quarta-feira, 3 de outubro de 2007
Post 7: Sobre Frio, Chivitos e Sistema de Irrigação
Depois dos abraços de despedida, fui ao mercado de Montevideo com o Quico (meu filho) comer o tal do Chivito, bomba de gordura e caloria, mas que faz jus à fama. Viemos digerindo pela Calle Piedras ouvindo um som que vinha da rua: “Na Boquinha da Garrafa”, remix. Acredita? A esquina com a Collon havia sido fechada, a produção colocou um DJ na calçada, cerveja e vinho numa mesa e estava rolando nossa “wrap-party” uruguaia. Wrap-parties são as festas de despedidas dos filmes, são sempre emocionais pois para a maioria das pessoas é um adeus para sempre. Já fizemos a wrap-party canadense e agora falta ainda a brasileira. Os uruguaios estavam com a corda toda e sacudiram la cristaleira.
A idéia de vir filmar em Montevideo nasceu como uma piada. Em março, andávamos pelo centro de São Paulo procurando dois quarteirões para serem transformados em uma rua de comércio sofisticado. Mas, frustrados com a quantidade de fios, placas e deterioração das calçadas e das ruas de São Paulo, começamos a considerar outras cidades para estas cenas. Campinas? Curitiba? No meio desta conversa, ali no Parque Dom Pedro, o César Charlone, fotógrafo, veio com a sugestão: “Porque não vamos para Montevideo?”.
Apesar de estar há 30 anos no Brasil ele é um Uruguaio patriota e costuma engrandecer descaradamente as qualidades de seu pequeno país. Rimos da idéia absurda e continuamos a nos deprimir com o abandono da zona cerealista de São Paulo. Mas Uruguaios são persistentes. Uma semana depois, o César nos entregou um pacote de fotos do centro velho de Montevideo. Eram fotos de um conjunto de prédios muito bonitos em ruas praticamente vazias. Parecia um estúdio.
“Parece bom, mas nunca vamos conseguir fechar um lugar destes durante a semana”, expliquei.
“As fotos foram tiradas sexta feira”, ele retrucou.
“Sério?”
A idéia maluca soou mais razoável e decidimos dar um pulo em Montevideo só para conferir. “Ver-te e amar-te foi um só instante”, recitou o poeta parnasiano dentro de mim.
Decidi filmar no Uruguai. E fomos. (Sempre me impressiono ao ver como os diretores são mimados). Só depois de nos vermos encalacrados na burocracia entre os dois paises é que percebemos que este negocio de Mercosul é mera balela. Levar qualquer coisa de um país para o outro é como tentar entrar com uma Ak-47 na área de embarque de um aeroporto americano. Mas já era tarde para recuar. . O resto é história.
Fechamos dois quarteirões da Collon e mais parte das transversais. O Tulé, diretor de arte, transformou os casarões abandonados em restaurantes, cafés, livrarias, pet-shop, farmácia, uma loja da C&A (que entrou apoiando o filme) , uma loja do Alexandre Herchcovitch – que nos deu um monte roupas e ainda fez uma participação bebendo água da sarjeta. Nos preparamos bem para aquele dia de filmagem: havia quatro caminhões pipa e um sistema de irrigação complexo que criava uma chuva artificial em quase 200 metros de rua. Com 10 atores e uma centena de figurantes molhados, no frio, com vento, cachorro, quatro câmeras rodando ao mesmo tempo e apenas um dia para filmar esta seqüência, eu tinha tudo para viver o pior dia de minha vida. Mark Ruffalo prometeu ficar fazendo piada o tempo todo para levantar meu moral. Rodamos antes outras ceninhas em Montevideo até chegar o dia da esperada diária de chuva e desespero.
Dormi mal na noite anterior. Não consegui parar de ficar organizando mentalmente tudo o que precisaria acontecer e pensando em que ordem filmar. Às 6 da manhã eu já estava no saguão do hotel. Lá fora um vento katrínico nas copas das árvores e as rajadas de chuva contra as vidraças pareciam efeito especial mal feito, de tão exagerado. Para piorar estava muito frio. Ouço sempre histórias de diretores que maltratam equipe e atores para conseguir o que buscam, mas infelizmente não me encaixo nesta categoria. Fico com pena de todo mundo. Então resolvi mudar os planos da noite mal dormida, adiar a cena complicada e começar a filmar uma ceninha dentro de uma confeitaria na esperança de que o tempo melhorasse. Com um olho na cena, (que ficou bem fraquinha, aliás) e outro na janela, fui vendo o vento ceder um pouco. Paramos para o almoço e sabia que depois disso não daria mais para empurrar com a barriga a cena da chuva. Eu havia conversado com os assistentes de direção sobre o que deveria acontecer na rua, mas não participei de nenhum ensaio, então comemos rápido e fomos para o set percorrer todo o espaço. O Celso ia me dizendo o que aconteceria em cada lugar: “Dois caras aparecem naquele balcão, uma garota vem catar água com a panela aqui, três pessoas peladas vão cruzar o quadro por aqui, o Herchcovitch vai beber água nesta sarjeta, um grupo aqui, outro lá etc., etc., etc”. O plano pareceu muito bom, fizemos alguns ajustes teóricos, mas a dúvida persistia: “Será que isso tudo vai funcionar quando o assistente gritar ‘ação’”?
