No foto: Don McKellar (de camiseta vinho), Winnie (continuista), eu, Cesar Charlone, Julianne Moore, Rhaul (dolly grip), e, de costas, a careca do Walter Gasparovic (assistente). Sobre o monitor, meu roteiro de capa azul (que já não está mais entre nós)
Já eram 4h37 da madrugada e os pardais começaram a piar sem graça. Ouvir passarinho cantando antes de ir dormir, em geral, me deixa deprimido. Comecei a rir de bobeira, arranquei o fone do ouvido, desliguei o walkie-talkie e desisti. Estávamos em 10 pessoas no câmera-car do Stanley, rodando pelo centro de São Paulo, sonados, depois de 14 horas de filmagem na rua. Eu olhava para os quatro monitores que transmitiam o sinal das duas câmeras que estavam na pick-up, e de outras duas escondidas dentro do carro que o Don Mc’Kellar dirigia, e torcia por oito segundos de alguma imagem que completasse a cena em que o Ladrão fica cego, mas sempre alguma coisa atrapalhava. Atrás do carro do Don/Ladrão vinha um comboio com uma limusine branca enorme, um táxi destes amarelos e outros carros simulando uma rua movimentada em alguma cidade do mundo. O Don tinha que seguir o câmera-car mantendo a mesma velocidade e uma distância fixa, tarefa complicada nas ruas de S. Paulo, cheias de faróis, mais complicada ainda pelo fato dele não dirigir regularmente e nunca ter guiado um carro com marchas. Isso já seria um bom desafio, mas havia um agravante, o Don é míope mas seu personagem não é, então tinha que fazer tudo isso sem óculos e para completar, a cada 10 segundos, o Serjão, eletricista, o ofuscava direcionando um refletor para seus olhos simulando faróis de outros carros. A cerejinha neste bolo de convite-ao-acidente é que ele dirigia um carro protótipo da Fiat, movido a benzina, e cada vez que parava num sinal o carro morria e não pegava mais. Quando ouvi o primeiro pardal, olhei o relógio e me dei conta que estávamos parados há quatro minutos esperando o Fiat se mover. Cansados, sem reação, apenas olhávamos para o carro lá, paradão. Contávamos só com a ajuda da Analia, operadora de câmera que estava escondida no banco de trás do Fiat com o Don e poderia ajudá-lo. Então, o César anunciou que, além de não falar inglês, a Anália não sabia dirigir. Nosso bote salva-vidas naufragou. “Xeque-mate”, pensei. E joguei a toalha.
Minha disposição para este tipo de gincana já não é mais a que era. Madrugadas, movimentos de grua complicados, muitos figurantes, cenários enormes, cenas com muitas situações paralelas a serem mostradas me dão uma certa preguiça. Filmar com muitas câmeras também complica bem. O Gui, som direto, que o diga. Ele vive sinucado sem ter por onde entrar com seu microfone. “Tem câmera por todo lado”. Reclama. “Dá seu jeito!”, respondo. E ele vai dando.
Rodar com muitas câmeras é bom por não termos que repetir a mesma cena 40 vezes para conseguir diversos ângulos, e é ótimo pois dá muita cobertura para o montador; mas, durante a filmagem, muitos ângulos simultâneos pode ser dispersivo. Neste filme, o César Charlone e eu aprimoramos uma boa maneira de trabalharmos com quatro câmeras, pode até ser chamado de método, tem uma certa lógica, contrariando o que pensam os assistentes de direção e parte da equipe. Eis o “método” (que obviamente não é sempre seguido com o rigor que descrevo aqui):
Para planos gerais da cidade, ou imagens com muitos detalhes, estamos usando uma câmera chamada Vista Vision. Ela roda em 64mm, gera uma imagem bem definida e estável. Em geral, esta câmera só trabalha em algumas externas, onde é usada apenas para um ou dois ângulos pré-determinados e depois descansa o resto do dia. Ela consome negativo como um Dodge Dart consumia gasolina – ou, para quem não sabe o que é um Dodge Dart, como um deputado consome verba de representação. Vorazmente.
Depois, temos a câmera A, uma 35mm que conta a história. Quando é possível criar uma imagem instigante e narrativa ao mesmo tempo, ótimo. Se não for possível, esta câmera tem que priorizar a clareza da história, ou seja, mostrar o lugar onde estão os atores, cobrir os diálogos e as reações dos personagens deixando claras as intenções da cena. É meio convencional às vezes, mas resolve.
Rodando ao mesmo tempo, temos sempre uma câmera B, que tenta contar a mesma história de forma mais indireta. Cobre a cena através de reflexos, pelas costas dos atores, faz os closes, busca enquadramentos menos óbvios. Mostra a nuca em vez do rosto, uma sombra em vez do corpo do ator. Sugere a história mais do que a mostra. Se a câmera A é prosa, a câmera B é poesia. Desta câmera deverão sair “os melhores momentos” do filme, mas como no futebol, sabemos que só a jogada de efeito não funciona. É preciso ter uma câmera “A” levantando para esta “B” cortar.
Finalmente, há uma câmera 16mm que entregamos ao acaso, ou para Deus, como diz o César. Usamos basicamente para desperdiçar negativo. Ela em geral fica amarrada com fita crepe num canto e quase sempre roda sem operador, é acionada por quem estiver mais perto. O aproveitamento das imagens desta câmera-do-acaso é baixo. É como lançar uma rede sem grandes expectativas para eventualmente puxarmos imagens inesperadas. E acontece. Curioso que sempre chamamos esta atitude de buscar imagens ao acaso de “pescaria”, achei que nós tivéssemos inventado esta expressão, mas descobri agora, com o canadenses , que eles também usam a mesma expressão: “Fishing”.
O uso de câmeras simultâneas não é muito habitual no Brasil, pois aparentemente encarece um filme. É preciso mais equipe de câmera, gasta-se mais com aluguel de equipamento ou com negativo. Mas se computarmos a redução do numero de diárias que isso gera, acho que a conta se fecha a favor. Neste caso tínhamos orçado 57 dias de filmagem mas devemos terminar o filme em 50. Essa semana economizada está diretamente relacionada ao monte de câmeras e (talvez) esta economia compense os custos extras mencionados. Mas, mesmo que não haja vantagens econômicas, essa maneira de filmar vale a pena. Ela nos permite quase nunca repetirmos um mesmo enquadramento em duas horas de filme e libera o ator que, nem que queira, consegue interpretar para a câmera, já que está cercado. Também me livra do chato (e às vezes inútil) trabalho de decupar o filme. O que fazemos é montar a cena como se fosse teatro, sem pensar em câmeras e depois cobrimos o máximo possível. A decupagem acontece na sala de montagem, o que é uma vantagem, como tenho constatado, pois muitas vezes entre a imagem bem enquadrada da câmera A, que foi previamente planejada, ou a mesma cena meio encoberta da câmera B temos usado a segunda opção na montagem. Neste filme, que é sobre olhar, mas não ver, esconder um pouco o que se passa ajuda a colocar o espectador no mundo dos personagens cegos, quero crer. De qualquer maneira, eu dificilmente planejaria um enquadramento onde um ator cobre o outro intencionalmente. Esses momentos acontecem por sorte e às vezes são ótimos.
O César, em geral, defende que a história seja contada mais pelas imagens e sons e reclama da quantidade de palavras do roteiro. Certamente o Marco Antonio Guimarães, que vai fazer a trilha, apoiará esta visão. Atores e roteirista gostam de diálogos e às vezes não entendem o exagero de posições de câmera que usamos. Eu tento ter o máximo dos dois mundos. Apoio sempre sugestões de novos pontos de vista que não haviam me ocorrido e incentivo os atores a aumentar seus textos para ajudá-los a entrar na história. Faço isso mesmo sabendo que cortarei o excesso de palavras na montagem, ou que dificilmente usarei um determinado ângulo que está sendo rodado. Mas nunca se sabe, então arrisco. O tempero entre a narrativa das palavras e das imagens vai ser encontrado na montagem, que é quando realmente o filme toma forma. Já aprendi que numa sala fechada, tranqüila e concentrada, nem sempre a decisão que me pareceu mais acertada no set prevalecerá, então, na dúvida entre uma opção ou outra, rodo as duas.
Admiro a capacidade de abstração de diretores que conseguem pensar seus filmes de ponta a ponta com antecedência, diretores que desenham storyboards e depois cumprem à risca o que planejaram. Já tentei fazer isso, mas fico tão focado em fazer o que planejei que acabo não vendo as idéias vivas que acontecem no set. Já filmei muito como um clarinetista que toca seguindo uma partitura, hoje acho que filmo mais como jazz. Você me entende.
