformar uma idéia, em um produto final, deixá-lo pronto pra ser visto pelos outros etc., pelo visto, nunca vai embora.

ROBNEY BRUNO disse...

Gente, como o Fernando e ninguém se manifestou contra os dois últimos textos que publiquei aqui, publico agora o ultimo da série. Estes três textos fazem parte de um exercício de roteirização e também estão publicados em meu blog www.euquerofazerlonga.blogspot.com.


SOBRE REFÚGIO, PEÇAS DE TEATRO E ALMODÓVAR.

A campanhia toca. Assustado pulo da cama e olho no relógio. 07:30. Deve ser os móveis, pensei. Ainda sonizado atendo a porta. Era o cara da água, dizendo que não tinha feito a entrega ontem por causa da chuva. Vendo ele trocar os garrafões fico imaginando a função de cada um no mundo. O que será que esse cara estará fazendo daqui a dez anos. Pronto. Quanto é. 4,50. Olho em cima do micro-ondas e pego o dinheiro já trocado. As meninas com a babá devem ter descido pro parquinho, diz a minha consciência ainda sonolenta. Muito obrigado. De nada. Os vazamentos da cobertura da obra de Brasília finalmente pareciam sanados, e esses dias de folga do trabalho estavam sendo providenciáveis. Iria aproveitar para me dedicar ao des.bitola e terminar de montar o meu escritório em casa. Desde a metade do ano quando me associei a uma outra construtora, a sala da galeria onde eu funcionava, estava jogada as traças. A intenção era tê-la entregue à imobiliária no final de junho, mas devido a produção do MORTO, resolvi deixá-la aberta por mais um tempo para que servisse de base de produção. Acabado as filmagens um amigo me perguntou se eu não iria fechá-la. Relutei dizendo que a manteria até quando pudesse, para que ela servisse como uma espécie de refúgio. Quando o bicho pegava, era pra lá que eu me trancaria e ficaria a sonhar com o meu mundo. Todo mundo sabe que ter escritório em casa pode ser bom ou ruim. No meu caso era os dois. Eu teria o meu refúgio para me dedicar aos meus projetos quando bem entendesse, mas para isso as minhas filhas perderiam o quarto de brinquedos. A vida era cheia de sacrifícios, e seria bom que elas começassem a aprender desde cedo. Quando os móveis chegaram em pouco tempo já tava tudo no lugar. No mensenger a Marcela Borela me pergunta se eu vou assistir a peça Édipo Rei com a Adriana Veloso, uma das atrizes do MORTO, no Martin Cererê a noite, ela faz questão de ver você lá. Não vai dá, disse, quero ir no Goiânia Ouro assistir o Newton Murce, lembra dele. O que todo mundo queria para o papel do MORTO. Ele mesmo. Nos testes de atores que fizemos para o filme, todos estavam convencidos que o Newton é quem deveria ser o escolhido, mas como eu nunca costumo seguir os conselhos dos outros, me decidi por um outro ator, o Rodrigo Jubé, o que surpreendeu a todos.O Franco Pimentel, preparador de atores e cúmplices em meus projetos, me perguntou com a cara feia: Você tem certeza do que está fazendo.Só vou saber quando o filme estiver pronto, respondi na época. E você vai ver a peça da Adriana, perguntei. Vou sim. Vai com o novo namorado. Não, com o velho mesmo. Voltou com o Pablito. Estamos vendo. Você quer dizer conversando. Isso. O nosso Vila perdeu ontem. Ah é, de quanto. 3 a 2. Que bosta. Posso te fazer uma pergunta. Manda. Será que um dia a gente chega lá. Claro, não tenho a menor dúvida, por que. Nada, é que as vezes acho que essa luta toda está sendo em vão. A gente tem até quando para fazer o longa. A minha combinação com o André é que a gente comece a produzi-lo em 2009. A gente consegue pode deixar. O otimismo da Marcela é uma das coisas mais impressionantes que eu já tinha visto. Quando a turma do Grocine se debandara, ela foi uma das poucas que ficou me dando força para que não desistisse do MORTO. Posso te fazer outra pergunta. Manda. Você gosta de jiló. Jiló, mas por que uma pergunta dessa. Gosta ou não gosta. Até que gosto, mas por que você quer saber. O celular toca, pelo display vejo o nome Alcatéia. Era a Juliana Corso, editora do MORTO. E aí, fez as anotações de mudança do filme, disse ela. Fiz, disse eu, a reunião de hoje tá confirmada. Por mim tudo bem, mas o Vítor viajou com a peça do Hugo Rodas. Então não vai dar Juliana, gostaria de conversar com você e com o Vítor juntos, quando ele volta. Segunda. Então na segunda a gente se reúne. Beleza. Quando volto minha atenção para a tela do computador, vejo o emoticons da Marcela me dando tchau. Tenho que sair, bjos. O resto do dia passei revendo planilhas de orçamentos de obra, quando num repente me veio a mente o sonho que tive a noite. Alguém me conduzia por uma sala escura e me sentava numa cadeira. Em seguida começava uma projeção na tela com uma música. Ei espera, essa música aí é do BILHETE. Alguém me fez sentar novamente. Tentei ver quem era mas não deu.. Ver um filme após um longo período é muito bom pois esse distanciamento ajuda você a refletir melhor sobre a sua obra. Sempre achei o roteiro do bilhete, o melhor que escrevi até hoje, quer dizer, nele tem tudo o que um bom roteiro pede: drama, suspense, ação, romance e até humor, coisa que não sou muito bom. Tudo isso contado através de um arco narrativo onde o espectador se surpreende a cada cena, isso sem falar no final do filme, que não é nem um pouco feliz para os seus protagonistas. Aos poucos fui ajeitando na cadeira e me deixando levar pela história. Tava tudo ali, como fizemos as duras penas em 2004. Mas para a minha grande surpresa todos os problemas de fotografia, de áudio, e erros de arte e continuidade tinham desaparecidos do filme como se fosse mágica. Até a música em certos momentos tava no tom como gostaria que tivesse sido. Ao final da sessão me levanto perguntando como conseguiram fazer aquilo. Surpreso olho para trás e vejo o Pedro Almodóvar, em pé me aplaudindo. Uma pessoa me dizia que ele queria comprar os direitos do filme para filmá-lo em espanhol, só que em longa. Não acreditei. Teria o meu filme numa versão espanhol de longa-metragem e ainda dirigido pelo Almodóvar, só podia ser sonho mesmo. Nunca fui fã do cara, quer dizer acho que até hoje só assisti dois de seus filmes, Má Educácion, que um colega dizia que era um filme de viado feito para viado, e Volver, com a gostosa da Penélope Cruz. Aliás, este último tem um dos arcos narrativos mais interessantes que já vi em cinema. Mostra como é importante valorizar os personagens secundários para que os principais possam brilhar. Sem querer me veio na lembrança a visita que fizemos a Silvânia em fevereiro para conhecer melhor o André De Leones, autor do romance que estamos adaptando para o cinema e que deve ser o nosso primeiro longa-metragem. Após a tradicional visita pela cidade, estávamos num barzinho conversando sobre o filme. O pessoal da equipe achava que eu tinha sido muito radical colocando no final do filme a personagem principal decadente e casada com o jovem traficante que aparecia no início. Achavam que eu estava dando muita importância para um personagem secundário. No livro do André isso não acontecia, mas quando olhei para ele, vi em seus olhos que eu poderia fazer como quisesse. Todos nós tínhamos muito ainda que aprender sobre cinema para fazer cinema. E o Almodóvar que não se surpreendesse, quando lhe mostrasse as duas seqüências finais que cortei do Bilhete, para que não estourasse o tempo de 30 minutos, pensei imaginando em como ia gastar a grana dos direitos.
No fim do dia minha esposa passa uma mensagem. Dim, vamos no aniversário da pastora Jones hoje. Não vai dá, tenho que ir ao teatro ver uma peça, o Franco vai comigo. Ah, então eu quero ir. Mas e as meninas. Espera aí. [...] Olha só liguei pra Meire, ela disse que a gente pode deixar as meninas com ela. Mas ela não fez uma cirurgia esses dias. Apendicite é uma cirurgia simples, não tem problema, além do mais as meninas adoram o Igor, vai dando banho na Geovanna enquanto eu pego a Sarah na escola. Pa-pai poquê socê tem piu-piu. Porque o papai é igual ao Igor, um menino. O igo num é minino. O que ele é então. Ele é igo uai. Terminando de ensaboá-la fiquei sorrindo imaginando como a vida seria mais simples se cada um de nós fôssemos apenas nós mesmos, sem máscaras ou representações teatrais, como a que eu veria logo mais. A noite no foyer do teatro, esperando a peça começar, a Júlia Galindo, a outra atriz do MORTO, aparece sozinha para assistir a peça. E aí tudo bem. Tudo. Você já conhecia minha esposa. Não, muito prazer. Essa é a Júlia, atriz que participou do nosso último filme, UM MORTO NA SALA. Como vai. Cadê o maridão. Ficou em casa emburrado, olhando as crianças. Mas que marido, hein, disse minha esposa olhando pra mim. É que o Newton é meu amigo e eu não poderia deixar de vir. Então Júlia, aquele dia da apresentação do filme não tive tempo de conversar com você, o que achou. Eu não sei, eu gostei mas acho que poderia ter ficado melhor se você fizesse as cenas que ficaram faltando. É verdade, pensei, já estava cansado de ouvir isso, que para o lançamento oficial do filme eu deveria fazer as duas cenas que não foram filmadas. Gosto do filme como ficou, mas a verdade é que também gostaria de ter feito essas cenas, mesmo que elas não tivessem no roteiro original, mas é que a grana do filme tinha acabado e eu estava numa verdadeira sinuca, meio sem saber o que fazer. Após a chegada do Franco, como sempre meio atrasado, entramos pra assistir a peça. Já sentados pergunto ao Franco sobre a peça. É um monólogo, texto adaptado da obra de Clarice Lispector, chamado ATRÁS DO PENSAMENTO. Durante os 50 minutos da peça vendo e ouvindo o Newton, me lembro da última entrevista da Clarice na tv em 1977, pouco antes de sua morte. Na verdade o que veio a minha mente foi uma frase dela: Quando não escrevo é o mesmo que estivesse morta. No fim da peça fomos cumprimentar o Newton. Se tem uma coisa que eu gosto no teatro é sentir a energia dos atores após uma apresentação. Abraça-los é como se conectar numa rede de 220 volts sem risco de tomar choque. Acho que eu jamais me daria pra tal desprendimento. A noite em casa pego a cegueira e leio mais dez páginas. Acostumado com o sotaque lusitano do Saramago, vou acompanhando a trajetória do primeiro que cegara, do médico, da mulher do médico, da rapariga de óculos escuros, do garoto estrábico, e do velho da venda preta. Não tinha chegado ainda no Gael, rei da camarata 3, mas sinto que estava quase lá. Cansado, desligo o abajur, viro de lado e fecho os olhos. Torce pro Vila. Vai ao estádio. Gosta de cinema e de jiló. Close nos meus olhos que repentinamente se abrem. Será que ela também gosta de pescaria. Tela em Black. Entra música.