Enquanto o César posicionava as câmeras andei com o elenco por todo o percurso lembrando-os de que deveriam parecer felizes naquela chuva gelada, conversei com o Alexandre, treinador do cachorro, sobre o que o Barnie teria que fazer, pedi desculpas para todo mundo pelo frio que iriam passar e resolvi rodar três vezes em seguida, sem cortar. Assim todos passariam frio por uns seis minutos e poderiam ir se reaquecer depois. Melhor do que ficar se molhando e se aquecendo várias vezes a tarde toda. Aquecedores, cobertores ,chocolate quente e este tipo de conforto foi organizado pela produção para as pausas, mas mesmo assim era difícil. ( E para falar a verdade nunca vi o tal chocolate quente.)
“Roda e reza”, pedi ao Walter, assistente. E a coisa funcionou. Mágica.
Demos uma pausa para a galera se reaquecer e reposicionamos as câmeras. Fizemos mais três passadas seguidas e mais uma pausa para aquecimento. Tínhamos tempo e água para fazer ainda mais três passadas mas, ao subir a rua vi um cara sem camisa completamente azul, depois vi a Alice Braga, já meio roxa e tremendo. Toquei nela e parecia que estava morta de tão fria. Ninguém estava reclamando, mas achei melhor parar. Me arrependi depois. Deveria ter feito algumas ceninhas isoladas que estavam preparadas, mas quando isso me ocorreu todo mundo já havia se dispersado. Merda, pensei. Mas não importa. No final deu mais certo do que eu previa e a cena está en la lata. E está bonitaça, com dizem los hermanos. E esse foi o último dia de trabalho no Uruguai. Quando começou a soar um Axé Remix na festa achei que aí também já era demais. Como o Chivito já estava digerido e todo mundo estava feliz, aquela era minha deixa para me pirulitar. E fui.
Agora é no Brasil.
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64 comentários:
Fernando, tente postar com antecedência os locais da filmagem, gostaria de acompanhar de longe...
Abraço.
Ah, Fernando...
Como você descreve tão vividamente tudo... como parece que fui eu que estive lá e vivenciei toda essa mágica... senti frio, tomei chocolate quente, agasalhei-me para, logo em seguida, sair na chuva fria, quase sem roupa... senti a água gelada caindo insistentemente em minha pele desprotegida... comi o chivito (passei mal, viu?...rs), participei da festa de despedida, tive dó de todo mundo pelo sacrifício (quem assiste a um filme nem imagina o que passaram os atores e equipe nesta ou naquela cena), fiquei estressada com a burocracia para transportar pessoas e equipamentos para outro país, bebi água da sarjeta, enfim, através de sua minuciosa e intensa descrição, estive lá virtualmente, mas senti tudo. E, ainda por cima, você é tão coração que tudo o que faz só pode dar certo.
Grata por extasiar-me com seus textos.
Boa sorte e um grande beijo.
Ana Lanzoni
P.S. - vem Oscar por aí, pode apostar.
Fernando, tem sido ótimo poder acompanhar pelo blog as suas "peripécias", e que bom que você tem o MArk Ruffalo por aí prá te animar hein??
Há no orkut uma comunidade, aliás, duas, do filme, e o pessoal etá querendo acompanhar um dia das filmagens. VOc~E acha possível??
Meirelles!!!!!!!!!!!1 cara, vc é fantástico! sou seu fã! to lendo como doido esse seu blog! ta muito legal, parabéns! espero com muita, mas muita ansiedade o seu novo filme!
FORÇA SEMPRE
Bom ver as coisas dando tão certo. Parece que sua equipe é muito eficiente! Parabéns!
Olá Fernando!
Primeiramente quero parabenizá-lo pelo belo trabalho que vem fazendo... Quero que saiba que gostaria muito ver um dia de gravação... Sou muito sua fã e também do Mark Ruffalo... Acho que não terei outra oportunidade de conhecê-los pessoalmente nem tão cedo... Por isso peço que divulge o lugar das próximas gravações... Sou do Rio de Janeiro, mas não terei nenhum problema em ir até vocês.
Beijos para todos e obrigada,
Marina
De justa, realmente a vida não tem nada: Fernando, além de diretor iluminado Você ainda é um escritor de mão cheia, e pela qualidade gastronômica dos posts ainda entende de cozinha. rs A sorte é que, apesar de concentrados esses talentos, Você os compartilha com a gente na forma de filmes e blogs. Banquetes para o espírito que nos fazem "perdoá-lo" por não nos convidar pra um jantar na sua casa. rs
Hey grande. Estou me tornando cada vez mais f�.
Al�m da habilidade como cineasta, escreve de forma primordial.
E parab�ns pelas grava�es no Uruguai, acredito que as cenas tenham ficado maravilhosas. E n�o acredito que tava tocando "na boquinha da garrafa"! hahaha.