Já eram 4h37 da madrugada e os pardais começaram a piar sem graça. Ouvir passarinho cantando antes de ir dormir, em geral, me deixa deprimido. Comecei a rir de bobeira, arranquei o fone do ouvido, desliguei o walkie-talkie e desisti. Estávamos em 10 pessoas no câmera-car do Stanley, rodando pelo centro de São Paulo, sonados, depois de 14 horas de filmagem na rua. Eu olhava para os quatro monitores que transmitiam o sinal das duas câmeras que estavam na pick-up, e de outras duas escondidas dentro do carro que o Don Mc’Kellar dirigia, e torcia por oito segundos de alguma imagem que completasse a cena em que o Ladrão fica cego, mas sempre alguma coisa atrapalhava. Atrás do carro do Don/Ladrão vinha um comboio com uma limusine branca enorme, um táxi destes amarelos e outros carros simulando uma rua movimentada em alguma cidade do mundo. O Don tinha que seguir o câmera-car mantendo a mesma velocidade e uma distância fixa, tarefa complicada nas ruas de S. Paulo, cheias de faróis, mais complicada ainda pelo fato dele não dirigir regularmente e nunca ter guiado um carro com marchas. Isso já seria um bom desafio, mas havia um agravante, o Don é míope mas seu personagem não é, então tinha que fazer tudo isso sem óculos e para completar, a cada 10 segundos, o Serjão, eletricista, o ofuscava direcionando um refletor para seus olhos simulando faróis de outros carros. A cerejinha neste bolo de convite-ao-acidente é que ele dirigia um carro protótipo da Fiat, movido a benzina, e cada vez que parava num sinal o carro morria e não pegava mais. Quando ouvi o primeiro pardal, olhei o relógio e me dei conta que estávamos parados há quatro minutos esperando o Fiat se mover. Cansados, sem reação, apenas olhávamos para o carro lá, paradão. Contávamos só com a ajuda da Analia, operadora de câmera que estava escondida no banco de trás do Fiat com o Don e poderia ajudá-lo. Então, o César anunciou que, além de não falar inglês, a Anália não sabia dirigir. Nosso bote salva-vidas naufragou. “Xeque-mate”, pensei. E joguei a toalha.
Minha disposição para este tipo de gincana já não é mais a que era. Madrugadas, movimentos de grua complicados, muitos figurantes, cenários enormes, cenas com muitas situações paralelas a serem mostradas me dão uma certa preguiça. Filmar com muitas câmeras também complica bem. O Gui, som direto, que o diga. Ele vive sinucado sem ter por onde entrar com seu microfone. “Tem câmera por todo lado”. Reclama. “Dá seu jeito!”, respondo. E ele vai dando.
Rodar com muitas câmeras é bom por não termos que repetir a mesma cena 40 vezes para conseguir diversos ângulos, e é ótimo pois dá muita cobertura para o montador; mas, durante a filmagem, muitos ângulos simultâneos pode ser dispersivo. Neste filme, o César Charlone e eu aprimoramos uma boa maneira de trabalharmos com quatro câmeras, pode até ser chamado de método, tem uma certa lógica, contrariando o que pensam os assistentes de direção e parte da equipe. Eis o “método” (que obviamente não é sempre seguido com o rigor que descrevo aqui):
Para planos gerais da cidade, ou imagens com muitos detalhes, estamos usando uma câmera chamada Vista Vision. Ela roda em 64mm, gera uma imagem bem definida e estável. Em geral, esta câmera só trabalha em algumas externas, onde é usada apenas para um ou dois ângulos pré-determinados e depois descansa o resto do dia. Ela consome negativo como um Dodge Dart consumia gasolina – ou, para quem não sabe o que é um Dodge Dart, como um deputado consome verba de representação. Vorazmente.
Depois, temos a câmera A, uma 35mm que conta a história. Quando é possível criar uma imagem instigante e narrativa ao mesmo tempo, ótimo. Se não for possível, esta câmera tem que priorizar a clareza da história, ou seja, mostrar o lugar onde estão os atores, cobrir os diálogos e as reações dos personagens deixando claras as intenções da cena. É meio convencional às vezes, mas resolve.
Rodando ao mesmo tempo, temos sempre uma câmera B, que tenta contar a mesma história de forma mais indireta. Cobre a cena através de reflexos, pelas costas dos atores, faz os closes, busca enquadramentos menos óbvios. Mostra a nuca em vez do rosto, uma sombra em vez do corpo do ator. Sugere a história mais do que a mostra. Se a câmera A é prosa, a câmera B é poesia. Desta câmera deverão sair “os melhores momentos” do filme, mas como no futebol, sabemos que só a jogada de efeito não funciona. É preciso ter uma câmera “A” levantando para esta “B” cortar.
Finalmente, há uma câmera 16mm que entregamos ao acaso, ou para Deus, como diz o César. Usamos basicamente para desperdiçar negativo. Ela em geral fica amarrada com fita crepe num canto e quase sempre roda sem operador, é acionada por quem estiver mais perto. O aproveitamento das imagens desta câmera-do-acaso é baixo. É como lançar uma rede sem grandes expectativas para eventualmente puxarmos imagens inesperadas. E acontece. Curioso que sempre chamamos esta atitude de buscar imagens ao acaso de “pescaria”, achei que nós tivéssemos inventado esta expressão, mas descobri agora, com o canadenses , que eles também usam a mesma expressão: “Fishing”.
O uso de câmeras simultâneas não é muito habitual no Brasil, pois aparentemente encarece um filme. É preciso mais equipe de câmera, gasta-se mais com aluguel de equipamento ou com negativo. Mas se computarmos a redução do numero de diárias que isso gera, acho que a conta se fecha a favor. Neste caso tínhamos orçado 57 dias de filmagem mas devemos terminar o filme em 50. Essa semana economizada está diretamente relacionada ao monte de câmeras e (talvez) esta economia compense os custos extras mencionados. Mas, mesmo que não haja vantagens econômicas, essa maneira de filmar vale a pena. Ela nos permite quase nunca repetirmos um mesmo enquadramento em duas horas de filme e libera o ator que, nem que queira, consegue interpretar para a câmera, já que está cercado. Também me livra do chato (e às vezes inútil) trabalho de decupar o filme. O que fazemos é montar a cena como se fosse teatro, sem pensar em câmeras e depois cobrimos o máximo possível. A decupagem acontece na sala de montagem, o que é uma vantagem, como tenho constatado, pois muitas vezes entre a imagem bem enquadrada da câmera A, que foi previamente planejada, ou a mesma cena meio encoberta da câmera B temos usado a segunda opção na montagem. Neste filme, que é sobre olhar, mas não ver, esconder um pouco o que se passa ajuda a colocar o espectador no mundo dos personagens cegos, quero crer. De qualquer maneira, eu dificilmente planejaria um enquadramento onde um ator cobre o outro intencionalmente. Esses momentos acontecem por sorte e às vezes são ótimos.
O César, em geral, defende que a história seja contada mais pelas imagens e sons e reclama da quantidade de palavras do roteiro. Certamente o Marco Antonio Guimarães, que vai fazer a trilha, apoiará esta visão. Atores e roteirista gostam de diálogos e às vezes não entendem o exagero de posições de câmera que usamos. Eu tento ter o máximo dos dois mundos. Apoio sempre sugestões de novos pontos de vista que não haviam me ocorrido e incentivo os atores a aumentar seus textos para ajudá-los a entrar na história. Faço isso mesmo sabendo que cortarei o excesso de palavras na montagem, ou que dificilmente usarei um determinado ângulo que está sendo rodado. Mas nunca se sabe, então arrisco. O tempero entre a narrativa das palavras e das imagens vai ser encontrado na montagem, que é quando realmente o filme toma forma. Já aprendi que numa sala fechada, tranqüila e concentrada, nem sempre a decisão que me pareceu mais acertada no set prevalecerá, então, na dúvida entre uma opção ou outra, rodo as duas.
Admiro a capacidade de abstração de diretores que conseguem pensar seus filmes de ponta a ponta com antecedência, diretores que desenham storyboards e depois cumprem à risca o que planejaram. Já tentei fazer isso, mas fico tão focado em fazer o que planejei que acabo não vendo as idéias vivas que acontecem no set. Já filmei muito como um clarinetista que toca seguindo uma partitura, hoje acho que filmo mais como jazz. Você me entende.
105 comentários:
Nossa mãe do céu !!! Fiquei procurando uma faculdade de cinema aqui perto de Campinas SP sem sucesso. Quando estava quase desistindo, aparecem cursos tecnicos de cinema em Paulinia e em seguida o mais novo genio do cinema (Meirelles) da uma aula de cinama explendorosa e de graça!!! Meuda Deus... brigadão Fernando hihihi... esse filme será perfeito ''FATO''.
Nossa que surpresa maravilhosa essa de a MELHOR ATRIZ DO PLANETA está num filme com direção de Meirelles.
Estou ansiosíssima pra assistir o filme!!! \o/
Sucesso!
nisso que dá gravar em SP, um monte de gente não dirige - sabiamente - nessa cidade. E parece que quem trabalha com cinema sofre disso. Já conheci uma pá de gente de 20 e tantos anos que nunca pegou num carro lá na terra da garoa.