A OUTRA disse...

Sempre gostei de agradecer a quem visita o meu blog, seja por um acaso, daqueles em que nos metemos por becos para ver onde vão dar, seja porque alguma coisa má ou boa lhes chamou a atenção.
Vim dar a um lugar que vou tentar ver mais em profundidade, até porque a montagem dum filma é algo que sempre me intrigou, aquela coisa do é e não é, o saber que uma imagem foi filmada aqui outra a kms de distância e depois não nos apercebemos que assim foi.
Um abraço e se me deixarem ... eu volto

Unknown disse...

Caro Fernando,

Li seus comentários acerca do filme ´´Blindness´´ e vi como vc é preocupado e fica martelando as cenas e programando-as. Tenho certeza que será um sucesso. Gostaria de enviar um livro pra vc. Trata-se do livro : URSO BRANCO- A porta do Inferno, livro real e lançado em 2006, onde um Engenheiro Agrônomo, após cometer um homicídio, conta toda sua vida, inclusive a carcerária, encerrando com a chacina de 27 mortos, aqui na Amazônia. Há fotos chocantes do ocorrido. O Brasil encontra-se embargado internacionalmente, pela OEA, por conta dessa chacina. Como possa lhe enviar o livro? Um abraço, George Braga.
(site do livro: www.livroursobranco.com.br)

Unknown disse...

Caro Fernando,

Li seus comentários acerca do filme ´´Blindness´´ e vi como vc é preocupado e fica martelando as cenas e programando-as. Tenho certeza que será um sucesso. Gostaria de enviar um livro pra vc. Trata-se do livro : URSO BRANCO- A porta do Inferno, livro real e lançado em 2006, onde um Engenheiro Agrônomo, após cometer um homicídio, conta toda sua vida, inclusive a carcerária, encerrando com a chacina de 27 mortos, aqui na Amazônia. Há fotos chocantes do ocorrido. O Brasil encontra-se embargado internacionalmente, pela OEA, por conta dessa chacina. Como possa lhe enviar o livro? Um abraço, George Braga.
(site do livro: www.livroursobranco.com.br)

Unknown disse...

Montagem é assim mesmo: Tudo parece como sempre, a primeira vez. É definitivamente um parto natural onde todos estão cansados de saber com faz mas, um filme vai ser sempre diferente do outro. Pinta aquela insegurança mas, confie Fernando que vai ser mais um grande exito para vc e sua equipe. Espero anciosamente aqui em Lisboa pelo lançamneto do filme

Miguel Marcarian disse...
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Unknown disse...

FERNANDO!!!
POSTA MAIIISSSSSS, POR FAVOR,POR FAVOR,POR FAVOR,POR FAVOR,POR FAVOR,POR FAVOR,POR FAVOR :) :)

VC É FANTÁSTICO, PARABÉNS!!!!

Sol disse...

Fernando, bem poderias deixar um post de saideira de 2007.
Obrigado por este blog!
Ótimo 2008!

Unknown disse...

Por mim, nem precisava reduzir nada.

Fica o recado: Não ligue quando aparecer por aqui recados inconvenientes, porque eles virão. Eis a diversidade humana.

Um grande beijo, LARISSA.

Eli Mafra disse...

Eu não me lembro se já comentei nesse post ou não, mas como é rapidinho, eu falo de novo.
O seu blog é uma aula de cinema, Meirelles. A cada novo post penso que não posso querer fazer outra coisa da vida além de estar num set de filmagem. =)
Ansiosa para ver o filme completo.

Elisa Mafra

Jofre Carsou Hey disse...

Resposta para Suzana Elvas:
Me parece que Ensaio sobre a Cegueira foi, a princípio, cogitado. Porém houve algum problema com os direitos autorais. Não sei, não sei... ouvi falar. Me corrijam por favor.

ROBNEY BRUNO disse...

TROPA DE ELITE
Só tem uma coisa que me incomoda em tropa de elite:
Sua estrutura/estética narrativa é muido “cidadededeuseriana”. Ou seja, a história começa uma cena que choca no início, volta para contar a história até aquele ponto, e depois continua a partir dali. Isso sem falar na espada “samurai” utilizada pelo Daniel Rezende na edição. Vai gostar de fazer corte pra lá. No novo filme do Meirelles, Blindness, que deve ser bem mais lento, não sei como ele vai se virar.
Robney Bruno

Unknown disse...

Qualé mérrmãun, vai abandonar o blog???? Sacanagem, atualiza nem que seja com um parágrafo retórico contando nada.....

Iza disse...

Fernando fale masi como foi dirigir a Julianne????
Como andam as coisas?