Parab�ns pelo filome, pelo blog e pelo talento.
Abra�os!
Mas não é possível!
Essa é com certeza minha história preferida, sem discussão, li o livro e nunca mais deixei de observar algumas cenas do dia a dia como se fosse do livro. Tá, isso todo mundo já sabe.
Estou ansiosa pelo filme? Não sei como vai ser estes próximos meses, que vou me emocionar vou fazer todas as ligacões, também não tenho dúvida.
Estar ansiosa pelos posts, tb todo mundo já percebeu, mas estou surpresa como fico emocionada com a passagens descritas, que que é isso?
Esta é uma nova possibilidade, ir pirando aos poucos, antes de piprar de vez no cinema!
Bom trabalho!
Figurantes, clima e pessoas acabam criando uma força mágica entre eles fazendo com que um aparente e certeiro caos não aconteça. Passamos por algo semelhante na gravação de um videoclipe em plano sequência com uns 15 amigos "atuando" mas a coisa fluiu de forma incrível. Sempre dedico o trabalho a eles. Inclusive, aproveitando que tou aqui, se quiserem conferir, é só procurar Videoclipe Matiz Dueto no YouTube.
Ah, uma coisa. Eu não li o livro. E minha namorada vinha dizendo que tinha uma revelação bacana ao longo dele, relacionada com a personagem de Juliane Moore. E eis que nas fotos postadas no UOL dos bastidores do filme eu leio essa revelação numa das legendas. Tudo bem que o livro já está nas plateleiras há algum tempo... mas acabei ficando meio triste em saber que já vou saber dessa informação quando começar a ler o Ensaio Sobre a Cegueira.
No filme será algo presente desde o princípio? Imagino até que sim. Na leitura as estratégias são outras.
enfim... lendo sempre. abraços.
Fernando,
Não tenho palavras para te dizer o quanto torço para que esse filme fique à altura deste livro que tanto mexeu com minhas emoções (algumas tão primitivas que jamais havia tido contato com elas) e o quanto sei que não há ninguém que possa conduzir esse projeto tão habilmente quanto você. Estou na torcida, na expectativa e na platéia. Que bons ventos te tragam à São Paulo!
E ai Fernando!
Po cara,cada vez melhor esse seu Blog!Ja to viciado nele!!!
Num vejo a hora de "Blindness" estreiar ano que vem!
N�o costumo ir nos cinemas na estreia,mas pra "Blindness" CONCERTEZA eu vou fazer uma exess�o.(ah,e para "Indiana Jones 4" tamb�m,vai...)
� isso ai Meirelles,continue fazendo filmes,Porfavor!!!!!
Um Abra�o!
Show Fernando! Li esse post com uma tensão danada, esperando o troço dar certo! Jejejejejeje... (Risada en Español pra entrar no clima!)
O Uruguai tem uma natureza belíssima e um churrasco de ovelha de fazer inveja a qualquer um! Volte lá outras vezes pra passear! Não vai se arrepender!
Abraço!
Maravilhosa sua descrição da filmagem, como sempre. Todas as energias positivas para o filme!
www.monolito.org
É interessante ver que mesmo os grandes diretores tem alguns medos, ficam na dúvida e se arrependem. Eu tinha a idéia equivocada que as pessoas sempre estão seguras do que estão fazendo, mas nem sempre é assim. Isso dá um ar de humanidade para o cinema...
Muito legal!!!
Estou adorando o blog e muito ansioso pelo filme!
E quando é que veremos fotos da produção??
Parabéns e sucesso!
Ontem à noite eu li o Ensaio, a parte do livro que o autor depois de discorrer das desconfianças a respeito da possibilidade nociva de quem cometeu o assassinato do chefe, e assim acabou por alterar a distribuição de comida que vinha ocorrendo já com certa normalidade, e interrompi quando o autor cita a mania por natureza...
Na hora lembrei-me do que conheço deste lugar que vivo e sua natural exuberância e já comprovei a mania que gira em torno. Também me lembrei do filme Labirinto de Fauno, aliás de todos os Labirintos.
Pessoalmente eu tomei ojeriza por tudo que suscita a mania, poucas coisas me incomodam tanto e fiquei impressionada com a sua paciência, festinha com AXÉ, é demais de chato e pode tornar-me psicopata.
Bem, estou aqui em minha casa stúdio, em meio a muitas possibilidades de belas fotos primaveris.
E espero não acionar nada que seja pura mania ela cega, eu sei.
Sonia Bacha - SB
Parece que estamos ao seu lado, acompanhando de perto cada cena, cada corte. A cada depoimento fico com mais água-na-boca, esperando o filme.
Enfim, outro texto MUITO bem escrito do multi-talentoso Fernando Meirelles, parabéns mais uma vez.
Um abraço e Boa sorte!