E é bom ter orçamento e gravar com tantas câmeras. Assim como é bom crer num montador. Concordo que muitas decisões vão por água abaixo quando expostas em sequência ali na telinha do final cut da vida. Só tenho pena de quem passa horas colocando essas imagens pra dentro da máquina.
E é interessante ver que só quando eu pôr a mão na massa que vou saber de fato se serei dos planejadores ou dos jazzistas. Concordo e apoio as duas opções, pelo menos como aspirante e espectador.
Vida longa ao projeto... e novamente beijos para a Julianne Moore.
obrigada por tantos posts, espero que vc possa continuar neste ritmo. no post anterior um cara disse que achou seu ROTEIRO e entregou sei lá pra quem. era balela? eu sou crédula mesmo._()_namaste
É um delírio chegar em casa e encotrar um novo post seu, é quase um presente, daqueles que você pediu e sabe que vai ganhar mas não tem a mínima idéia de quando chega! E quando chega acaba sendo muito mais bacana do que o que você imaginava que ia ganhar! Só posso agradecer - liberou o nome do responsável pela trilha (Marco Antonio Guimarães), que fez a trilha de "Lavoura Arcaica" - parabéns pela escolha - to viajando na expectativa deste filme - muito! Seu texto é tão brilhante quanto seus filmes! Mais uma vez desejo boa sorte, sucesso - e vai mandando mais e mais notícias...e mais fotos...grande abraço!
Caramba... Com a comparação que vc usou estou imaginando que a Vista Vision deve custar metade do filme....
Opa... primeira vez que comento aqui. S� queria dizer que estou adorando saber mais da produ�o de Cegueira, mas mais que isso, de todos esses fatos que acontecem durante a produ�o de um filme. Admiro muito seu trabalho, Meirelles, e pode ter certeza que eu vou estar na primeira fileira para ver o filme.
SUCESSO!
Nossa..que aula!!! É incrivel como consigo relacionar o que li (e imaginei), com sua descrição das filmagens. Que espetaculo vc está dando. Acho que Saramago ficará contente com o resultado...e nós também. Você é brilhante!!
Parabéns...
Um grande beijo p/ o Mark Ruffalo.
Caro Fernando, não sei se você lê sempre os comentários, caso o faça, não sei como poderia nos responder, mas eu tenho uma curiosidade enorme.Já que o livro não os descreve , de onde vem a idéia de usar um negro no papel do homem de venda e um casal Japonês para os primeiros cegos. Quando você leu o livro e quis comprar os direitos, em quem você naquela hora pensou para os papéis? Um abraço, e ancioso pelo filme.
Obrigado pelas aulas. Parabéns e um fortíssimo abraço!!!
Quando a gente acha que conehce bastante das dificuldades para se filmar, aparece cada vez mais....naum? Mas claro que com o esforço e muita muita muita dedicação várias pessoas e resultado final é muitas vezes melhor que o esperado!! Força para o final das filmagens....a gente te apoia daqui tah?
Bjos
Opa, só pra dizer que virei fã deste blog. O texto é fluido, viciante, delicioso. Muitíssimo bem escrito e com verve. Além de ser uma aula de cinema e, claro, de deixar a gente na maior curiosidade pra ver o filme.
Sei que isso não é muito comum aqui na Terra Brasilis, mas há alguma chance desses posts serem compilados em um livro, tipo "companion guide" do filme? Poderia vir junto com o roteiro... Seria muito interessante!
Kisses e boa sorte com o filme! Quero ver na estréia. :)
O improviso!!! O improviso!!!
O inesperado!!! A novidade!!! O tesão!!! O coração batendo mais forte e o frio na barriga!!!
O improviso!!! O improviso!!! Viva!!!
Fernando,
acho que você provavelmente realizou o sonho da maioria dos estudantes de audiovisual: está escrevendo um guia cinematográfico delicioso e interativo! Sem contar que você muitas vezes mostra inquietações com que eu felizmente me identifico: deixar fluir as cenas é muito mais gostoso do que decupar, realmente!
MUITO obrigada! Não há dúvidas de que esse filme vai ser fantástico, mas não custa desejar boa sorte!
E, precisando de uma escrava branca, é só chamar!
~Larissa Pontez
um carro protótipo da Fiat?? Vermelho?? domingo passei em frente ao largo são francisco e achei que fosse filmagem de propaganda do carro, eram vcs?? Haha, até imaginei qd vi um rolo de filme na mão de uma assistente, mas...
enfim, quero agradecer por cada post seu Fernando, me delicio com a descrição das idéias virando "negativo"!!
Expectativa grande!!
Pra variar é indescritível a sensação ao ler mais um post.
Tem que tomar cuidado pois está nos viciando também pela escrita, e já já cobraremos um livro!!!
Fiquei assistindo o que imaginei ser a gravação dia destes...não preciso descrever a alegria em me ver tão próximo de toda essa Cegueira lúcida.
Obrigado por mais um texto.
Grande abraço,
Gustavo Lise
Ahhh e mais uma vez vai a sugestão Fernando, já te falei em e-mail sobre uma cantora chamada BADI ASSAD, www.badiassad.com.
Ano passado quando respondeu meu e-mail dizendo que finalmente iria filmar o tão sonhado Ensaio sobre a Cegueira, voltei a ler novamente meu livro de cabeceira para imagiar como você abordaria a história, para isso comecei a ler sempre ouvindo uma música ao fundo e descobri que sempre estava escutando Badi Assad.
Por isso sugiro que ouça e mostre ao Marco Antonio Guimarães, pois ela tem o tom e o dom que enlaçaria perfeitamente o filme.
Grande abraço,
Gustavo Lise
solipcista@hotmail.com
Sobre las posiciones de cámara y tu descripción del "metodo" de utilizar esa artillería, te comento que para los que trabajamos como yo en éste negocio hace ya un tiempo largo,( utilero o contraregra en mi caso)no es fácil moverse y trabajar para todas esas "señoras". Es un verdadero fuego cruzado!! Muy gustosamente (casi en portuñol va esta palabra)trabajamos para todas esas posiciones de cámara y encuadres, en el set. Particularmente placentero fué asistir ala que creaba "Poesía". Sugiriendo en vez de delatar, acariciando en lugar de tomar.Maravilloso!!
Fantástica experienciaen Montevideo, con muuuucho frío, agua y.....nada de chocolate. Que fué de esa "leyenda Urbana de las tazas de chocolate que nos prometieron en el set. Comparto contigo: nunca vi una!! ni pasando cerca.
Breve comentario sobre mi amigo Cesar, con quien llevo ya tres filmes:con su aaton en mano es lo mas parecido a un mono con ametralladora.
Un abrazo del Cappi,
elcappi@gmail.com
desculpa a audacia...mas como bom enxadrista que sou queria fazer uma correção, o mais correto é Xeque-Mate, não sei se usasse Cheque-Mate, mas no xadrez só se usa Xeque-Mate
mas o blog segue brilhante como sempre e é maravilhoso degustar os seus textos!!!mto obrigado por nos dar esse presente!!!
Bom dia Fernando. Agradeço pelos ótimos post's, entro a cada hora para checar se há novos.
Deixo (humildemente) uma idéia: além dos comentários, poderia criar uma seção de imagens. Acredito que deixaria este Blog mais rico, para delirarmos...
Grande abraço!
kleber
64, 35, 16, Sao Paulo, prosa, poesia, ..., que sonho!
Realmente este blog é viciante... ainda mais para uma pessoa simplesmente apaixonada por cinema.. realmente ele é mágico! Gostaria de saber como você, Fernando, um arquiiteto, virou esse grande diretor, enfim, como você decidiu o rumo da sua vida. Faço engenharia, mas depois de ir lá no seu set no centro de SP, vi a magia de perto, e desde então, não estou conseguindo dormir mais direito..
Muitos beijos e desejos de sorte!
Se o blog for publicado, eu fico na primeira fila para comprar.
Hoje mesmo, conversndo com a pessoa que me instigou a assistir o Jardineiro Fiel ( O nome dela é Terê - só conto isso para o caso de alguém que me conheça e esteja lendo isso possa entender , quem é ela!), falávamos da dificuldade de transformar uma linguagem em outra, o escrito, nem sempre vale para o visto e vice-versa!
Por isso que não adianta filmar o story board,
No youtube tem a primeira cena do livro filmada, tim tim por tim tim, mas não tem graça, não tem plástica, não é cinema.
Você sabe o que é cinema
beijos
Paola
Uma Aula de Cinema. Continue sempre filmando igual Jazz, por favor rsrs. Eu gostaria de ter a oportunidade de montar este filme..
Você pode nos dar exemplos de diretores que filmam o story board e sabem de antemão o filme todo como vai ser? Só pra ilustrar.
Muito bom o diário, já pus o feed no meu blog. Vamos em frente.
Fernando..