Sucesso
Iza

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Uma vez fui convidada a assistir ao Copiao de um filme. Achei super interessante.
Eu concordo que cortes sao fundamentais. Tanto em cenas de filmes como em livros. Nem sempre conseguimos encaixar tudo o que queremos. Ou cortamos ou damos uma continuidade ao filme. Isso tem acontecido bastante dentro do setor cinematográfico americano. Eu mesma acabei de lancar meu livro online e fiz muito cortes nele até a etapa final. Adorei essa de subornar o montador. Acho que muita gente nunca pensou em tal coisa.

Grande abraco

o Cronista disse...

olá, estou conhecendo seu blog agora, e estou adorando,
claro que estive a um passo de fazer cinema e de conhe-lo, em outras datas, mas agora ficam minhas expectativas como expectador.
lendo-o ,porém não fico tão longe de meus roteiros e paixão pela camera....

abraços

o Cronista disse...

Descobri agora que vc tb é arquiteto, disciplina da qual estudo agora e sou apaixonado tb...
axo q ajuda na montagem da direção de arte, como em todo o resto!

Miguel Marcarian disse...

ah, o Natal chegando... dê um presentinho pra gente, pobres dependentes sem reabilitação...
manda mais um texto. vc manda bem.
rs.

Menina disse...

Passando para conhecer o seu blog. Parabéns!!!
Menin@

ROBNEY BRUNO disse...
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ROBNEY BRUNO disse...
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Julianna Granjeia disse...
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Julianna Granjeia disse...

Sentindo falta dos seus posts-poesias-lições de cinema...
Não abandone o blog!!!!!!

Paola disse...

Ai que saudade!

ROBNEY BRUNO disse...

A CEGUEIRA DE SARAMAGO E MEIRELLES

por Robney Bruno

Pertubador. Se fosse possível resumir o livro ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, de José Saramago, em uma única palavra, essa seria a minha escolhida. Ao saber da adaptação do livro para o cinema, com direção de Fernando Meireles, fugi da leitura do livro para não ser influenciado. Mudanças de linguagens sempre são temerárias, ainda mais quando se trata de um escritor de grande renome. Sempre alguma coisa sai perdendo neste processo: no livro, os leitores que certamente o deixarão de ler para assistir o filme (como eu quase o fiz) - e no filme, toda a subjetividade intrínseca do autor ao escrevê-lo, e dos leitores ao lê-lo.

Uma das coisas mais perturbadora no livro com certeza é imaginar, como se isso fosse possível, uma cidade inteira de cegos. Pela realidade narrada, bastaria nos faltar um dos sentidos que voltaríamos a mais completa selvageria. Seríamos como animais em busca de um único propósito, a sobrevivência. Mas indo contra o que ouvi da maioria, o livro não é de se embrulhar o estômago. Pelo contrário, confesso que me divertir muito com a bancarrota do império capitalista que nos governa. Assistir todo um sistema que levou a evolução inteira para chegar ao ápice do que somos hoje, ruir diante de um simples toque como peças de dominó. Carros abandonados, supermercados saqueados, o sistema bancário falido, pessoas perambulando sem status. Sonho com isso todos os dias. Com os "Herchcovitchs" da vida tomando água suja, com o padrão globo de qualidade sem saber sua audiência, com os governantes sem ter como apertar o botão que nos controla. Essa é a grande viagem que o livro me rendeu, não a simples parábola da visão, (oh!, que para enxergarmos seria necessário perdermos a visão, que pra mim não passa de uma piada saramesca), mas a que não precisamos de todo esse sistema “idiossincrata” que nos governa para que possamos viver. Enxergar isso no livro foi realmente compensador e o que certamente, também vai fazer valer a pena a viagem do filme. Aliás, é nas imagens do filme que deve estar o seu grande impacto. Como conseguir traduzir tantas cenas com a mesma verossimilhança que o livro nos passa, fugindo dos habituais clichês que o livro nos remete (cegos sem parecerem zumbis e a urbanidade caótica sem os efeitos katrínicos). Estes devem ser os desafios de Meirelles. Fecho os olhos e vejo o disco amarelo iluminando-se. Também estou cego. Um a um somos guiados em direção as camaratas. Ouço o "altifalante". Sinto o cheiro da merda toda. Vou a camarata 3. Sou estuprado, chupo e mato. Fogo. A chuva lava o meu corpo. Sou guiado pelas ruas da cidade. Através dos olhos da Julianne ,vejo os carros abandonados, o lixo espalhado, comércios saqueados, pessoas mortas, matilhas de cães que vagam. Visito primeiro a casa da rapariga de óculos escuros, depois a casa do médico e a casa do primeiro que cegara. Atrás de comida e combalido, entro numa igreja onde todas as imagens sacras estão como sempre foram, de olhos vendados. O que é isso. Ninguém responde. Olho para cima e vejo o céu branco, todo branco, como a brancura da cegueira que nos cegara. Chegou a minha vez, penso. Abro os olhos. A tela do computador ainda estava ali. Uma pena.

Assistir ao filme certamente vai ser uma viagem diferente a que o livro nos proporciona. A cegueira de um, certamente não vai ser a mesma cegueira do outro. Enquanto o livro nos abre os olhos para coisas que há muito tempo deixamos de enxergar, o que o filme deve fazer, pelo menos até a sua estréia, fica no campo imagético de cada um. O que podemos neste momento é apenas esperar e torcer para que Meirelles consiga, como em seus outros trabalhos, nos surpreender com uma narrativa e estética única em seus filmes. Não criar grandes expectativas sobre um projeto é uma das primeiras coisas que se deve aprender neste mundo frágil do cinema. Ainda mais se tratando de um filme feito para se conseguir grande público nas bilheterias. Nem sempre a mágica funciona ou às vezes a soma dos números bate. A única certeza que se tem é que o filme jamais deve se igualar ao livro, não só pela linguagem diferente de ambos, mas como também pelos seus diferentes objetivos. Ma isso é como ouvir o velho ditado: livro é livro, e filme é filme.

Cristiana disse...

Fernando, sei que Vc está ocupado, mas vê se nos presenteia com um "wrap-up post" pra encerrar as filmagens virtuais de que estamos fazendo parte! Obrigadíssima desde já.

Unknown disse...

Também vi, Fernando. Vi semana passada aqui no Recife "A Casa de Alice", o filme é de uma sensibilidade suprema, humano demais. E essa sessão contou com a participação do realizador, Chico Texeira, em um debate logo após o filme, que endossou o resultado descrevendo como funcionou o processo de criação.

Não sou de cinema, mas gosto muito quando o diretor vai apresentar seu filme e em seguida se dispõe a participar de um debate, conversar conosco, se abrir em relação ao que pensou para o filme, até aos problemas, aos grandes momentos que ele e a equipe viveram ali.

Aquela coisa sabatinesca também vale, mas quando o diretor empresta não só o olhar do seu trabalho, mas o seu texto, acrescenta muito na nossa percepção do filme e também do resto, concorda? Você está fazendo isso aqui de alguma forma, eu tinha lido o livro, não saí ileso dele e confesso que desde que vi isso aqui fiquei bastante ansioso pelo filme. Ainda mais agora, pois ontem vi Juliane Moore em "Savage Grace", você deve ter visto, realmente, tê-la no elenco é ter uma carta coringa eterna na manga, ela é fantástica.

E Saramago foi demais, não? Falo isso pela história que você falou da única exigência dele, apenas do cão das lágrimas ser um cachorro bem grande. Interessante que ele não escreveu isso no livro, eu imaginava o cachorro um vira-lata médio.

No mais, saudações e bom trabalho pra você e sua equipe.

Abraços

Victor Rodrigues

Maurício Fonseca disse...