Jan
Fernando, sou aluna do ensino medio e estou fazendo um ensaio de arte sobre alienacao. Ano passado havia lido o livro ensaio sobre a cegueira e gostei MUITO!, ele mudou minha forma de ler alguns livros, e agora `e o meu livro predileto. Resolvi fazer meu ensaio sobre alienacao me baseando no livro, ja que havia gostado muito e o tema dele`e exatamente alienacao. Conversando com alguns amigos descobri que voce estava produzindo esse filme e fiquei muito curiosa para assisti-lo. Gostaria de saber se podiamos nos comunicar atraves do seu blog para lhe fazer algumas perguntas que nortearao meu trabalho.
Muito obrigada
Isabela
Com você dirigindo, Fernando, dificilmente as coisas darão erradas. Parabéns pelo texto, pelo blog, pelo filme, pelo sucesso, pela genialidade e, principalmente, pela generosidade em nos contar tudo isso. Bjos, Marcella
Só posso agradecer também esse texto ótimo, mas penso como ficaremos órfãos desse blog depois que a filmagem terminar. Tomara que o Fernando engrene outro filme e continue o diário sem fim.
um abraço, Fernando, e merci,
clara lopez
Oi Fernando,
Eu sou ator.Fui numa palestra sua, lá no Sesc Augusta, ainda o "Cidade de Deus" estava na pauta. Depois eu tive o prazer de encontrá-lo no lançamento do longa "Cheiro do Ralo" no Espaço Unibanco.Na ocasião eu estava acompanhado por um amigo nosso em comum, Ricardo Dantas (que faz animações, lembra?).
Foi na mesma época que eu recebi por email, um proposta de seleção da O2, para um longa gringo.Estranhei.Fiquei sabendo que o projeto era seu.Yes!!!!!
Quando fui até a produtora pegar detalhes, soube que o elenco já estava fechado, internacional, até aí tudo bem, mas que teria figurações interessantes.
Pensei em cair fora. Eu a esta altura fazer figuração?!
Minha consciência pesou.Liguei para o Dantas, que me "abriu os olhos".Primeiro por que é um longa, segundo por que é SEU!Terceiro que é uma mega produção estrangeira, diga-se de passagem, muito bom para qualquer ator aprender, e, como no teatro, o Coro também ajuda a contar a história.Pronto me convenceu.
E não me arrependi!Já fiz alguns curtas, comerciais...mais nada neste porte. Foi muito bom estar ali. Você é o diretor mais humano que já conheci. Sem stress, simples e educado. Cara, era muita gente (figurantes), equipe, atores, equipamentos, buzinas,e detalhes para um homem só!
Muito obrigado!Aprendi bastante.
Pena São Paulo não oferecer a estrutura que vc precisava para filmar toda a parte da América do Sul por aqui...
Ah!Eu sou aquele cara que estava morrendo de frio lá no viaduto da Pça da Bandeira, pulando com aquele saco marron que vc achou engraçado.Passaria por tudo isto de novo.
Forte abraço,
José Jesus
Caracas.... Moro do lado do Shop. Dom Pedro e perdi essa conversa para escolha do local da gravaçao?
Continue entusiasmado com o blog... esta demais.
Abs
ah vc tinha que ter vindo filmar alguma coisa em florianópolis. me doeu a alma não poder ir pra São Paulo te ver cara.. e a Juliane Moore então.. dammed!
to seguindo teus passos na sétima arte. um dia a gnt se encontra. e eu te lembro que esse comentário foi meu.
abraço
ola.fernando passo um bom tempo lendo sobre a produçao do filme.
mais nao estou aqui para falar sobre isso, porque sei do resultado final excelente. logico!
mas e para falar sobre os cursos de cinema desse pais. amo cinema quero trabalhar nessa area.so que e muito dificil porque sao poucas instituiçoes que oferece esse curso.ainda mais que estou no interior de sao paulo.ai complica mais! mais como amante da 7º arte nao vou desisitir. hehe
Curiosidade para saber como foi no Brasil.
É uma delícia ler sobre as filmagens.
Fernando, me diz que os carros pipas tinham agua do mar e não água potável... rs
A Alice braga faz a rapariga dos óculos escuros? Boa pedida, vou te dizer que fiquei um tiquinho triste de você fazer o filme com elenco americano, imagina a outra moral que você nos daria se o filme fosse 100% verde e amarelo? Com vc na direção e texto do Saramago por trás, não tem como ser menos que maravilhoso!
Mas não tem como ficar infeliz com a diva da Julianne Moore no pápel principal. Só ela já basta pra mim ;)
Você é simplesmente fofíssmo de compartilhar isso com a gente!!! Te vi na estréia do "Jardineiro Fiel" no Festival do Rio do ano retrasado e pude ver como você é uma graça. Que nem o seu post sobre carisma? É assim mesmo.
Aliás, saiba que eu já assisti "Jardineiro Fiel" umas 40 vezes (tenho o DVD). Magnífico trabalho que vc fez com a Rachel, que é outra diva. Quero ser ela quando crescer!
Beijos!
Eae Fernando, tipo ta muito legal o blog, da para acompanhar o sofrimento hehehe, mas vc escreve as coisas bem antes de postar não é?? porque tipo um dia você postou semana que vem Brasil, e deu dois dias e ja estavam filmando aqui...