Viva o JAZZ!!!
E o que importa se no primeiro dia de filmagem tivemos 3 cameras down???
Não importa...seu texto alegra meus dias e me faz pensar que meu Call sheet nem é tão ruim assim...ou não!
hahahaha
bjos e mais sorte nas filmagens
genial!
Com a minha câmera cheia de sombras me atenho a este princípio do ver ou olhar que você fala e distingue muito bem.
E me faz dizer, praticamente me obriga, sobre a minha opção em não trabalhar com o cinema tridimensional, do cúe/céu com tampa (planetário), ou com a plástica “redonda” do 3Dmax, por exemplo. Eu não uso o compasso e nem os paradigmas do renascimento para a representação absolutamente convincente do ver.
Eu jamais dispenso a interferência livre do traço e as vezes entro contra-mão (as multas são várias).
Mas em Blindness o não ver é a praga...
Estou instigada em ver em Blindness se terá muitas retas ou com muitas curvas como feitas por compasso – Ôpa minhocão!!! Cavernas de Platão me têm o sentido de colméias - em meu olhar eu relaciono a cegueira, no como a igual às abelhas.
Sonia Bacha - SB
Cada post é uma emoção, uma sensação.
vc perdeu o roteiro, pois vc faz jazz!
Isso que é mágica, transformar uma coisa escrita em coisa visível!
Como JAZZ, as vezes introspectivo e calmo, as vezes excitante e mágico. Não consigo imaginar um filme minuciosamente descrito em um History Board, mas pra muitos funciona. Assim como pra muitos funciona a desordem :D
Quando falas na questão poética do filme, em aproveitar mais imgagens do que diálogos, me lembra muito o cinema feito pelo Krystof Kieslowsky. E quando falas num tipo de filme mais falado, com muitos diálogos, me lembras o Woody Allen. O que faz com que eu fique imaginando um filme muito estranho. Mas, embora goste mais do Kieslowsky que o Woody Allen, acho que fazes jus a ambos, e anseio em ver esse filme.
bjos
se precisares de um ligar mais calmo pra rodares essas cenas, podes vir a Pelotas, RS. Te garanto que irás gostar do cenário.
"como no futebol, sabemos que só a jogada de efeito não funciona. É preciso ter uma câmera “A” levantando para esta “B” cortar."
Futebol ou vôlei? :)
Sucesso no filme!
Você é um artista quase barroco, Fernando (uma pérola de formado irregular..), sua obra é algo como um interlúdio, ou intermède ou intermédio... Entre o clarinetista de partitura e o jazz, acho que você toca mesmo é uma inúbia, como um guerreiro, sem limites na floresta encantada da sétima arte.
Além dos bastidores, estamos tendo uma tremenda aula de cinema. Ótimo!
Oi Fernando.
Eu já imaginava, pelo seu estilo e por uma ou outra palavra apanhada em entrevistas tuas, que você não era muito de seguir guiões a risca, mas e shootings boards? Você parte para a filmagem com pelo menos um "pré" shooting board não? Ou arriscas a ter "só" o guião nas mãos? Ou isso de ensaiar a cena como teatro e colocar a cãmara correndo atrás é o lance? Sei que ficção é um milhão de vezes mais "liberto" do que a publicidade, mas mesmo nesse campeonato que você joga, não acontece um "controlo" mais apertado, como numa produção publicitária? Os caras não te cobram shotings ou story boards com antecedência? Bom desculpe o cem número de perguntas, mas é você quem decidiu abrir o jogo, hehehehe.
Mais uma vez parabéns, boa sorte e obrigado.
Terminei o livro, em 2 dias não consegui parar de imaginar as cenas... incrível
Fascinante td que escreve!!!
Estou passando aqui só pra te dizer o quanto os seus posts me viciaram. Sempre gostei de cinema, mas nunca tive a oportunidade de ler algo tão agradável e que me revelasse tantas coisas. Tenha certeza de que quando eu for ao cinema da minha cidade para ver teu filme, já não serei a mesma espectadora.
Obrigada pela aula de cinema.
Sucesso!
p.s. Tomara que o blog vire livro mesmo. Eu vou comprar!
Entendo! e Cada vez mais perfeitamente!
Você já pensou em ser cronista?
Daria muito certo.
cara, achei esse site dias atras (onde e como? nem Deus sabe) e li tudo de uma vez. Sabia do projeto do filme desde o ano passado e li o livro. Até o ultimo capitulo estava tentando imaginar como seria fazer esse filme e torna-lo bom. Quando cheguei ao final do livro e tem a cena da mulher olhando o céu todo branco, pensa que é a sua vez de contrair a cegueira branca e logo apos desce o olhar e consegue ver a cidade abaixo, entendi porque vc tentou comprar os direitos do livro anos atras.
abraços e boa sorte
Fernando, considerando aquela função reminiscente desses teus relatos de filmagens, não caía bem deixá-los acessíveis, mais ou menos no mesmo lugar? Será que não lhe conviria, daqui a, ahm, 30 ou 40 anos, tê-los à mão?
Tudo isso pra sugerir trazer o Gardener pra cá, deixando num esquema similar a este. Se falta mão de obra para tal, tamos aí.
ae. muito bom o blog. muito legal acompanhar o trabalho. só acho q ele podia continuar como está, dando detalhes mais dos bastidores. tecnicas q vc usa, ou coisas engraçadas q acontecem. agora, a uns posts atras, li coisas sobre o filme q eu não gostei de ter lido ja. prefiro a surpresa na hr do cinema. mesmo ja lendo o livro, e sabendo do fio da meada, os detalhes do filme eu prefeira não ficar sabendo aqui. =)
valeu
quem me dera poder um dia dançar ao som do teu jazz.
melhor:
um dia vamos dançar juntos, numa longa e frutífera improvisação.
Parece tudo muito bom,tudo muito bem. Mas às vezes me pergunto se isso não está ficando um pouco Gus Vant Sant em Last Days, quando ele convida até o entregador de jornal, ou algo parecido, para fazer parte do filme pque ele gostou do jeito e da roupa do cara.Acho que improviso é bem vindo, mas fishing com tantas câmeras, sei lá. Sei que dá preguiça, mas o filme é seu, caramba, e por mais que o roteiro esteja perdido, está na sua cabeça. Adoro vc ter todos esses recursos, mas acho que o seu pulso está acima de tudo. E é nele que confio. Sei que estou falando bobagens para alguém com tanta experiência, mas função de comentário é isso. Senão, claro que vc não faria um blog. Continuo na super torcida, com todas essas câmeras e sua cabeça.
Interessante você falar sobre montar a cena como se fosse Teatro. Só vi inteiro "Cidade de Deus", vi trechos muito bonitos de "O Jardineiro Fiel", e sempre achei que as imagens fossem sua preocupação principal, embora em seus filmes a atuação seja algo muito cuidado. Agora você diz o contrário. Ou não, talvez seu repertório de imagens (ou sua aptidão para reconhecê-las) seja tão grande como sua ânsia de (re)conhecer a cena antes de filmá-la.
Pessoalmente estou ansioso para ver esse filme, coisa bastante rara embora goste muito de cinema a ponto de um dia ter achado que seria um diretor, rs. Ter lido Saramago, pouco ainda, e ter visto seu trabalho são uma grande provocação.
Sou grande admirador da obra de Saramago... De posição de câmeras não entendo nada! Só espero que o resultado seja fantástico, bem à altura de José... A propósito, você poderia adiantar onde será filmado (se já não foi) o episódio em que a Mulher do Médico entra na igreja????? Um abraço e boa sorte... Tomara que você não cegue antes do final do filme e eu antes de assistí-lo!
Robinson
WILL WORK FOR FOOD.
Tudo bem Fernando?
É uma bela aula de cinema a que das nesta postagem, a utilização da câmera e de como esta vai induzir ao espectador a ter certos sentimentos [um pouco manipulador, mas mesmo assim nos elaboramos nosso juizo sobre os filmes].
Sucesso Fer, posso te chamar assim?
julio...
Lembro me ainda da primeira vez em que vi um filme teu. Foi o curta Palace II aqui no Festival Internacional de Cinema de Melbourne ( eu estava na premiacaum e quando anunciaram os dois premios, o Grand Prix(!!!) e o de Direitos Humanos, eu bati tanta palma q eles acharam q a equipe do filme estava presente...). Foi desde entaum q comecei a acompanhar de perto o seu trabalho e naum me surpreendo nada com o seu sucesso. Acho que eh merecido e definitivamente inspirador. Fico muito agradecido e um dia ainda vais ver como ainda faco uma "homenagem" a sua obra num(s) dos meus filmes. Naum releve meu teclado sem acento. E vejo Blindness no cinema, e carrego todo mundo comigo. Quero ler o livro mas em Portugues. Acho q sempre se perde um pouco nas traducoes. Fico ansioso por novos posts e pelo filme!