Quero falar da relação cinema e teatro. Do encomodo que tenho e já tive ao vivenciar gravações de cinema e ter a sensação que nada daquilo daria um filme. Depois chega um montador e vendo as cenas brutas diz - Isso dá um puta filme. Durante a execução dos planos no estudio ou numa externa, cameras em seus lugares, marcações - vc olha pro monitor e o elenco faz o que o roteiro diz, ou o q o diretor quer extrair. Parecia-me as vezes que não havia encenação - o cinema só nasceria na sala de edição. O filme SANTIAGO do Moreira Salles me fez repensar essa idéia que me atormenta. Quando o filme dele, 13 anos depois ganhou outro sentido na sala da edição. Pra não dizer, quando filmei no quintal de casa, na edícula dos fundos, cenas aleatórias, que no bruto eram "banais" e depois editei razoavelmente, o q fez nascer um micro curta sobre o conceito de abandono. O cinema é adimirável e estranho. Abs

ROBNEY BRUNO disse...

Cara, você tá tendo uma visão completamente errada do processo. O Cinema é a mais coletiva de todas as artes, e a edição é apenas uma parte dela. Se todas as outras etapas não tiverem sido feitas a contento, não há editor que salve o filme. Quando o fernando disse "acho que dá pra salvar", é que o material que foi pensado antes tava ali, em estado bruto, mas estava ali.

Iza disse...

Feliz Natal!
Saudades de suas aparições
já saiu do Juntão?

Renatinho disse...

Fernando, só preciso te agardecer pelo momento, e o fiz através também de um Blog:
http://a-houndtheworld.blogspot.com/
Sei que talvez seja difícil para você ter o tempo necessário para ler.....mas o texto é curto, é simples e é direto....estou voltando a enexergar depois de cair na real sobre como é a minha visão de mundo, e o seu blog colaborou para isso. Obrigado

JM disse...

Quero só ver no que vai dar essa experiência maluca de ler teu blogue antes de conferir o filme. Obrigado por revelar um pouco de como tapear o telespectador, senti-me muito bem lendo essas coisas! Brincadeiras à parte, espero que acompanhar teus textos me faça valorizar ainda mais o filme. A expectativa é grande. Confio muito no seu estilo 'jazz'. Um grande abraço.

Unknown disse...

Fernando, quer nos matar de ansiedade é?! Está quase conseguindo..rs... Notícias please!!!! Bjs.

Luciana Pessanha disse...

Oi Fernando,
Descobri o blog só agora, muito tardiamente, e li do final para o começo.
Muito generoso da sua parte dividir seu processo.
É engracado ver o que tem de angústia, de excitação, de prazer e de confiança, tudo misturado. Muito legal.
Fiquei com muito medo por você, porque é um livro difícil. Nunca a leitura de nada me provocou sensações tão fortes. Você tem razão: dá pra sentir o cheiro horrível passando as páginas. É muito desamparo.
Eu estava em Barcelona sozinha, peguei uma gripe (Espanhola, veja bem) e achei que ia morrer. Tive que parar a leitura pra ficar boa.
Boa edição pra vocês.

Miguel Marcarian disse...

Bem, esse silêncio aqui deve significar alta ansiedade em alguma sala de edição. Momento Edward Mãos-de-Tesoura...

ROBNEY BRUNO disse...
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ROBNEY BRUNO disse...

MINHAs TRAGÉDIAs IMAGINÁRIAs

por Robney Bruno

Se tem alguma coisa que gostaria de ter nessa vida, era o poder de enxergar dentro do coração das pessoas. Num mundo onde as aparências enganam e as máscaras camuflam o que as pessoas sentem, ter o poder de saber quem realmente elas são, seria mesmo algo muito valioso. Já pensou, olhar para as pessoas e de imediato ver as suas reais intenções. Saber quando elas estão dizendo a verdade ou mentindo. Olhe aquele lá com descendência árabe, leva no corpo uma tonelada de bombas. Coitado daquele outro, matou a esposa com o amante, depois os filhos e em seguida suicidou. E aquela que se casou por dinheiro e descobriu que a apólice de vida do marido não valia mais nada, só depois que mandou matá-lo. Ou então, imagine hoje saber que aquela menina que você foi apaixonado na adolescência e que nunca teve coragem de se declarar, também gostava de você. Quantas tragédias não poderiam ter sido evitadas. Se você é daqueles que ainda não entendeu nada - inclusive o título deste texto - e pergunta aonde quero chegar com tudo isso, só lhe peço mais um pouco de paciência para que eu possa me explicar.

A minha vida toda tem sido feita de pequenas e grandes tragédias imaginárias. A primeira delas aconteceu quando eu nasci e me acompanhou durante um bom tempo, quando imaginava em não ser filho da minha mãe, mas da atriz Natália do Valle, pela qual me apaixonei com 14 anos quando a vi de cabelos curtos na novela Final Feliz em 1982 – aquela do “ô seu Rodrigo”, alguém lembra? – Eu explico: É que quando a minha mãe teve a minha irmã 11 meses antes de mim, ela sofreu um ataque anafilático, e ficou internada por mais de dois meses. Faz as contas: ou o meu pai era mesmo bom de pontaria e tinha pego minha mãe ainda no hospital, ou eu tinha sido adotado, e assim poderia imaginar ser filho de quem eu quisesse, sacou? A segunda delas aconteceu nas vésperas de nossa mudança de Jaraguá para Goiânia. Estava na quarta série e era o último dia de aula. Tinha um aluno na minha sala, que passou o ano inteiro dizendo que ia me pegar. Até hoje não consigo lembrar o nome dele, só o apelido, ratinho. Era um garoto ruivo cheio de sardas - pra quem participou do O BILHETE, sabe que eu tentei encontrar um garoto muito parecido com este para um dos papéis no filme - Só mais um dia e eu estaria livre daquela perseguição, imaginei, até que na saída da escola, ele chega por trás dizendo que dessa vez eu não escaparia. Céu, sol, nuvem, e o baque no chão. Ainda deitado tentando aparar o sangue que escorria do meu nariz, vi o garoto se afastando sorrindo, e fiquei a imaginar o que eu poderia ter feito que provocara tamanha tragédia em minha vida. Uma terceira e necessária tragédia aconteceu quando já estávamos morando em Goiânia, no Parque das Laranjeiras. A história do bom e velho KICHUTE. Pra quem foi moleque nas décadas de 70 e 80 sabe que este tênis de cadarço comprido, feito de lona e com cravos de borracha, era o elegido pela maioria dos pais, não só pelo seu aspecto de chuteira que encantava a garotada, mas principalmente pelo seu preço popular, que favorecia o orçamento de uma família numerosa como a nossa , onde éramos seis irmãos dos quais quatro homens. O problema era que eles - nossos pais - achavam que eles - os kichutes – eram pau pra toda obra: serviam pra jogar bola, ir a escola, a igreja, e até aos bailes de formatura. Foi quando o meu irmão, 06 anos mais velho, chega em casa todo orgulhoso, com uma caixa debaixo do braço, onde se via o desenho estilizado de um galo. Para a surpresa da nossa mãe, ele havia gasto todo o seu primeiro salário de office-boy, com um novo tênis, último lançamento da época, da marca le coq sportiff. A grande tragédia foi me recolher no galho mais alto dos pés de mangas do bairro e ter chorado a tarde inteira, imaginando que mal eu teria feito pro mundo, que ainda não merecia um tênis como aquele. Mas por maior que fossem as tragédias que minha mente conseguia imaginar, nenhuma delas se comparava ao de estar apaixonado por uma garota. Só o fato de vê-las a qualquer distância, era suficiente para que a barriga doesse, o coração acelerasse, e as pernas bambeassem. A verdade é que nunca soube o que fazer com esses sentimentos, por isso minha tragédia era imaginar que se eu não fizesse nada, eu manteria a esperança que um dia tudo se resolveria, sem que precisasse correr o risco de saber que elas não nutrissem o mesmo sentimento por mim. Lembro-me de um poema que escrevi para uma garota o qual eu o chamei de O Ponto Oito. Na época eu devia ter de quinze para dezesseis anos e fazia o integrado do Colégio Carlos Chagas, na rua 4 do centro. Todos os dias eu a encontrava no ônibus e ficava imaginando como ela reagiria se eu tivesse a ousadia e a coragem de me declarar. Até que num dia chuvoso, ônibus lotado, já indo pra casa, ela surge toda molhada ao meu lado e me pede para segurar os seus objetos. Imediatamente fingi observar algo na rua, e torci para que a viagem fosse a mais longa de minha vida. Com um olho nela e outro nos seus objetos, aproveito um momento de distração, tiro o poema do bolso e o enfio em um de seus cadernos. Aquele dia eu devia ter chegado em casa com a cara mais lerda do mundo. Não sei como tinha conseguido, nem mesmo fiquei sabendo se ela achou o poema ou não, mas pra mim a única coisa que importava era que eu tinha vencido o meu medo, e sentia que finalmente eu estava amadurecendo – Este fato não só inspiraria, anos mais tarde, o roteiro do BILHETE, como daria um belo episódio para o seriado ANOS INCRÍVEIS - aquele que passou na tv nos anos 80, com a música de abertura dos Beatles, “With a Little Help from My Friends”, numa versão do Joe Cocker, onde se discutia, através dos olhos do garoto Kevin Arnold, não só os problemas da adolescência mas como também os eventos sociais e históricos do final dos anos 60 e início dos anos 70, e que para mim, o melhor seriado de todos os tempos.