E estou curioso para saber o que você vai falar, fiquei sabendo que teve até uma mulher que brigou com a produção falando que estava tudo sujo, hahaha....
Mas ta muito bom o blog...parabéns
MÚSICA CEGUEIRA
Fizemos uma música baseada no livro quem quiser conferir!!
tá ai o link só clicar e depois clicar em cima da música chamada CEGUEIRA..l
Banda FAN TOCH!
http://www.tramavirtual.com.br/fantoch
Veja nosso profile:
http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=11232329238403430833
LEMBRANDO QUE:
Todas As Musicas São Gravadas e Produzidas Pela Propria Banda...Por Esse Fato...Tem a Qualidade de Uma DEMO...
Espero q ouçam, banda FAN TOCH!
Abraços.
É por essas e outras coincidências...como a que quis que o roteiro de Ensaio sobre a Cegueira caísse justamente em suas mãos anos depois do seu desejo é que após desistir de citar a O2 e vc no meu TCC (Embora não tenha dispensado toda a história de Palace II a Cidade de Deus e Cidade dos Homens)... que vocês estarão filmando a grande obra derradeiramente nos dias que estarei em São Paulo em busca de entrevistas para o meu trabalho... vou procurar o set, garimpar São Paulo e tentar te entrevistar... topas? Me aguarde.. te aguardo!
Sou o Gabriel,um fã de seu trabalho.
Te admiro como pessoa,profissional e todo esse blá,blá,blá de sempre (desculpe pela falta de modos,mas não posso escrever muito.Meu irmão,neste momento,está atrás de mim,resmugando pra que eu desligue o computador para que ele possa dormir.
Sinceramente,estou adorando ler suas experiências,seus textos são ótimos.
Boa sorte nas filmagens,que tudo continue a ocorrer bem.E,como disse um amigo acima,avise os locais das filmagens,por favor.Adoraria dar uma olhada no trabalho da equipe toda,em Sampa.
Agora vou dormir.E sexta-feira alugarei O Jardineiro Fiel.
Adios,Fernando.
Se cuida,rapá (que intimade é essa?)!
OlÁ grande...
Estou com uma felicidade deliciosa, que começou a formigar quando descobri que está fazendo um filme que vai andar ali com o livro que eu de longe mais gostei de ler.
...E é vc cara ...é nosso, com todo respeito!!
...Sei que todos estão loucos por isso ... Mas seria muito ruim para seu trabalho divulgar um dia de gravação ... seria uma gostosura acompanhar todo esse trampo ...econlhida ao longe ! eheheh
Bom ... mas devo dizer que acompanhar daki tá muito bom também....
Cada dia conquista muitos e muitos fãs dessa obra que ainda tá no forno ...
Beijo grande ...
Graziella Farinazo
Além de tudo, vc ainda escreve MUITO bem. Saudade de vc, dos tempos do Olhar, da TV Gazeta, e muito lindo saber que seu filhote está tralhando com vc.Belê.
Merda aí, já que o tema do ultimo texto foi esse...
Senhor Meirelles, és o diretor mais sensível que ja ouvi dizer, sem dúvida Blindness será maravilhoso mas tome cuidado com temerosidade, saramago sempre diz q podemos arriscar.
Fernando,
Primeiro post que li, e achei muito bacana a forma como descreve os acontecimentos. Ah! Na boquinha da garrafa remix tá osso, né ?
auhauahuahuahauah...
Cara... você lê esses comentários?
Hehehe...
Tem bastante ein!
É o primeiro post que eu leio aqui. Parece interessante esse filme, nem sei muito sobre, mas estava a toa aqui e resolvi ler, acho que depois leio mais o diário. E vejo mais informações sobre esse filme.
Legal saber que você está filmando aqui em sampa. Vai dar uma passada na 31ª mostra? Até na estréia do Paulinia Magia do Cinema você apareceu né, ta ai um diretor que parece ser gente fina mesmo. Eu ainda sonho em fazer cinema sabe, Audiovisual na USP, por ser publica, mas ainda acho que não tenho o dom pra coisa não. Alguma idéia? Dica? Enfim...
Você e o Walter Salles são minhas inspirações nacionais.
Falando nisso. Tem algum projeto nacional por ai? Eu sei que eu devia pesquisar isso no bom e velho Google, mas já estou por aqui mesmo né. Hehehe. Então, deixa eu parar de escrever aqui vai. Não sei se você lê, mas se você ler isso vai ser uma boa perda de tempo. E, nossa, nem imagino eu, um Mr. Cellophane da vida, atrapalhando na vida de um cara que nem você. Hehe...
Boas filmagens, espero poder ver logo esse filme.
Falows...
muito boa a história do chocolate quente!!! ahahah
sinceridade como o comentário sobre a cena "fraquinha" são ótimos...
faz a gente se sentir pertinho de um set e ver que são pessoas reais com dúvidas reais...e que cinema é feito com erros e acertos nossos de cada dia!