Break a reel!
hlmr.spaces.live.com
Nossa, pensei que essa crise de seguir a risca o storyboard só se passava na minha cabeça (um tanto quanto egoísta esse sentimento, não?!).
Estou aprendendo,fazendo curtas, mas que trabalho gigante dá.
Um curta de 1 minuto tem 12 ou mais folhas com três planos cada. Um de 5 minutos tem 32 folhas. Imagino um longa que loucura que é.
Ainda tenho idéia de coisas, com relação ao longa, micros como produção, uso de câmera etc.
De qualquer forma é sempre bom ver como os diretores trabalham. Adoro a idéia de fazer um blog sobre as filmagens de um longa...
Várias dicas...
Meireles, apesar de eu seu um ator iniciante no cinema, te digo que esse caminho de pensar a atuação de forma mais fluida é benéfico em todos os sentidos. A decupagem, mesmo muito bem feita, cria uma série de matizes de uma mesma cena, o que acaba sendo um problema sério na finalização. Como o Marcelo Garcia disse acima, você está dando uma baita aula de cinema. Parabéns, boa sorte e obrigado!
A cada semana espero ansiosamente pelo post. Que bela comparação a do Jazz. É exatamente nisso que eu viajo nos filmes, nas imagens mais abstratas (da agora conhecida camera B), nas falas mais naturais que bem estruturadas, neste tipo mais vivo de filme. Nunca imaginei como isto pudesse acontecer, como alguém poderia pensar em coisas tão naturais em meio a tantas preocupações técnicas que um diretor precisa estar atento. A cada post consigo matar minha curiosidade e esclarecer minhas dúvidas sobre os bastidores de uma superprodução.
Parabéns!
Fernando. Ótimo post. Pra mim o melhor até agora.
Acho importante você mostrar como o filme vai criando forma, e todas essas curiosidades de produção. Mas acho (talvez por ser um aspirante a cineasta) que as partes mais técnicas são as mais interessantes. Apesar disso, mantenho uma relação de amor com todos os filmes que gosto.
Talvez você não possa repetir a dose com frequência. Mas seria um prato cheio para os que não conhecem, e um ainda maior para os que aspiram a um trabalho como esse.
Um abraço, e que você possa redescobrir a cada dia, seja de filmagem, pós, ou mesmo na divulgação o que é 'Blindness'
Oi, Fernando!!
É realmente muito bom ler sobre as peripécias de um diretor enquanto filma.
Escrevi sobre isso no meu blog, é um post curto, se tiver tempo passa por lá!!
Abs.
http://minhabagda.blogspot.com
Nossa, quando a gente assite um filme, nem dá pra imaginar esse tanto de coisa que você diz, imagino a ansiedade de ver tudo pronto, a ansiedade de comandar essa "bagunça" toda. Mas que delícia assistir...
Fernando,
Trabalho de graça em qualquer função.
Sou ótimo em encontrar roteiros perdidos.
Falo japonês (takusan wakarimasu), inglês, e tenho muita paciência.
Vou aonde você quiser, mesmo que seja para pegar seu café.
Obrigado.
dougdmelo@bol.com.br
Claro que se entende... Tenho um amigo que é um grande violinista, concertino de uma filarmônica na Europa, que uma vez, eu fazendo ele escutar o violinista de um CD de Trilok Gurtu (jazz, world music), me disse: "É, mas eles usam uns esquemas para improvisar".
Olhei pra ele com um olhão!
Que é o que isso tem a ver con nada!? Os caras que só sabem tocar com partitura não conseguem entender a improvisação... Suponho que aconteça a mesma coisa com diretores de cinema.
Lendo e aprendendo!
você não dar aula na minha faculdade?
não faço faculdade ainda mas sempre tive e ainda sonho em fazer cinema, mas aqui no Recife não há um investimento em faculdades federais...sei que um dia ainda farei parte deste entretenimento...mas o que você me aconselharia pra trilhar meu caminho?!
jazz,é bom demais!!! =D
abraço!
Grande Fernando!!! Que aula! Obrigado mais uma vez pelo privilégio!
Abraço!
VistaVision!!
Eu achei q esse bicho tivesse extinto já há uns 20 anos! Cara*** essa camera é da década de 50
Logico q consome filme ppra cara***, ele usa o filme deitado, existe como telecinar uma coisa dessas?
o filme vai ser editado numa moviola tb? chama o spielberg, ele ainda usa
Acompanho o diário e fiquei encantada com a descrição da arte de narrar cinema do post 11! Sempre acreditei que a narrativa dos filmes fosse desenhada no momento da montagem, mas me dei conta de que a quantidade de possibilidades de se contar a estória é estabelecida também no processo de filmagem, que conta inclusive com imagens aleatórias. Estarei na primeira fila para ver a versão final! Boa sorte com as imagens!!
Parabéns pelo texto, camarada.
Oi
Nas últimas semanas produzi bastante material fotográfico...
Hoje postei no Portrait um ensaio sobre o circo Zanni e um outro mais
"filosófico"...
Estão bem bacanas!!!
http://aledacosta.blogspot.com/
Visite quando puder...deixe seu coments...semana que vem, postarei
Casas André Luiz e outras coisinhas!!!
valeu..
Obrigado
Ale
Ola Fernando,
Ando acompanhando seu blogue daqui de Lisboa onde os tugas voltam e meia falam com entusiasmo do seu novo projeto.
Toda vez que volto ao restaurante «Farta Brutos» lembro-me de contar daquela história maravilhosa do seu jantar com o Saramago.
Boa sorte com o filme. Seus posts são coisa séria.
Por curiosidade acabei lendo sua primeira postagem, gostei muito, estou nesse processo de ano sabático agora, larguei minha carreira, meu emprego e minha familia para vir morar em Porto Alegre [morava no Paraguay] e tentar descobrir do quê realmente gosto. Sentia um vazio muito comum talvez para muitas pessoas que passam por problemas de aceitação e resolução... sei lá. A diferença que meu ano sabático [començó em fevereiro] está terminando e preciso tomar uma decisão urgente...
Parabéns, Fernando pelo projeto.
Ensaio sobre a Cegueira é um livro fantático, tão fantástico quanto o é seu autor, e acredito que você dará ao filme toda a sutileza e sensibilidade necessarias para uma boa transcrição.
Boa sorte e Sucesso!
Oi Fernando!
Achei muito interessante o seu blog e estou gostando muito de ler seus comentários a respeito do seu novo filme.
Faço Audiovisual em Goiás e pretendo seguir uma carreira no cinema e vendo
seu blog, minha vontade de produzir filmes fica ainda maior.
Em relação ao seu novo filme, gostaria de saber qual é a previsão de estréia?
Abraços.
Muito bom poder acompanhar os comentários sobre a realização do filme, muito bem escrito, como se estivesse em uma conversa entre amigos, vc é realmente um cara legal!
Sobre a cena dos japoneses se reconciliando, quando começou a descrever a situação, imaginei a cena de um deles precisando ultrapassar algum obstáculo simples (como subir uma escada, escovar os dentes, pegar algum objeto) e o outro, de uma forma atenta, ajuda, acho q poderia passar a impressão de que mesmo com a dificuldade, e o egoismo da muilher (o q é bem dificil de lidar) mas um precisa do outro...como bengalas...humildemente acho q ficaria bom em um filme sobre a cegueira...
Cara, você inaugura uma nova fase no cinema brasileiro. Um amigo meu disse que o seu blog é um novo tipo de marketing, que já cria expectativas para o Blindness.
Discordo. É necessária uma coragem quase naif para revelar um pouco dos bastidores de uma produção tão grande como essa.
Músico ruím não improvisa, ou melhor, não sabe improvisar ;-)
Keep shooting.
Aquele abraço.
Coloquei a foto do post no meu desktop e sempre falo para mim "Um dia vou estar lá, do lado do Meirelles!" Parabén pelo exelente trabalho.
Curioso você falar sobre a quantidade de palavras de um roteiro e sobre cortar palavras na montagem. Me lembro de uma entrevista do Jorge Furtado, pedindo que um roteirista acrescentasse mais diálogos. Também escrevo roteiros e tenho a mesma opinião sobre o menor uso de palavras e mais das imagens. Seu blog é esclarecedor para novatos que gostam de cinema e não têm acesso à produção. Obrigado por ele.
Eu quando li esse livro pirei tanto que compus um blues pra tocar com a minha banda e virou um lance tão denso que nem consigo imaginar isso como o "jazz" que propõe..rs...
Mas enfim....boas sacadas...e mesmo sem roteiro aposto que vai ser um filme fodasso: saramago + fernando meirelles = qualquer coisa, menos merda!
Fernando,
Acho que você utiliza 4 câmeras para escrever também. Adoro seu texto!!
Boa sorte!
O blog daria um bom livro, acompanhado de fotos tiradas durante a gravação, comntários de todos que ajudaram a fazer o filme e alguns comentários de nós, fãs, seria o máximo! Pense na idéia... como pensa nas câmeras.