E assim fui vivendo, de tragédia em tragédia, algumas reais, como quando acontecia a morte de um parente ou conhecido, outras imaginárias, as mais absurdas e surreais possíveis, até que, com o tempo e a realidade, me vi formado em arquitetura, casado, e com mais de 30 anos, quando em 2001, me acontece a maior de todas elas. Com a minha primeira filha recém-nascida nos braços, olho no espelho e me imagino 20 anos no futuro, tentando explicar porque o pai dela não tinha conseguido ser o que sempre sonhou. Imediatamente me lembrei de todos os momentos trágicos que imaginei ter vivido, quando tomei coragem e fui à luta. De lá pra cá, fiz cursos, assisti filmes – principalmente os clássicos - escrevi roteiros, realizei 06 curtas, ganhei alguns concursos e prêmios, e hoje com quase 40 anos, a minha maior tragédia é ainda imaginar quando ou se vou conseguir realizar o sonho de ser cineasta. Ás vezes me pego deprimido, mexendo em alguns dos vários “filmes de papel” que tenho arquivado no meu computador, mas quando olho pra trás e vejo o filme da minha vida até agora, renovo minhas forças e ganho coragem e ânimo, tendo a certeza no futuro de que um dia, a minha chance ainda vai chegar.
__________________
www.traktanfilmes.com

Vivi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pat disse...

olá!
Em primeio lugar: um grande obrigada!!Adorei o livro e fiquei muito contente quando soube que ia passar para o cinema, fiquei ainda mais satisfeita quando soube quem era o realizador, aprecio muito o seu trabalho.
Agora,uma perguntinha:
não consigo descobrir, quando estreia o filme em Portugal?sabe?Estou mortinha por ver o filme,mas cá infelizmente não se fala muito de nada que diga respeito ao saramago, parece que o senhor incomoda muita gente, de modo que não sei nada sobre a estreia..:(
Parabens pelo trabalho



www.essametamorfoseambulante.blogspot.com

Bruno Tavares disse...

eu adorei esse blog!
meu deus!

como pobrecitário e entusiasta da setima arte! amei ver o por trás da camera contado de uma maneira tão verdadeira.

por favor continua com o blog, mostrando o por trás do das estréias, criticas, enfim até você poder dizer, que seu "filho" esta entregue.

Rafael Bolacha disse...

Bom, venho aqui lhe parabenizar pelo blog..acabo de ler ele todo! Gosto muito de sua maneira de escrever, e obviamente de sua direçao, estou mais do que ansioso pra assistir o filme, ainda mais pois tive a oportunidade de fazer o teste. eu e mais 9 dentro da salinha vendado..hehe e por fim você apareceu para conferir as imagens de cada um. Uma pena eu não ter participado, mesmo de figurante teria adorado, mas espero trabalhar com você um dia.
abraços e sucesso....com certeza!!hehe

Anônimo disse...

Como escritor (o fato de ser anônimo não me exclui o mérito), conheço bem o que é desconstruir um texto para deixá-lo na medida certa, sem tantos adjetivos, sem tantas arestas. Às vezes me sinto como se estivesse a mutilar um filho quando simplesmente sumo com parágrafos inteiros, mas é pelo bem do texto e para que posteriormente eu receba os devidos elogios que tanto proporcionam gozo ao meu leonino ego.
Ensaio Sobre a Cegueira foi um dos livros mais inspiradores que já li. E ao fazê-lo, senti-me perdido no labirinto, perseguido por terríveis minotauros, enquanto eu buscava livrar-me de minha humanidade fingida a fim de reencontrar minha humanidade perdida.
Parabéns pela coragem de transformar esta obra prima da literatura em som e imagem. Admiro sua ousadia e acredito que este será um daqueles casos no qual muito valeu à pena ser ousado.

Iza disse...

Escritor José Saramago é internado
José Saramago foi internado ontem em um hospital da ilha de Lanzarote, Ilhas Canárias, arquipélago espanhol onde ele mora desde 1993 com a esposa, a jornalista espanhola Pilar del Río. Com 85 anos, o escritor sofre de insuficiência respiratória.
http://izabellaoc.blogspot.com/

Renato Gaiarsa disse...

Terminei de ler o livro. Realmente é dos são devorados. EM algumas horinhas por dia, desde segunda, terminei. Sensacional. A sensação pós-apocalíptica sempre me é atraente, não vi os cegos como zumbis, fiquei curioso pra saber o que vai cair e o que vai ficar no filme (a velha do prédio da rapariga de óculos escuros vai soferr bastante cortes, imagino)... enfim... sei que se tornou dos filmes que mais espero esse ano. manda outro post... sei lá, sobre o trailer (me animei quando voce disse que talvez não usasse imagem alguma nos trailers, seria genial). Tela preta, apenas com sons. no cinema, o efeito seria ótimo. sons de pequenos trechos, ou de questões gerais que tratam o filme - como chego em casa, onde vou defecar, onde está minha família - gritos, choros, calmarias, aconchegos.. sei lá... desembucha mais coisa aí, rapaz!!! grande abraço! reli todos os posts. isso está sendo bem divertido.

Unknown disse...

Fernando Meirelles,

é um prazer enorme entrar nesse diário e ler sobre suas experiências nos Sets de filmagem.

Para quem pretende trabalhar com cinema um dia, isso aqui é uma verdadeira aula de direção (não no sentido automobilístico, no sentido cinematográfico mesmo... ;)

Espero que em todos os seus futuros projetos vc nos dê o prazer de compartilhar suas experiências, com diários desse tipo... Espero que vc encontre seu roteiro também... =)

Um forte abraço de mais um fã seu...

nelsonaugusto disse...

Fernando, estamos orfãos no blog! faz tempo que nao rola nada novo. Eu tava ansioso pela fase da montagem, pois sou editor e esperava encontrar uns textos aqui. Grande abraço!

Patty Diphusa disse...

É, parece que esse blog já foi para o espaço mesmo. O Meirelles nunca foi mesmo interativo aqui, mas agora acho que abandonou de vez, como ele fez no Jardineiro, não? Espero estar errada e ainda pintar alguma coisa mais antes do lançamento do filme.

dito nao dito disse...

o blog do jardineiro fiel, alguem tem??

Unknown disse...

2007 foi um ano muito corrido pra mim. Agora que to mais sossegado consegui ler o blog todo.
Como amante de cinema e fã do livro do Saramago, estou ansioso pra vê-lo nas telas; e como estudante de Rádio E TV, tive uma aula de cinema que até hoje não tive na universidade.
Cada vez mais sou fâ.
Mas o filme só estréia em outubro mesmo?!
Abraço

Stefano disse...

É uma pena esse abandono aqui.

Vivien Morgato : disse...