EAE, Fernando eu sei que você deve ser um cara muito ocupado e tal...mas seria legal se você participasse de algum chat...poxa tem muita gente acompanhando seu blog querendo fala com vc eu acho que seria bem legal....
As filmagens devem estar terminando ja, né? será que vai demorar para sair um teaser trailer, um cartaz??
abraços, e deve estar ficando bom o filme, essa cena da chuva se for a que eu lembre( tenho que reler esse livro ) tem tudo para ser muito boa, e emocionante...
Como sempre, não dá para agradar gregos e troianos. Pois cá estou eu.
Acho que os post estão muito atrasados. Acho que a filmagem até terminou aqui em São Paulo e quem sabe o filme já não esteja pronto!
Mês passado quando lia aqui que as filmagens já tinham terminado no Canadá e que iriam partir para o Uruguai, na mesma semana lia no jornal que as filmagens já estavam sendo rodadas em São Paulo. E a informação é verídica, pois um amigo meu disse que estava passando pela Berrini e que estava tudo parado com alguns acidentes de carro. Dia seguinte saía a notícia no jornal.
Mesmo sabendo que está atrasado não fico um dia sem dar uma olhada aqui, para ver se há algo novo.
Pode chegar atrasado, mas o importante que venha da própria fonte. Isso é que faz todos os dias estarmos aqui!
Parabéns!!! (Pela filmagem, não pelo atraso). abs.
É melhor não ver do que ouvir "Na boquinha da garrafa".
já fico contente só com os seus posts sobre a filmagem. Imagino o que esse filme me fará sentir! Saramago brilhante!
Termina logo isso ai!!!
E obrigada por nos dar esse gostinho!
Muita sorte!
Abs,
Bruna
to adorando isso daqui!
quero logo saber como foram as filmagens na terrinha!
parabens pelo blog e pela maneira atenciosa como escreve.
Precisa de uma quase-jornalista-fazendo TCC aí? Pra dizer que tudo vai acabar bem, cantar umas modinhas, comprar um sal Eno? rs.
muito bom esse post... como todos os outros =D
sucesso, Fernando!
Quando li o Ensaio pela primeira vez também pensei que seria um bom filme, mas que a pobre equipe que aceitasse essa dor de cabeça sofreria um bocado.
É divertido saber como a tal dor de cabeça está se saindo bem menos dolorosa do que eu imaginei...
Boa sorte, Fernando
Maíra
Não vejo a hora de assistir o filme!
O livro eh maravilhoso...dispensa comentários...
Torcendo muitoooo pra que consiga realizar um ótimo trabalho Fernando!
Quero muito assistir o trabalho aqui em São Paulo!
Fui até Higienópolis, mas cheguei atrasada uma semana hahahaha
As descrições das filmagens estão ótimas...espero poder ver td isso de pertinho!
Diz os lugares das filmagens por favorrr! =D
Sucesso e muita sorte!
Um beijo!
Vocês já devem ter visto mas achei relevante. No post 5, quando você falou das oficinas, as várias experiências com os atores vendados me veio uns trabalhos que estão rolando na internet que passam sensações apenas com os sons. Bem interessantes.
São estes:
Este não é um vídeo é apenas o audio com uma tela parada:
http://www.youtube.com/watch?v=IUDTlvagjJA
O segundo é de um "viral da honda"
http://www.simviral.com/2007/07/h-algum-tempo-uns-3-meses-esse-udio.html
Acho interessante como apenas o som pode contar uma história tão complexa. Espero que goste. E contribua de alguma forma.
Sávio Marques
Mais uma vez agradeço sua iniciativa de me transportar para este mundo mágico do cinema.
É tão legal poder fingir que estou nos bastidores de um filme...
Quando ficar pronto, acredito que vou ver com outros olhos "Blindness". Pelo menos tentarei me lembrar das cenas e como elas foram produzidas.
Será algo inédito.
Bjs e boa sorte.
oi oi oi
Poderia ter vindo filmar em Osasco, bem perto e sem alfandega ;-P (nenhum produtor é de Ozzzzz) au revoir monsiuer
Tenho o costume de ler um livro e logo imaginá-lo nas telonas, no caso do genial Ensaio sobre a Cegueira eu imaginei que tratava-se de uma imagem fantasiosa minha, já que seria inviável realizar uma história daquelas visualmente como algo que escape da nossa recôndita imaginação e seja exibido mundo a fora. Bom, meu pensamento mudou, e sinto a necessidade de agradecer a você e aos realizadores do projeto pela ousadia e coragem até então, quanto ao resultado, tenho certeza que poderei elogiá-los depois de finalmente (estou muito ansiosa pra conferir), parabenizá-los!Adorei!!
FERNADO, UM EXEMPLO DE BRASILEIRO, QUE SE PREOCUPA EM PROPAGAR COM MUITA COMPETÊNCIA E DIGNIDADE A ARTE BRASILEIRA PARA O MUNDO.
GOSTARIA MUITO DE TRABALHAR CONTIGO UM DIA.