Bom dia Fernando Meireles.
Gostaria de lhe agradecer mais uma vez pela aula de cinema que você está nos proporcionando, isso não tem preço.
Abraços e estou esperando ansiosamente por este filme.
Rafael Selmi - rselmi@gmail.com
Campinas - SP
Ler o último parágrafo do post 11 me fez um bem que não tem tamanho!!! Já fui muito criticado por pensar assim!! Muitíssimo grato, Fernando!!!
fascinante
este blog é demais!!!!
Parabéns
Acho que pagaria para acompanhar a filmagem de um filme assim.
Fernandão... ta na hora de atualizar o blog véi... Chego de manhã na produtora todos os dias e nada de novos aulas... Ja li tudo do jardineiro Fiel e do Blindness... espero mais.. logo...
Como é que faz para segurar a ansiedade entre um post e outro? Agora com o filme em pós produção, imagino que vc esteja enlouquecido, mas quando der saudade das filmagens, dos atores, dos produtores gringos, dos PAs (hehehe), volta e escreve mais! Esperamos ansiosamente! Abraço
Olá Fernando,
Pra que é fascinado por cinema como eu a ponto de ter absoluta de que seria cineasta não há como descrever o prazer de acompanhar este último post.
E se eu fosse (e quem sabe ainda vier a me tornar) cineasta eu acho que teria esse estilo, acho fantástico também quem utiliza storyboards mas filmar como vc filma é muito interessante e é o que eu provavelmente faria, ou talvez um pouco dos dois.
Grande abraço!
Rogério
Fernando larga de ser mau e posta mais...rsrrsrs
O TRAÇO DE MEIRELES
Numa tentativa, sem limites, podemos enterder a maneira de filmar de Meireles, fazendo um paralelo entre o que é fazer cinema e a sua profissão de arquiteto. Sabemos que um bom filme, sempre começa com um bom roteiro, assim como um bom projeto de arquitetura é o embrião de qualquer grande obra. É claro que no meio disso tudo, tem sempre uma equipe disposta a trabalhar e dar o sangue em nome de cada projeto, seja ele de engenharia ou de cinema, e que para reger essa orquestra é preciso sempre um bom "maestro". Assim como Oscar Niemayer é mundialmente reconhecido pelos traços curvos de suas obras, que segundo ele mesmo, é inspirado nos contornos curvilíneos do corpo feminino, podemos reconhecer o traço de Meirelles em seus filmes, onde a câmera assume, com total liberdade de movimento, o papel de desenhar os cenários e personagens de seus filmes, de uma forma jamais vista no cinema mundial. É como se a câmera fosse o seu lápis de desenho 6B, e aos poucos, num constante jogo de balançar e desfocar das imagens, a história fosse sendo desenhada na tela. Essa forma de filmar, quase documental, quebra totalmente com o padrão hollywoodyano, e tem sido utilizado cada vez mais, e em maior número por novos cineastas pelo mundo afora. Nos cinco anos que freqüentei os bancos da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Goiás, me lembro de passar horas a fio na prancheta, com o professor ao lado, dizendo que, para ser um bom profissional, é preciso aperfeiçoar os nossos traços. Ora, como todo bom arquiteto é reconhecido pelo traço leve e solto de seus desenhos, talvez esteja aí, um dos motivos de tanto sucesso de Meirelles em sua carreira como cineasta. Uma pena é que para isso, tenhamos perdido um grande profissional da área de arquitetura, mas em compensação o Brasil ganhou um dos seus maiores profissionais de cinema.
por Robney Bruno
Adorei a Juliannne Moore como a mulher do médico, perfeita. Estou lendo o livro q é sensacional, e coloco o rosto dela nas imagens da mulher...vai ficar lindo na telona, estou louca para ver. Se vc filma como jazz, caho que podemos dizer q o Saramago escreve como jazz. Que casamento hem!!!!!!!!!! Parabéns sou sua fã.
Sucesso
O problema de se filmar como jazz, é que se o cara não for bom, ele pode desafinar bastante, e com isso levar as ruínas as suas boas intenções com o filme.
fantastico! Moro em Paris e se um dia vier filmar por aqui tem uma voluntaria pra servir cafe, fazer massagens nos pes e ir buscar pain au chocolat.
Um grande abraço
Post novo, post novo, post novo...
el libro es increible, es el mejor libro que he leido, espero que la pelicula sea buena, aunque es dificil que no lo sea con esa historia
saludos
LUIS
Acompanhar as filmagens e ler esse blog são verdadeira aulas de cinema.
Não é a toa que considero você um grande Mestre!
beijos e boa sorte na pós
Por favor!!! atualiza o blog!!
Nós, fiéis acompanhantes e ansiosos expectadores dessa estória maravilhosa, queremos saber todas as novidades!!!!
A gente nem se importa se vc mandar o estagiária escrever...
Aproveitando o gancho da poética câmera B e do poético replicante sideral - lindissima a resolução do casal japonês na fogueira, só um haikai mesmo, para completar
Só posso juntar minha voa à tantas outras,
precisamos de mais posts!
depois de alguns meses acompanhando este blog, estamos todos em posto de espera!
Depois de um período de ausência (devido a uma momentânea exclusão digital), volto a comentar.
Este talvez foi seu tópico mais técnico, mais didático. É bom trazer informações obre a metodologia de como construir uma cena, mas senti falta de uma abordagem mais pessoal.
nbo mai, boa sorte com o filme.
um abraço
Jan
Eurekaa!!
To prestes a rodar meu terceiro curta q terá uma linguagem diferente dos dois anteriores... Eu sou clarinetista, mas tava insegura, achando que esse novo não combinava com clarinete... e eis que Fernando Meirelles me salva! Viva o jazz!!!
(e viva esse blog! Que honra!)
Amo esse livro, junto com Cem anos de Solidão. E adoro demais o Ruffalo, espero ansiosamente o filme. Parabéns Fernando, por toda sua obra no Brasil e no exterior. Boa sorte.
Abraço
Caro Fernando Meirelles ,
Na minha humilde opinião ,você é de fato o melhor DIRETOR do Brasil! Sempre acompanho teus trabalhos ,mas este ,"Ensaio sobre a Cegueira" é sensacional! Parabéns e sucesso!
Grande abraço,
O “Ensaio sobre a Cegueira”
e o que a crítica não quis ver
– Enio Squeff –
Deve ser por uma espécie de obliteração visual – ou intelectual - quem sabe, que a crítica brasileira não se rendeu ao filme “Ensaio sobre a Cegueira”, do brasileiro Fernando Meirelles, baseado no romance homônimo do português José Saramago. O maestro Wilhelm Furtawaengler , na década de 30 do século XX, afirmava que a crítica nunca ia além do público, por ser em grande parte apenas e tão somente parte dele, ou mais que tudo, o seu espelho. Com efeito, Franz Kafka, com seus “O Processo” e “Metamorfose” só foi reconhecido quando alguns intelectuais se deram conta de que havia tudo de surreal, de “kafkiano” digamos, na vida cotidiana das cidades com suas regras irracionais, o esmagamento da individualidade e a falta de sentido no que a sociedade contemporânea elevou como dogma. Para dizer o óbvio em se tratando também de Kafka: as baratas tontas não se sabem à disposição do pé que pode triturá-las. São poucos, enfim, os que prevêem em qualquer ensaio sobre a cegueira um dos grandes diagnósticos, ou antes, a metáfora que, afinal, tornaria transparente a nossa relação com o mundo aparentemente luminoso da informação, e que seria o melhor do nosso século. Não espanta que a cegueira intelectual tenha muitos adeptos, mesmo entre banqueiros, como se está vendo. E que qualquer reflexão a respeito cause um pânico que normalmente convida à rejeição da sua existência como uma ameaça constante a nossas convicções.
Cegueira ou escapismo? Em determinados momentos as coisas parecem se confundir.