Nem imagino como deva ser cortar cenas.Nunca conegueria,fari um filme gigantesco,mastrodôntico e ninguém iria ver.
Ainda bem que não sou cineasta.;0)

(...) disse...

Meirelles, cadê você???

Em meio a tantos afazeres, encontrava em seu blog um momento de distração...

Espero que esteja lapidando o diamante que vc criou...

...mas não esqueça, trata-se de um filme onde o tato, olfato, audição e devem predominar sobre a visão.

Movimento: VOLTA A ESCREVER MEIRELLES.

Ass. Cassiano Riva

D.N.A. disse...

Olá Fernando
Sucesso para este filme e para os novos projetos.Torço para que o cinema brasileiro cresça cada dia mais!!abc

Leo Nóvoa disse...

Muito bom, assisti a seus filmes e posso dizer que me tornei um fan. Estou esperando ansiosamente por Blindness, já que sou fan de Saramago também. Tenho certeza que o resultado final ficará demais e muitos prêmios virão.
Abraços

CLICK FOTOGRAFIA. disse...

Oi Fernando,

Tenho um Programa de Fotografia que se chama Click.
É todos os domingos ás 19 horas na alltv.com.br.
Dá uma olhada no blog do programa e confere os fotografos já passaram pelo Click.

Sou Hana eu o conheci quando estava de partida da redação estadão, o piza me apresentou pra você lembra?

Um abraço, Hana.

Aline disse...

Pesquisando na internet, vi que a data de estréia de 'Blindness' por aqui é em Outubro/08. É verdade? Acabei de reler o livro e estou ansiosa para assistir ao filme, mas está tão longe!

Iza disse...

Notícias
Finalizando Blindness
www.izabellaoc.blogspot.com

Fernanda Sanches disse...

meireles,
encontrar esse blog aqui pelo mundo virtual e ler suas experiências foi muito bom.
mas inesquecível mesmo, pra mim, foi ter participado da gravação de Blindness na igreja da consolação como uma figurante-cega, com um véu azul que me deram no meio da gravação e que me sugeriu uma personagem, assim meio santa, cega aos olhos do corpo, mas não os olhos da alma, e no meio de toda aquela gente, eu alí, quase insignificante em relação ao todo, um grão de areia no deserto, atuei pra mim, atuei pelo filme, atuei, emocionada pela sensação que aqueles santos vendados causavam em mim, descobri um poder de conexão com uma obra de arte - seja o livro do saramago, seja o proprio filme sendo feito, seja todas aquelas imagens, esculturas...- alí, vivi uma comunhão tão intensa com essa paixão em fazer cinema que eu tenho, que alí, me senti completamente gratificada.
obrigada,
Fernanda Sanches

Rafael Medeiros Vieira disse...

Acompanho seus diários desde O Jardineiro Fiel, muito bacana essa iniciativa.

Fernando é simplesmente o diretor brasileiro mais querido dos cinéfilos brazucas, seja pela qualidade de suas obras e também pelo seu enorme carisma.

Te desejo uma boa sorte e sucesso com este novo filme!!!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Iza disse...

Saramago deixa hospital, trabalha e está livre de perigo

http://www.izabellaoc.blogspot.com

MAÌRA DVOREK disse...

AUGURI!!!

Miguel Marcarian disse...

Estamos desnutridos, Fernando...
Feed the birds...

Paola disse...

Que necessidade interessante, voltar aqui em busca de outro post.
Imaginando encontrar comentários sobre novas descobertas à respeito do filme, cenas feitas pelas câmeras secundárias, e a notícia que o filme está pronto e será lançado na próxima semana, mas só assiste quem fizer uma prova sobre o livro!

ROBNEY BRUNO disse...

QUANDO A MAGIA DO CINEMA ACONTECE

por Robney Bruno

A idéia de escrever este texto surgiu em novembro de 2006 quando assisti no Festcine o filme, O CÉU DE SUELY. Depois li uma resenha do Luis Felipe Mundim sobre o filme, que por sinal achei excelente, e fui deixando de lado. Recentemente estava fazendo uma pesquisa com a finalidade de buscar referências fotográficas para uma cena que ainda falta filmar do curta UM MORTO NA SALA, quando assisto novamente o filme de Karim Ainouz . Imediatamente me veio a pele todo o sentimento de quando assisti ao filme pela primeira vez. Lembro-me de conversar por uns dois minutos com o próprio Karim, no foyer do cinema depois da sua exibição, onde o agradeci por despejar na tela tamanha sensibilidade, deixando-nos transbordar tanta emoção. Depois do seu sorriso tímido e generoso, ele comentou que o filme seria exibido no Festival de Thessaloniki na Grécia, e que já estava de viagem marcada. Desejei-lhe boa sorte e vendo a fila atrás, fui saindo com a alma leve como uma pluma., tendo a certeza que tinha assistido a um dos melhores filmes da minha vida. Depois daquele dia fiquei pensando o que faz de um filme uma obra de arte, e assim ter o status de ser chamado de CINEMA, foi quando resolvi escrever este texto no qual volto agora.

A história de Hermila e da pequena Iguatu, nos passa uma sinceridade tão grande, que parece que os seus personagens saltam da tela e estão ali, vivendo bem ao nosso lado. A sensação que se tem, ao acabar de assistir ao filme, é que cruzamos com eles todos os dias, no trabalho, no supermercado, na feira, ou mesmo nas festas de finais de semana. Uma vez, numa discussão sobre a importância que o curta-metragem tem como exercício para se chegar ao longa, ouvi dizer que, não importa o tamanho do filme, tudo é cinema, e que para isso basta ter uma sala fechada com quatro paredes em volta e um projetor exibindo uma imagem em movimento. Na época tinha achado essa definição meio enfadonha, mas como ela havia saído da boca de uma pessoa das mais conceituadas no meio, resolvi deixar a discussão de lado, mesmo sabendo que tal definição jamais resumiria o meu sentimento por esta grandiosa expressão de arte. Hoje vejo essa questão um pouco diferente, que um filme para ser chamado de CINEMA, não basta simplesmente ter a sua exibição numa tela com um monte de gente assistindo. O fato de se fazer um produto audiovisual, não importa o tema, não gera na minha opinião o que eu considero ser CINEMA. É preciso ter algo mais, talvez MÁGICO, que faça uma comunicação entre a realidade exibida com o público que está assistindo. O problema é que hoje em dia poucos filmes conseguem causar este efeito na platéia, onde a sua maioria, na busca por bilheteria, esquece deste pequeno detalhe. Nos cursos de roteiro de cinema que já tive a oportunidade de participar, lembro-me de algumas regras que devem ser seguidas, para que um filme alcance o sucesso: 1º ATO - devemos apresentar o herói no mundo comum no qual ele vive diante de um problema (o chamado); 2º ATO - o herói ultrapassa este limite e vai atrás do objeto de sua busca (aproximação da caverna oculta); 3º ATO - é onde o bicho deve pegar, após sobreviver a morte e derrotar o inimigo, o herói deve ser perseguido no seu caminho de volta, pelas forças vingadoras que ele perturbou ao conquistar o seu objetivo (recompensa, caminho de volta e ressurreição).

Muita gente faz cinema hoje, como se tivesse seguindo uma receita de bolo, ou se preferir, tocando música com uma partidura na frente. Nada contra, mas eu prefiro ver esta questão sob um novo ângulo: fazer um filme para mim é como se o diretor estivesse diante de um daqueles grandes caldeirões mágicos. De um lado, toda a história pra ser contada, do outro o livro mágico da velha bruxa, só que com as páginas arrancadas. O que fazer? O jeito é ir colocando e tirando ingredientes até se chegar no ponto que se considera ideal. O grande problema é que nem sempre essas poções mágicas funcionam. Ás vezes se coloca um ingrediente de mais, outro de menos e a coisa entorna. Isso quando a coisa não explode e acaba com a carreira de um diretor que todo mundo achava promissora. Já vi muitos diretores fazerem seus primeiros filmes sem estarem preparados e depois sumirem do mapa. É engraçado como isso não acontecia com os grandes mestres do cinema de antigamente. Como eles dominavam esta mágica? Eles eram mais preparados? O acesso a esse caldeirão era mais caro e por isso não tinha espaço para aventureiros? Nunca se sabe. A verdade é que fazer um filme hoje ficou tão fácil que qualquer ator ou diretor da rede globo pensa que é Glauber Rocha: uma idéia na cabeça e uma câmera na mão e pronto, sou cineasta. Pensam que fazer cinema é só contar uma história através de imagens, e esquecem do ingrediente principal: a magia. Que é quando o público interage com a história e este fala na sua alma, fazendo-o refletir sobre o que assistiu.