PARABÉNS E BOA SORTE!!!
LUH QUINTANS
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O “Ensaio sobre a Cegueira”
e o que a crítica não quis ver
– Enio Squeff –
Deve ser por uma espécie de obliteração visual – ou intelectual - quem sabe, que a crítica brasileira não se rendeu ao filme “Ensaio sobre a Cegueira”, do brasileiro Fernando Meirelles, baseado no romance homônimo do português José Saramago. O maestro Wilhelm Furtawaengler , na década de 30 do século XX, afirmava que a crítica nunca ia além do público, por ser em grande parte apenas e tão somente parte dele, ou mais que tudo, o seu espelho. Com efeito, Franz Kafka, com seus “O Processo” e “Metamorfose” só foi reconhecido quando alguns intelectuais se deram conta de que havia tudo de surreal, de “kafkiano” digamos, na vida cotidiana das cidades com suas regras irracionais, o esmagamento da individualidade e a falta de sentido no que a sociedade contemporânea elevou como dogma. Para dizer o óbvio em se tratando também de Kafka: as baratas tontas não se sabem à disposição do pé que pode triturá-las. São poucos, enfim, os que prevêem em qualquer ensaio sobre a cegueira um dos grandes diagnósticos, ou antes, a metáfora que, afinal, tornaria transparente a nossa relação com o mundo aparentemente luminoso da informação, e que seria o melhor do nosso século. Não espanta que a cegueira intelectual tenha muitos adeptos, mesmo entre banqueiros, como se está vendo. E que qualquer reflexão a respeito cause um pânico que normalmente convida à rejeição da sua existência como uma ameaça constante a nossas convicções.
Cegueira ou escapismo? Em determinados momentos as coisas parecem se confundir.
Na pintura “A parábola dos Cegos”, de Pieter Brueghel, o Velho (1520/30-1569), a cegueira é um preâmbulo da queda, de qualquer queda. Concebida por um artista que sempre se valeu das alegrorias, o cego que conduz os outros(como a confirmar o Evangelho), é o primeiro da fila a se estatelar: uma viola caída entre as suas pernas, é o único testemunho, algo patético, da sua atividade de músico. Fica a certeza de que a acuidade que lhe resta é a auditiva– um indício de que, afinal, nem tudo está perdido. Não por acaso, é essa também uma das características do filme de Meirelles – a cegueira branca que acomete as pessoas ( “toda a cegueira é branca” dizia o cego Jorge Luiz Borges), passa a ser compensada, em parte, pelos sons: o ouvido como compensação à visão. Ao contrário, porém, da tradição que canta os poetas cegos – o primeiro deles, Homero, teria como apanágio da sua introspecção, justamente a cegueira – no filme de Meirelles uma das poucas alternativas à sobrevivência do cego, não é só falar – é escutar. A questão, contudo, pode se definir numa outra consideração -e que consta do livro de Saramago: cabe ao não cego, ao vidente no sentido inclusive do visionário, do utópico, do que prediz o futuro, conduzir ao ordenamento do mundo. E não por acaso, certamente, o “rei” da terra dos cegos – aquele que, no fim das contas, tem olhos para ver (ainda que possa ser “caolho”, como no ditado popular, o que não é o caso) - só persiste como tal, não apenas por ter olhos, por estar na pele de uma mulher. Claro que se trata da solução de um cineasta que se cingiu aos contornos do romance, a uma reflexão que foi fiel a Saramago. Tanto no filme, quanto no romance, a mulher aparece como única solução viável ao mundo do caos. Talvez seja essa a contrariedade que o filme suscita: supõe-se que à falta de um macho, o protótipo do xerife, do super-herói americano a dar “porradas” e, na outra ponta, a lavar as sujeiras fisiológicas dos homens – tarefa a que as mulheres se dedicam já no trato com os nenéns – muitos críticos, ao que parece, fizeram eco aos norte-americanos. Não gostaram e pronto. É compreensível.
Num país, ideologicamente convencido, como nos Estados Unidos, de que, no cinema para as massas, as mulheres devem se travestir, têm de assumir os punhos poderosos, os ponta-pés especializados nas lutas orientais e em lutas em que as espadas mortíferas são brandidas como as dos samurais – que são sempre as armas dos homens, dos mais fortes fisicamente – vale muito pouco que o mundo feminino seja, no fundo, o vencedor. Afirmar, por aí, que a crítica brasileira imitou os norte-americanos pura e simplesmente, talvez seja apenas uma ilação apressada. Os especialistas têm sempre as boas razões que escapam aos leigos. A cegueira, porém, como sugerem o filme e o livro, é uma doença que se dá numa grande cidade – justamente em São Paulo. E isso parece não ter sido igualmente relevado.