Na pintura “A parábola dos Cegos”, de Pieter Brueghel, o Velho (1520/30-1569), a cegueira é um preâmbulo da queda, de qualquer queda. Concebida por um artista que sempre se valeu das alegrorias, o cego que conduz os outros(como a confirmar o Evangelho), é o primeiro da fila a se estatelar: uma viola caída entre as suas pernas, é o único testemunho, algo patético, da sua atividade de músico. Fica a certeza de que a acuidade que lhe resta é a auditiva– um indício de que, afinal, nem tudo está perdido. Não por acaso, é essa também uma das características do filme de Meirelles – a cegueira branca que acomete as pessoas ( “toda a cegueira é branca” dizia o cego Jorge Luiz Borges), passa a ser compensada, em parte, pelos sons: o ouvido como compensação à visão. Ao contrário, porém, da tradição que canta os poetas cegos – o primeiro deles, Homero, teria como apanágio da sua introspecção, justamente a cegueira – no filme de Meirelles uma das poucas alternativas à sobrevivência do cego, não é só falar – é escutar. A questão, contudo, pode se definir numa outra consideração -e que consta do livro de Saramago: cabe ao não cego, ao vidente no sentido inclusive do visionário, do utópico, do que prediz o futuro, conduzir ao ordenamento do mundo. E não por acaso, certamente, o “rei” da terra dos cegos – aquele que, no fim das contas, tem olhos para ver (ainda que possa ser “caolho”, como no ditado popular, o que não é o caso) - só persiste como tal, não apenas por ter olhos, por estar na pele de uma mulher. Claro que se trata da solução de um cineasta que se cingiu aos contornos do romance, a uma reflexão que foi fiel a Saramago. Tanto no filme, quanto no romance, a mulher aparece como única solução viável ao mundo do caos. Talvez seja essa a contrariedade que o filme suscita: supõe-se que à falta de um macho, o protótipo do xerife, do super-herói americano a dar “porradas” e, na outra ponta, a lavar as sujeiras fisiológicas dos homens – tarefa a que as mulheres se dedicam já no trato com os nenéns – muitos críticos, ao que parece, fizeram eco aos norte-americanos. Não gostaram e pronto. É compreensível.
Num país, ideologicamente convencido, como nos Estados Unidos, de que, no cinema para as massas, as mulheres devem se travestir, têm de assumir os punhos poderosos, os ponta-pés especializados nas lutas orientais e em lutas em que as espadas mortíferas são brandidas como as dos samurais – que são sempre as armas dos homens, dos mais fortes fisicamente – vale muito pouco que o mundo feminino seja, no fundo, o vencedor. Afirmar, por aí, que a crítica brasileira imitou os norte-americanos pura e simplesmente, talvez seja apenas uma ilação apressada. Os especialistas têm sempre as boas razões que escapam aos leigos. A cegueira, porém, como sugerem o filme e o livro, é uma doença que se dá numa grande cidade – justamente em São Paulo. E isso parece não ter sido igualmente relevado.
Talvez seja esse o outro lado da questão. As filmagens externas se passam todas numa paulicéia facilmente reconhecível, até mesmo por quem não mora na cidade. As próprias cenas em que os cegos são submetidos à quarentena – uma espécie de hospício - não sugerem menos do que o inferno do Carandiru. E como vivemos no contraste do Brasil, há também os grandes apartamentos, as casas confortáveis que dão para aquela paisagem exuberante, mais que prazerosa dos arvoredos da região dos Jardins, vistos do alto. E há, finalmente, muito também do seu oposto, daquilo que somos na periferia, o que sugere o “panorama visto da ponte”, para recorrer ao título da famosa peça de Arthur Miller. Entre a pujança do horizonte aprazível de São Paulo, ou a degradação do Tietê, com suas águas estagnadas e as margens infectas e que confluem com as ferrovias da periferia, há o lugar para algumas cenas dantescas, coisas de cenaristas. Como constatava Mozart com sua incrível invenção que, inclusive, lhe provocava lágrimas quando escutava suas próprias composições, para um paulistano, a metamorfose a que o filme submete a cidade de São Paulo, deve arrepiar no sentido contrário ao prazer do compositor com a sua música: resta a interrogação angustiante, isto é, se não podemos chegar às ruínas que o filme mostra. Neste ponto, talvez não seja arriscada levantar a hipótese de que foi esse o outro problema para a crítica: é preferível, naturalmente, considerar a Gotan City do filme Batman, julgada pela mesma crítica muito melhor do que o filme brasileiro ( pelo menos é o que dizem as estrelinhas das cotações dos jornais), à alternativa requerível à cidade “dos cegos”(São Paulo) idealizada pelo cineasta. E que nos assusta, exatamente por a reconhecermos, não na sua ruína construída, deformada, que só o cinema pode engendrar – mas na sua degradação possível, previsível que só o pessimismo leva em conta.
Ao término da leitura de um de seus romances, Dostoievsky teve de acariciar as mãos de sua companheira, a guiza de consolo; ao lê-lo, ela mergulhou numa tal tristeza que foi difícil demovê-la de que o mundo, quem sabe, pudesse talvez ser menos trágico do que as invenções de um escritor. Quando escreveu algumas de suas sonatas, Beethoven não previu que certas pessoas iriam se desmanchar no choro: disse que compunha não para que as pessoas se derramassem em lágrimas, mas para que refletissem. Estima-se que nunca foi a intenção de José Saramago, ou de Fernando Meirelles sugerirem menos do que uma parábola. Nenhum dos dois deve ter se demorado na perspectiva que preside a idéia primitiva de que a cegueira pode ser, por exemplo, o tal atributo dos poetas. Homero cego, certamente justificava os seus poemas como conseqüência dos que se vêem mergulhados em sua própria interioridade. Inimaginável esse tipo de consideração nem em Saramago, muito menos em Brueghel, ou no cineasta brasileiro. Vem daí, porém, que a cegueira, como perda da capacidade de surpreender a evidência - que, por sua vez, tem a respaldá-la justamente o “ver”, o de conter em si a transparência, e que nasce do latim “videre” - passa a ser exatamente o contrário do que se imagina a grande contribuição da crítica.
O paradoxo, em suma, afigura-se todo esse: o filme “Ensaio sobre a Cegueira” deixa em aberto que, de fato, quase simploriamente, o maior cego é aquele que se recusa a ver. A pergunta que fica no ar, porém, é aquela que não fazemos: talvez não estejamos vendo pelas razões que a própria cegueira nos dá – de não termos como evidente de que estamos cegos. Fica, mesmo assim, a convicção de que São Paulo pode estimular esse tipo de raciocínio - que é a forma de não raciocinar, ou de se recusar a fazê-lo.
Na fita, a grande cidade se mostra pela ótica do que, contrariamente, talvez seja o que podemos denominar de “poética do horror”: nada de Batmans a cruzar os céus artificiais de uma cidade brumosa que assusta de mentirinha, por ser o ambiente de um “homem morcego”; ou de Super-Homens a salvar, no último momento, o próprio mundo. Quando as cidades mergulham no sem sentido de bolsas de valores, a se esfarinharem na predação do consumismo, ou a se diluírem sob bombas – não há mesmo esperança possível. Não há super-heróis que lhes valham. A não ser naquele que vê através do mundo escondido no branco, que tapa a vista à evidência. Explica-se, porém, desta forma, que o filme Batman seja considerado a grande realização cinematográfica para os grandes jornais: eles nos conformam, sabe-se lá, à cegueira circundante. Haveria, talvez, que falar sobre esse ir e vir do que é o filme de Meirelles: ele se propõe a discutir a cegueira, um tema que a cegueira espiritual teima em não fazê-lo.
Mas é apenas uma das especulações possíveis.
Em tempo: José Saramago viu o filme e confessou-se emocionado com a adaptação de Fernando Meirelles. Difícil dizer se a crítica cinematográfica de São Paulo ou do Brasil leu o livro de José Saramago. Quem o fez – embora essa não seja em momento algum uma exigência - muito dificilmente desqualifica o filme. No mais, noticia-se que uma associação de cegos americanas achou o filme “preconceituoso”. Talvez se possa falar de uma possível, mas até aqui inédita cegueira dupla.
Enio Squeff
enio@squeff.com
www.squeff.com
Outubro 2008
O “Ensaio sobre a Cegueira”
e o que a crítica não quis ver
– Enio Squeff –
Deve ser por uma espécie de obliteração visual – ou intelectual - quem sabe, que a crítica brasileira não se rendeu ao filme “Ensaio sobre a Cegueira”, do brasileiro Fernando Meirelles, baseado no romance homônimo do português José Saramago. O maestro Wilhelm Furtawaengler , na década de 30 do século XX, afirmava que a crítica nunca ia além do público, por ser em grande parte apenas e tão somente parte dele, ou mais que tudo, o seu espelho. Com efeito, Franz Kafka, com seus “O Processo” e “Metamorfose” só foi reconhecido quando alguns intelectuais se deram conta de que havia tudo de surreal, de “kafkiano” digamos, na vida cotidiana das cidades com suas regras irracionais, o esmagamento da individualidade e a falta de sentido no que a sociedade contemporânea elevou como dogma. Para dizer o óbvio em se tratando também de Kafka: as baratas tontas não se sabem à disposição do pé que pode triturá-las. São poucos, enfim, os que prevêem em qualquer ensaio sobre a cegueira um dos grandes diagnósticos, ou antes, a metáfora que, afinal, tornaria transparente a nossa relação com o mundo aparentemente luminoso da informação, e que seria o melhor do nosso século. Não espanta que a cegueira intelectual tenha muitos adeptos, mesmo entre banqueiros, como se está vendo. E que qualquer reflexão a respeito cause um pânico que normalmente convida à rejeição da sua existência como uma ameaça constante a nossas convicções.
Cegueira ou escapismo? Em determinados momentos as coisas parecem se confundir.