Até hoje não sei expressar direito o que o filme O CÉU DE SUELY me fez sentir, e nem me arrisco a dizer quais os ingredientes que o seu diretor utilizou para conseguir essa magia. Talvez o filme toque de uma maneira diferente, todos aqueles que, como eu, já passaram ou que ainda passam uma parte de suas vidas numa pequena cidade como Iguatu. Talvez o cinema brasileiro precise se desvencilhar um pouco de suas amarras e beber nesta imensa fonte, que é o seu interior - desde a retomada, podemos contar em migalhas, os poucos filmes que realmente situam o seu drama fora dos grandes eixos urbanos (ou são filme de favelados e traficantes, ou são dramas de jovens sub-urbanos envolvidos com drogas). Talvez as fontes de financiamento do cinema brasileiro estejam em dívida com a falta de oportunidades destes cineastas que atuam fora do seu grande centro, e não reconheça a força que este grande Brasil-interior pode ter. Ou simplesmente talvez porque, o que todos nós queremos, seja a mesma coisa que Hermila tanto busca no filme: Um céu onde possamos ser felizes.

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www.traktanafilmes.com
www.euquerofazerlonga.blogspot.com

ii disse...

IGREJA INVISÍVEL (ii)

Ñ.F.A.Q. (ou, perguntas que não se fazem freqüentemente)



A Igreja Invisível (ii) gostaria que se estabelecesse, de uma vez por todas, o catálogo das necessidades básicas do homem (e da mulher, a fortriori) pós-contemporâneos: a poesia, a putaria, o cinema, a magia ― e que se providencie um enterro digno do sujeito moderno ocidental. Vai se coçar no tédio da culpa seu feladaputa! Seja salvo por si, seja salvo por nada, aliás, não fique aí parado esperando a salvação! Psique-sexy-cine ou barbárie.

Nós, da ii, não viemos para pôr os pingos nos iis, viemos ― isso sim ― para confundir. Como Abelardo Barbosa. É absolutamente necessário que o delírio volte a fazer parte da Teoria do Conhecimento, pela simples razão de ter sido a Razão contratada por grandes agências publicitárias e o Sexo, descaroçado de sua matriz subversiva. O pensamento delirante (o sexo [a arte perversa] virtual) remodela.

A poesia precisa voltar a fazer parte do currículo dos lactentes islamofóbicos: "O Estado mantém as pessoas ocupadas em tempo integral para que elas NÃO pensem eroticamente, poeticamente, libertariamente". Profetas do surfe, camelôs-autistas, motoristas de topique, traficantes de relíquias soviéticas, grafiteiros e pregadores do Largo da Concórdia devem fazer parte do complexo industrial-militar e ser distribuídos junto com os retratos de esposas desaparecidas ― há muitas crianças brincando em ruas distantes.

Assumimos os renegados notórios oriundos da deriva dos continentes, a falta de mapas que nos guiem até aos sebos e bocadas, nas traquitanas e bibocas, com nossos trutas e quebradas, rumo aos dédalos da cidade para se internar no auto-engano. Importa distrair do lento absolutismo da morte, ressalvar os exercícios calistênicos na Cocanha, viver de juros na Serra de Makunaima, etc., etc. O hilari-lari-ê é o único lugar em que (ainda) se pode pleitear uma revolução matricial.

Cadáveres empulhados, necessitamos das fábulas do poder e continuamos, cheios de antolhos e adiamentos, avançando na base do quebra-cangalha como se fosse possível chegar a alguma letargia. Acreditamos ver porque um voile nos cegou para o real telescopado, insuportável e mesquinho que assombra os intervalos comerciais. Defendemos os direitos da ficção xamânica e da arte débil mental como ferramentas cognitivo-emotivas muito usadas em comunidades de estetas mórbidos. Mythoplokos.

Mas é Sancho Pança o propositor: pacato cidadão comum a bordo da sua persona enlouquecida, parangolé-quixote de fazer sexo celibatário (obrigado, Gregório Delgado), máscara da vontade de se atirar, aventurar-se ao mundo. VIVA O MUNDO IMAGINÁRIO!!! Caminhamos nus pelo meio do sonho em pêlo, cartazes masoquistas asseguram que nada vai cambiar e que a roda de samba acabou... Se houver um terremoto, que ele nos devolva a névoa e indique o caminho dos furacões, que nos seja permitida uma música com descontinuidades e que o ratatá das Kalashnikovs acelere o advento da Comunhão Vegetal. E, se quiserem nos matar, que seja na mesa de bar, que seja de amor.

Portanto, exigimos em caráter irrevogável:

cessação imediata dos programas de humilhação & televendas obsessivo-compulsivas
a descoberta de um antídoto africano para a servidão voluntária
a cura academicista para a covardia moral da sociedade “de bem” que seja princípio ativo de alguma planta nuclear
que os órgãos competentes publiquem nos suplementos dominicais a resolução do enigma do fetiche
uma loura defecadora de objetos de fascínio consumista, secretária trilíngüe que compreenda a dramaturgia esquizocênica
veículos mudos, migalhas & sibilas adeptas da Realpolitik, instaladas, como as câmeras de vigilância, em pontos estratégicos dos logradouros lésbicos
veículos de manipulação de massas anabatistas que propaguem a perda da fé política e a hierarquia que nos obriga a reconhecer um Eu supremo dentro das nossas mais íntimas propriocepções fenomenológicas
Seja salvo por si. Ou não.

Uma prática que define a maneira clássica é a tara fascista contida no senso de proporção, a construção de uma harmonia indutora de simetria, com resolução final em happy end dos conflitos de um determinado motivo. A arquitetura do estilo simula e recapitula, assim, a tirania da dialética: tese, antítese e síntese redentora. A conta do chá para que o vírus da escatologia se instale nos mais lúridos meandros da masturbação órfica.

Fórmulas de sucesso não se jogam fora por dá cá aquela palha... A aposta metafísico-teológico-propagandística em jogo é nada menos do que a possibilidade de conjugar o monoteísmo egípcio/caldeu/hebraico com o Logos greco-romano. Um pupurri da baba histérica canibal do homem branco. Na perspectiva civilizada, o olho universal contempla o mundo a partir do segundo degrau da escada na qual D’us (eks arkhês) está no topo ― dervixes rodopiantes, e até mesmo um cortejo de idéias claras e distintas, convergem em sua direção.

Recusamos a experiência COMPLETA do objeto artístico, ou seja, a apreciação da totalidade daquilo que é entregue à fruição dos sentidos; o que oferecemos são parcialidades, sombras, desregramento e fragmentação onde antes havia uma vivência solar, auto-centrada, integral e integradora (assim nas artes como nas ciências, vigora a perversa eficiência operatória da técnica).

Acredite vindo (thank you for coming) ii!!

O “bom” Diabo e o Deus “mau” são a defesa iluminista do novo, e pragmático, Pacto que reconfigura a antiga, a Santa (!) Aliança ― as injunções da divina providência foram privatizadas pela ética calvinista, abolindo as mediações do ego com as forças atuantes no seu destino biológico-biográfico. A burguesia inventou o veneno necessário da modernidade e agora nem o sexo anal é capaz de derrubar o das Kapital.