Talvez seja esse o outro lado da questão. As filmagens externas se passam todas numa paulicéia facilmente reconhecível, até mesmo por quem não mora na cidade. As próprias cenas em que os cegos são submetidos à quarentena – uma espécie de hospício - não sugerem menos do que o inferno do Carandiru. E como vivemos no contraste do Brasil, há também os grandes apartamentos, as casas confortáveis que dão para aquela paisagem exuberante, mais que prazerosa dos arvoredos da região dos Jardins, vistos do alto. E há, finalmente, muito também do seu oposto, daquilo que somos na periferia, o que sugere o “panorama visto da ponte”, para recorrer ao título da famosa peça de Arthur Miller. Entre a pujança do horizonte aprazível de São Paulo, ou a degradação do Tietê, com suas águas estagnadas e as margens infectas e que confluem com as ferrovias da periferia, há o lugar para algumas cenas dantescas, coisas de cenaristas. Como constatava Mozart com sua incrível invenção que, inclusive, lhe provocava lágrimas quando escutava suas próprias composições, para um paulistano, a metamorfose a que o filme submete a cidade de São Paulo, deve arrepiar no sentido contrário ao prazer do compositor com a sua música: resta a interrogação angustiante, isto é, se não podemos chegar às ruínas que o filme mostra. Neste ponto, talvez não seja arriscada levantar a hipótese de que foi esse o outro problema para a crítica: é preferível, naturalmente, considerar a Gotan City do filme Batman, julgada pela mesma crítica muito melhor do que o filme brasileiro ( pelo menos é o que dizem as estrelinhas das cotações dos jornais), à alternativa requerível à cidade “dos cegos”(São Paulo) idealizada pelo cineasta. E que nos assusta, exatamente por a reconhecermos, não na sua ruína construída, deformada, que só o cinema pode engendrar – mas na sua degradação possível, previsível que só o pessimismo leva em conta.
Ao término da leitura de um de seus romances, Dostoievsky teve de acariciar as mãos de sua companheira, a guiza de consolo; ao lê-lo, ela mergulhou numa tal tristeza que foi difícil demovê-la de que o mundo, quem sabe, pudesse talvez ser menos trágico do que as invenções de um escritor. Quando escreveu algumas de suas sonatas, Beethoven não previu que certas pessoas iriam se desmanchar no choro: disse que compunha não para que as pessoas se derramassem em lágrimas, mas para que refletissem. Estima-se que nunca foi a intenção de José Saramago, ou de Fernando Meirelles sugerirem menos do que uma parábola. Nenhum dos dois deve ter se demorado na perspectiva que preside a idéia primitiva de que a cegueira pode ser, por exemplo, o tal atributo dos poetas. Homero cego, certamente justificava os seus poemas como conseqüência dos que se vêem mergulhados em sua própria interioridade. Inimaginável esse tipo de consideração nem em Saramago, muito menos em Brueghel, ou no cineasta brasileiro. Vem daí, porém, que a cegueira, como perda da capacidade de surpreender a evidência - que, por sua vez, tem a respaldá-la justamente o “ver”, o de conter em si a transparência, e que nasce do latim “videre” - passa a ser exatamente o contrário do que se imagina a grande contribuição da crítica.
O paradoxo, em suma, afigura-se todo esse: o filme “Ensaio sobre a Cegueira” deixa em aberto que, de fato, quase simploriamente, o maior cego é aquele que se recusa a ver. A pergunta que fica no ar, porém, é aquela que não fazemos: talvez não estejamos vendo pelas razões que a própria cegueira nos dá – de não termos como evidente de que estamos cegos. Fica, mesmo assim, a convicção de que São Paulo pode estimular esse tipo de raciocínio - que é a forma de não raciocinar, ou de se recusar a fazê-lo.
Na fita, a grande cidade se mostra pela ótica do que, contrariamente, talvez seja o que podemos denominar de “poética do horror”: nada de Batmans a cruzar os céus artificiais de uma cidade brumosa que assusta de mentirinha, por ser o ambiente de um “homem morcego”; ou de Super-Homens a salvar, no último momento, o próprio mundo. Quando as cidades mergulham no sem sentido de bolsas de valores, a se esfarinharem na predação do consumismo, ou a se diluírem sob bombas – não há mesmo esperança possível. Não há super-heróis que lhes valham. A não ser naquele que vê através do mundo escondido no branco, que tapa a vista à evidência. Explica-se, porém, desta forma, que o filme Batman seja considerado a grande realização cinematográfica para os grandes jornais: eles nos conformam, sabe-se lá, à cegueira circundante. Haveria, talvez, que falar sobre esse ir e vir do que é o filme de Meirelles: ele se propõe a discutir a cegueira, um tema que a cegueira espiritual teima em não fazê-lo.
Mas é apenas uma das especulações possíveis.
Em tempo: José Saramago viu o filme e confessou-se emocionado com a adaptação de Fernando Meirelles. Difícil dizer se a crítica cinematográfica de São Paulo ou do Brasil leu o livro de José Saramago. Quem o fez – embora essa não seja em momento algum uma exigência - muito dificilmente desqualifica o filme. No mais, noticia-se que uma associação de cegos americanas achou o filme “preconceituoso”. Talvez se possa falar de uma possível, mas até aqui inédita cegueira dupla.
Enio Squeff
enio@squeff.com
www.squeff.com
Outubro 2008
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