Na pintura “A parábola dos Cegos”, de Pieter Brueghel, o Velho (1520/30-1569), a cegueira é um preâmbulo da queda, de qualquer queda. Concebida por um artista que sempre se valeu das alegrorias, o cego que conduz os outros(como a confirmar o Evangelho), é o primeiro da fila a se estatelar: uma viola caída entre as suas pernas, é o único testemunho, algo patético, da sua atividade de músico. Fica a certeza de que a acuidade que lhe resta é a auditiva– um indício de que, afinal, nem tudo está perdido. Não por acaso, é essa também uma das características do filme de Meirelles – a cegueira branca que acomete as pessoas ( “toda a cegueira é branca” dizia o cego Jorge Luiz Borges), passa a ser compensada, em parte, pelos sons: o ouvido como compensação à visão. Ao contrário, porém, da tradição que canta os poetas cegos – o primeiro deles, Homero, teria como apanágio da sua introspecção, justamente a cegueira – no filme de Meirelles uma das poucas alternativas à sobrevivência do cego, não é só falar – é escutar. A questão, contudo, pode se definir numa outra consideração -e que consta do livro de Saramago: cabe ao não cego, ao vidente no sentido inclusive do visionário, do utópico, do que prediz o futuro, conduzir ao ordenamento do mundo. E não por acaso, certamente, o “rei” da terra dos cegos – aquele que, no fim das contas, tem olhos para ver (ainda que possa ser “caolho”, como no ditado popular, o que não é o caso) - só persiste como tal, não apenas por ter olhos, por estar na pele de uma mulher. Claro que se trata da solução de um cineasta que se cingiu aos contornos do romance, a uma reflexão que foi fiel a Saramago. Tanto no filme, quanto no romance, a mulher aparece como única solução viável ao mundo do caos. Talvez seja essa a contrariedade que o filme suscita: supõe-se que à falta de um macho, o protótipo do xerife, do super-herói americano a dar “porradas” e, na outra ponta, a lavar as sujeiras fisiológicas dos homens – tarefa a que as mulheres se dedicam já no trato com os nenéns – muitos críticos, ao que parece, fizeram eco aos norte-americanos. Não gostaram e pronto. É compreensível.
Num país, ideologicamente convencido, como nos Estados Unidos, de que, no cinema para as massas, as mulheres devem se travestir, têm de assumir os punhos poderosos, os ponta-pés especializados nas lutas orientais e em lutas em que as espadas mortíferas são brandidas como as dos samurais – que são sempre as armas dos homens, dos mais fortes fisicamente – vale muito pouco que o mundo feminino seja, no fundo, o vencedor. Afirmar, por aí, que a crítica brasileira imitou os norte-americanos pura e simplesmente, talvez seja apenas uma ilação apressada. Os especialistas têm sempre as boas razões que escapam aos leigos. A cegueira, porém, como sugerem o filme e o livro, é uma doença que se dá numa grande cidade – justamente em São Paulo. E isso parece não ter sido igualmente relevado.
Talvez seja esse o outro lado da questão. As filmagens externas se passam todas numa paulicéia facilmente reconhecível, até mesmo por quem não mora na cidade. As próprias cenas em que os cegos são submetidos à quarentena – uma espécie de hospício - não sugerem menos do que o inferno do Carandiru. E como vivemos no contraste do Brasil, há também os grandes apartamentos, as casas confortáveis que dão para aquela paisagem exuberante, mais que prazerosa dos arvoredos da região dos Jardins, vistos do alto. E há, finalmente, muito também do seu oposto, daquilo que somos na periferia, o que sugere o “panorama visto da ponte”, para recorrer ao título da famosa peça de Arthur Miller. Entre a pujança do horizonte aprazível de São Paulo, ou a degradação do Tietê, com suas águas estagnadas e as margens infectas e que confluem com as ferrovias da periferia, há o lugar para algumas cenas dantescas, coisas de cenaristas. Como constatava Mozart com sua incrível invenção que, inclusive, lhe provocava lágrimas quando escutava suas próprias composições, para um paulistano, a metamorfose a que o filme submete a cidade de São Paulo, deve arrepiar no sentido contrário ao prazer do compositor com a sua música: resta a interrogação angustiante, isto é, se não podemos chegar às ruínas que o filme mostra. Neste ponto, talvez não seja arriscada levantar a hipótese de que foi esse o outro problema para a crítica: é preferível, naturalmente, considerar a Gotan City do filme Batman, julgada pela mesma crítica muito melhor do que o filme brasileiro ( pelo menos é o que dizem as estrelinhas das cotações dos jornais), à alternativa requerível à cidade “dos cegos”(São Paulo) idealizada pelo cineasta. E que nos assusta, exatamente por a reconhecermos, não na sua ruína construída, deformada, que só o cinema pode engendrar – mas na sua degradação possível, previsível que só o pessimismo leva em conta.
Ao término da leitura de um de seus romances, Dostoievsky teve de acariciar as mãos de sua companheira, a guiza de consolo; ao lê-lo, ela mergulhou numa tal tristeza que foi difícil demovê-la de que o mundo, quem sabe, pudesse talvez ser menos trágico do que as invenções de um escritor. Quando escreveu algumas de suas sonatas, Beethoven não previu que certas pessoas iriam se desmanchar no choro: disse que compunha não para que as pessoas se derramassem em lágrimas, mas para que refletissem. Estima-se que nunca foi a intenção de José Saramago, ou de Fernando Meirelles sugerirem menos do que uma parábola. Nenhum dos dois deve ter se demorado na perspectiva que preside a idéia primitiva de que a cegueira pode ser, por exemplo, o tal atributo dos poetas. Homero cego, certamente justificava os seus poemas como conseqüência dos que se vêem mergulhados em sua própria interioridade. Inimaginável esse tipo de consideração nem em Saramago, muito menos em Brueghel, ou no cineasta brasileiro. Vem daí, porém, que a cegueira, como perda da capacidade de surpreender a evidência - que, por sua vez, tem a respaldá-la justamente o “ver”, o de conter em si a transparência, e que nasce do latim “videre” - passa a ser exatamente o contrário do que se imagina a grande contribuição da crítica.
O paradoxo, em suma, afigura-se todo esse: o filme “Ensaio sobre a Cegueira” deixa em aberto que, de fato, quase simploriamente, o maior cego é aquele que se recusa a ver. A pergunta que fica no ar, porém, é aquela que não fazemos: talvez não estejamos vendo pelas razões que a própria cegueira nos dá – de não termos como evidente de que estamos cegos. Fica, mesmo assim, a convicção de que São Paulo pode estimular esse tipo de raciocínio - que é a forma de não raciocinar, ou de se recusar a fazê-lo.
Na fita, a grande cidade se mostra pela ótica do que, contrariamente, talvez seja o que podemos denominar de “poética do horror”: nada de Batmans a cruzar os céus artificiais de uma cidade brumosa que assusta de mentirinha, por ser o ambiente de um “homem morcego”; ou de Super-Homens a salvar, no último momento, o próprio mundo. Quando as cidades mergulham no sem sentido de bolsas de valores, a se esfarinharem na predação do consumismo, ou a se diluírem sob bombas – não há mesmo esperança possível. Não há super-heróis que lhes valham. A não ser naquele que vê através do mundo escondido no branco, que tapa a vista à evidência. Explica-se, porém, desta forma, que o filme Batman seja considerado a grande realização cinematográfica para os grandes jornais: eles nos conformam, sabe-se lá, à cegueira circundante. Haveria, talvez, que falar sobre esse ir e vir do que é o filme de Meirelles: ele se propõe a discutir a cegueira, um tema que a cegueira espiritual teima em não fazê-lo.
Mas é apenas uma das especulações possíveis.
Em tempo: José Saramago viu o filme e confessou-se emocionado com a adaptação de Fernando Meirelles. Difícil dizer se a crítica cinematográfica de São Paulo ou do Brasil leu o livro de José Saramago. Quem o fez – embora essa não seja em momento algum uma exigência - muito dificilmente desqualifica o filme. No mais, noticia-se que uma associação de cegos americanas achou o filme “preconceituoso”. Talvez se possa falar de uma possível, mas até aqui inédita cegueira dupla.
Enio Squeff
enio@squeff.com
www.squeff.com
Outubro 2008
Olá Fernando tudo bem? desculpe postar aqui, mas é q não consegui uma outra forma de contato (procurei um e-mail seu mas não encontrei); é o seguinte: como sou fã do seu trabalho, principalmente Cidade de Deus (q pra mim é o melhor filme nacional já feito), e li numa entrevista vc dizer q é um devorador de livros, queria t perguntar se vc não gostaria de ler uma obra q escrevi já faz algum tempo; imagino como ficaria na telona...quem sabe? é um universo semelhante ao já citado Cidade de Deus; se vc tiver interesse em ler, sem compromisso nenhum, eu deixo aqui meu e-mail: sergio.kuns@brturbo.com.br para trocarmos ideias
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