Um burguês nunca é suficientemente crente nem ateu, bom ou mau: o burguês é um pelintra que calcula e sabe tirar proveito das próprias e alheias contradições ― por isso sobreviveu como atitude ideológica dominante do Homo sapiens (?) sapiens (?) no quadro do capitalismo tardio. O sujeito burguês perdeu a sombra e vendeu a alma, mas, em compensação, assumiu até às últimas conseqüências a destruição como causa do devir; ele distingue e corrói tudo o que o seu desejo toca, o seu gosto massificado representa o beijo da fama e da morte para qualquer estética, filosofia ou arte. A burguesia instituiu também, paradoxal e coerentemente, a única verdadeira democracia para a criação e o pensamento; a burguesia não é uma classe social, é um programa de (auto) destruição por meio da saturação do visível.

Não existe uma verdadeira manifestação anti-burguesa, TUDO pode ser digerido por Baal Melkart, o deus-mercado ― inclusivemente a ii, porque nada se perde nas cloacas da Kultur. Mais civilização, mais corrupção, já que evoluir também implica regressão aos ritos do fogo e da febre, ao sacrifício sagrado: Nosso Senhor da Boa Guerra sofre da invencível volúpia do sangue derramado. Vocês não vão saber do lixo ocidental?

Fizemos uma opção inconclusa: NÃO CIVILIZAR O OLHAR; não é no apuro formal, no domínio de uma ou mais linguagens que acharemos guarida, não, seguimos a descoberto, na arte como na vida. Subtraímos do respeitável público a panorâmica apaziguadora, o plano-seqüência, o corte cai antes que se feche o arco do entendimento ― e nisto reside o que chamamos de cinedinâmica autista―, jamais a facilidade de uma totalização, a inteireza de um signo em sua completude arbitrária, mas a imagem fria da mercadoria-espetáculo.

Nossos aliados são os traidores, os ressentidos, aqueles que se encontram faltos de predicamento: a fratria do fundo do mar, a fauna do fim deste mundo e dos outros; o escambo impossível que circula a moeda da GENEROSIDADE. Quebrá-lo é deslindar o fluxo de trocas, interromper a teia solidária, ceder à banalidade violenta da mais-valia como se fosse a um instinto. Atravessamos dimensões de gratuidade e insignificância, cultivamos o senso de urgência em alterar estados de coisas e modos de consciência. Ou não. Há muitos invernos de espera no exílio da invisibilidade e, já que ninguém se dispõe a liquidar os anões-atores, que sejam eles os colossos do circo de pulgas... Nem cabeça de rato, nem rabo de leão, banhamos Oxalufã em água fresca/limpa, queremos um outro mundo porque não vamos ter outra vida depois.


É melhor você viver

sem saber quem você é.






A Igreja Invisível, ii, Está Onde Nunca Esteve O Nome (Eu)

abandoni disse...

Parabéns pelo blog!
é maravilhoso ver um artista que admiramos escancarando seu processo criativo,falando abertamente desse processo duro e prazeroso..

Kitty Walker disse...

Olá, Fernando! Antes de ver o filme, gostaria que vc saber o que achou da cena da igreja...Falei sobre isso com meu amigos e rolou uma discordancia...alguns acharam que Saramago estava fazendo alusoes mis ao catolicismo; e o grupo no qual eu me incluo, pensamos que a mulher do médico mentiu, para poder roubar a comida de quem estava na igreja, pq ela ficou com medo dos fogos fátuos do supermercado, o que vc achou?
abs,
carolina

Juca Filho /jucafii disse...

Fernando... é espetacular a oportunidade de acompanhar o pensamento emocional de um diretor com este nível de pessoalidade e sem afetações. Parabéns por esta transparência e dividi-la com a gente. Estou aprendendo muito, tanto como roteirista quanto como pessoa. De resto adoro o "Cidade" e o "Jardineiro", grandes filmes e histórias muito bem contadas. No "Jardineiro" inclusive tive a grande surpresa de ouvir "Kothbiro" de Ayub Ogada, música que já conhecia e adorava há algum tempo, maravilhosamente bem inserida no contexto do filme. Um abraço e toda a sorte, continuamos de olho no blog.

Sarabanda disse...

Caro Fernando Meirelles:

É fascinante saber que está a ser feito um filme sobre uma obra magnífica como é o Ensaio sobre a Cegueira e, em simultâneo, podermos ter acesso ao decorrer das filmagens...Confesso que acabei por ter uma ideia e,embora possa não ganhar nada com a sua divulgação, a verdade é que também não irei perder, penso eu! Acontece que escrevi e publiquei um livro há cerca de dois anos e certos leitores e críticos ( e eu própria também, mais tarde) consideraram que a história é bastante cinematográfica, ou seja, é visual, táctil, sonora. Curiosamente, houve um actor que reinvindicou, de imediato, fazer o papel de protagonista, quando leu a obra!!!
É óbvio que eu não sou o José Saramago, mas isso não significa que não possa tentar que o meu livro passe a filme... e tenho andado a pensar a que realizador hei-de sugerir a sua apreciação...Deparei com este blog e vai daí ousei(estou a ousar!) dirigir-me ao realizador de Blindness para lhe propor a leitura do meu livro e posterior opinião! Poderei ter esperança, ao menos, de uma resposta?

Obrigada pelos belos filmes que já pude ver realizados por si e pode crer que aguardo ansiosa por Blindness: contrariamente ao qiue li por aqui, acho esta palavra muito bela e não me perturba nada que traduzam a cegueira portuguesa... afinal, ela - a cegueira - é universal, não é?

Um abraço!

Fabio Allves disse...

Obrigado pelas palavras, espero mais e estarei na pré-estréia do filme em SP, Abraços

Nando disse...

Bem espero que o livro seja tão interessante quanto este blog, que li "numa sentada". Apesar de ter vivido em Portugal, não cheguei a ler nada do Saramago, mas já deixei em hold na biblioteca aqui perto (vivo no Canadá agora) a versão original em português, e creio que amanhã já estarei com ele. Creio que você já deve ter ouvido/lido isso em algum lugar, mas obrigado por dividir os seus pensamentos e curiosidades do mundo cinematográfico pelo qual eu tanto me interesso. Só não te desculpo por ter o mesmo nome que irei usar quando me tornar um diretor as well.

Lamento a falta antecipada do conhecimento de saber que o filme estava sendo rodando em Gelph e ter perdido a oportunidade de talvez lhe conhecer. Apesar de toda trabalheira já ter sido feita (todos os dias de filmagem, frio e roteiro perdido), ainda espero por novos posts sobre a produção do filme e tudo mais que você queira dizer.

Abraços,

Luiz Fernando Meirelles.

LM disse...

Excelente blog. Um autor como este fazia falta no forum de discussão http://www.espacofuncoapublica.com. Este é um forum para a defesa da classe dos funcionarios publicos.

Fabio Henrique de Oliveira disse...

Meu maior sonho era poder participar de produções em L.A , pois trabalho em produtora de comercias e casamentos como cinegrafista , um mercado bem diferente ...porém hj o melhor maneira de fazer cinema mundial é do jeito brasileiro, o maior exemplo é Fernando Meirelles, parabéns, e o meu sonho hj é pelos menos carregar os equipamentos da sua produçao!

Rafael Lamú disse...

Fernando,

teria sido você um arquiteto! Sorte (ou não) ter mudado de idéia e realizado grandes trabalhos.

Gostaria de convidá-lo para participar em julho de 2009 do 33º Encontro Nacional de Estudantes de Arquitetura do Brasil, onde esperamos ouvir a experiência arquitetônica influenciar sua vida e carreira.

www.eneabh2009.com.br
eneabh2009@fenea.org

Outros (ex) arquitetos e quase arquitetos convidados:
Carlos Moreno (ator)
Humberto Gessinger (cantor)
Chico Buarque (cantor)

Ficaremos muito agradecidos com seu retorno.
Obrigado

Rafael Lamounier

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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Anônimo disse...

Adoro seus filmes..um abraço

Marco Túlio disse...

Humor!
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